domingo, setembro 29, 2013

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"Deep down, I'm a pretty happy guy. Happiness is the relief of pain, they say, and so I guess I'm a pretty happy guy. The relief of pain happens to me pretty frequently. But then so does pain. That's why I get lots of that relief they talk about, and all that happiness."

(Martin Amis, Money)

sábado, setembro 28, 2013

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"Felizes aqueles que se abandonam ao sono sem temores, aqueles a quem o sono apenas traz doces sonhos."

(Bram Stoker, Drácula)

quinta-feira, setembro 26, 2013

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"Mas se a atitude de Herberto celebra a autonomia do campo literário e contesta a feira das vaidades, também suscita o paradoxo do «homem invisível», apresentado por João Pedro George no seu estudo O Que É Um Escritor Maldito? (Verbo, 2013). Escreve George: «Quando um poeta como Herberto Helder se nega conceder entrevistas e a deixar-se fotografar, preferindo a sombra e rejeitando todos os faustos públicos, tornando-se assim numa espécie de 'homem invisível'», então o escritor não está apenas a exercer «uma forma de protesto que pretende romper a dinâmica das trocas e das relações mundanas entre os agentes do meio literário»; na verdade, ele também aceita que se produza um efeito previsível que é o «fascínio»: como diz George, «não há culto mais puro e mais profundo que o culto por aquilo que não se conhece (não ter cara nem corpo é um princípio do divino)»."

(Pedro Mexia, Revista LER, Setembro 2013)

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O neoliberalismo prevalecente considera-se o futuro e diz que a esquerda é o passado. Sente-se quê, com tudo isto: ofendido, indignado?
- Nem ofendido, nem indignado. Todas as ideologias se consideram futuro e ai delas se não se considerassem. No caso do neoliberalismo trata-se de um simplismo defensivo dum comportamento político que vê a história a prazo imediato e que acha que uma sociedade pragmática e culturalmente invertebrada se pode prolongar por muito tempo.

(José Cardoso Pires, entrevistado por Artur Portela, em 1990)

José Cardoso Pires

Olhar atento
mão certeira.
No verbo sangue e tempo demorados
por muito amar
forte castiga
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(Maria Lúcia Lepecki, Os Meus Amigos)

domingo, setembro 22, 2013

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"Pesa-me como uma pata de violência a realidade da pessoa que somos. Há muita coisa a arrumar, a harmonizar, muita coisa ainda a morrer. Mas por enquanto está viva. Por enquanto sinto a evidência de que sou eu que me habito, de que vivo, de que sou uma entidade, uma presença total, uma necessidade do que existe, porque só há eu a existir, porque eu estou aqui, arre!, estou aqui, EU, este vulcão sem começo nem fim, só actividade, só estar sendo, EU, esta obscura e incandescente e fascinante e terrível presença que está atrás de tudo o que digo e faço e vejo – e onde se perde e esquece. EU! Ora este «eu» é para morrer. Morre como a intimidade de uma casa derrubada. Sei-o com a certeza do meu equilíbrio interior. Mas como é possível?"

(Virgílio Ferreira, Aparição)

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"Portanto, eu tinha um problema: justificar a vida em face da inverosimilhança da morte. E nunca mais até hoje eu soube inventar outro. De que poderia falar na conferência? Nada mais há na vida do que beber até ao fim o vinho da iluminação e renascer outra vez. Riqueza ou miséria, ciência, glória, vexame, e a política e até a arte para tantos artistas, conhecimento do homem no corpo e no espírito – quantos modos de esquecer ou de não saber ainda o pequeno problema fundamental. Mas o que é extraordinário e me exaspera é que eu próprio tenha precisado de uma vida inteira para o saber. E quantas vezes agora o esqueço? O mais forte em nós é esta voz mineral, de fósseis, de pedras, de esquecimento. Ela germina no homem e faz-lhe pedras de tudo. Assim, quando procuro em mim a face original da minha presença no mundo, o que descubro não é o alarme da evidência, o prodígio angustioso da minha condição: o que descubro quase sempre é a indiferença bruta de uma coisa entre coisas. Eis-me aqui escrevendo pela noite fora, devastado de Inverno. Eis-me procurando a verdade primitiva de mim, verdade não contaminada ainda da indiferença. Mas onde esse sobressalto de um homem jogado à vida no acaso infinitesimal do universo? Se meu pai não tivesse conhecido minha mãe; se há cem anos, há mil anos, há milhares e milhares de anos um certo homem não tivesse conhecido certa mulher; se… Nesta cadeia de biliões e biliões de acasos, eis que um homem surge à face da Terra, elo perdido entre a infinidade de elos, de encruzilhadas – e esse homem sou eu…

E todavia, agora que me descubro vivo, agora que me penso, me sinto, me projecto nesta noite de vento, de estrelas, agora que me sei desde uma distância infinita, me reconheço não limitado por nada mas presente a mim próprio como se fosse o próprio mundo que sou eu, agora nada entendo da minha contingência. Como pensar que «eu poderia não existir»? Quando digo «eu», já estou vivo… Como entender que esta iluminação que sou eu, esta evidência axiomática que é a minha presença a mim próprio, esta fulguração sem princípio que é eu estar sendo, como entender que pudesse «não existir»? Como pensar que é nada? A minha vida é eterna porque é só a presença dela a si própria, é a sua evidente necessidade, é ser eu, EU, esta brutal iluminação de mim e do mundo, puro acto de me ver em mim, este SER que irradia desde o seu mais longínquo jacto de aparição, este SER-SER que me fascina e às vezes me angustia de terror… E todavia eu sei que «isto» nasceu para o silêncio sem fim…"

(Virgílio Ferreira, Aparição)

sábado, setembro 21, 2013

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"Sempre tive a maior dúvida a respeito de mim mesmo, nunca tive a certeza de ser eu."

(David Mourão-Ferreira)

quinta-feira, setembro 19, 2013

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"Este é um bilhete de suicídio. Quando o puserem de lado (e deverão sempre ler estas coisas devagar, em busca de pistas ou indícios), John Self não existirá mais. Ou em todo o caso é essa a ideia. Nunca se sabe, porém, com os bilhetes de suicídio, não é? No agregado planetário de toda a vida, há muito mais bilhetes de suicídio do que suicídios. Sob esse aspeto são como poemas, os bilhetes de suicídio: quase toda a gente experimenta manejá-los a certa altura, com ou sem talento. Todos nós os escrevemos dentro das nossas cabeças. Normalmente o bilhete é que interessa. Completamo-lo, e depois retoma-se a viagem no tempo. É o bilhete e não a vida que fica cancelado. Ou ao contrário. Ou a morte. Nunca se sabe, porém, não é, com os bilhetes de suicídio. A quem é dirigido o bilhete? A Martina, a Fielding, a Vera, a Alec, a Selina, a Barry - a John Self? Não. É dirigido a vocês que por aí andam, os queridos, os gentis."

(Martin Amis, Dinheiro)

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"A alienação do espectador em proveito do objecto contemplado (que é o resultado da sua própria actividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive."

(Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo)

sábado, setembro 14, 2013

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"Para mim, o doutor Cavaco Silva é uma pessoa altamente odiosa devido a essa arrogância toda que tem. É um homem que, se não tivesse sido o 25 de Abril, seria um mediano professor de Economia, um funcionário do Banco de Portugal, que nem teria chegado, por exemplo, a governador desse Banco. Sob certos aspectos, para mim, uma pessoa como o Cavaco Silva é pior que o Salazar, porque tem as mesmas ambições autocráticas, só que não as assume. O Salazar detestava a democracia, não jogava o jogo democrático, por consequência nós sabíamos em que lugar é que ele estava. O Cavaco, e os 'cavaquinhos', e os 'cavacotes', e os 'cavacotos' e toda essa 'cavacada' que para aí há são 'salazarinhos', 'salazarescos','salazarotes' que fingem jogar o jogo democrático."

(David Mourão-Ferreira, em entrevista a Graziana Somai, 1993)