terça-feira, novembro 30, 2010

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"As pessoas tomam toda esta comédia por qualquer coisa de muito sério, mesmo as que são dotadas de um intelecto a toda a prova. É nisso que reside a tragédia delas. E sofrem, é claro, mas... em compensação, vivem, vivem realmente e não ilusoriamente, porque a vida é isso mesmo: sofrimento. Sem sofrimento, que graça teria a vida? Tudo se transformaria num infinito Te Deum: isso é coisa santa, mas um pouco enfadonha. (Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)

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"Nos sonhos, e especialmente nos pesadelos, causados por, digamos, desarranjos estomacais, ou por qualquer outra coisa, o homem por vezes vê coisas tão artísticas, vê uma realidade tão complexa e verosímil, acontecimentos, ou mesmo séries completas de acontecimentos com um enredo a ligá-los e com pormenores tão inesperados, desde as vossas manifestações mais sublimes até ao mero botão de punho, que nem o próprio Lev Tolstói, juro-te, seria capaz de inventar."
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)

sexta-feira, novembro 26, 2010

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Passo a vida a sonhar outros mundos, e, por vezes, sonho mundos em que me encontro a sonhar este...

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"Congrego os fantasmas dos velhos piratas em torno do silêncio... Solto as amarras da eterna solidão, firmo as mãos calejadas no leme, sem prender, e derramo na imensidão do horizonte as mais íntimas perplexidades. Acordo a manhã funda com um grito: "Mar à vista! Mar à vista!" Sou dono do porvir, mestre dos ventos e senhor das tempestades..."
(Manuel Albernoa)

sexta-feira, novembro 19, 2010

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‎"Não basta possuí-la. Quero que ela se me abandone."
(Pierre-Ambrose Choderlos de Laclos, As ligações perigosas)

quinta-feira, novembro 18, 2010

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"Há dias em que tudo o que vejo me parece pleno de significado: mensagens que me seria difícil comunicar a outros, definir, traduzir por palavras, mas que precisamente por isso se me apresentam como decisivas. São anúncios ou presságios que me dizem respeito a mim mesmo e ao mundo ao mesmo tempo: e de mim, não os acontecimentos exteriores da existência mas o que acontece cá dentro, no fundo; e do mundo não um facto singular qualquer mas o modo de ser geral de tudo." (Italo Calvino, Se numa noite de Inverno um viajante)

quarta-feira, novembro 17, 2010

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"Na concreção que se formava, a ansiedade tornava-se mais febril, mais exigente, mais confiada de si mesma, e era como se eu, não sabendo de mim, não desejando nada, não pensando em nada, nunca me tivesse sentido tão duramente lúcido." (Jorge de Sena, Sinais de Fogo)

terça-feira, novembro 09, 2010

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"The one thing that a fish can never find is water." (Eric Butterworth)

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"There is something curiously boring about somebody else's happiness." (Aldous Huxley)

segunda-feira, novembro 08, 2010

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"Em geral não se imagina Platão e Aristóteles senão com grandes togas e como personagens sempre sérias e graves. Eram pessoas cortezes, que se riam como os outros e com os seus amigos: e quando fizeram as suas leis e os seus tratados de política foi a brincar e para se divertirem. Era a parte menos filosófica e menos séria da sua vida. A mais filosófica era viver simples e tranquilamente." (Pascal, em Livro dos Amigos, de Hugo Von Hofmannsthal)

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"Se o meu tempo me contesta,
Sereno o hei-de aceitar,
Que eu doutros tempos já venho
E espero a outros chegar."

(Franz Grillparzer)

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"O caminho do desmedido conduz ao palácio da sabedoria."
(William Blake)

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"Para quem pensa, a própria morte não é uma coisa tão séria como o casamento." (W. J. Landor)

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"O poeta nunca está inteiramente absorto nos seus pensamentos. O técnico está sempre." (Addison)

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"No carácter de cada pessoa há qualquer coisa que não se pode quebrar - a ossatura do carácter; e querer mudar isto significa sempre ensinar uma ovelha a ir buscar caça." (Lichtenberg, em Livro dos Amigos, de Hugo Von Hofmannsthal)

quinta-feira, novembro 04, 2010

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"Se eu tive um destino singular, na modéstia que todos temos um único, original e nosso, muito nosso e apenas isso, mas repito: se, em comparação com muita gente que me rodeia, lhe posso ainda, aqui comigo e nas histórias lendárias ou veras que de mim contam (algumas tenho ouvido, espantado sem acreditar; doutras nem já me lembrava mas foram mesmo), esse meu destino, é singular, porque será? Interrogo (-me) e não sou capaz, não lhe (me) sei responder. A doença em pequeno? a devoradora leitura, alargando uma imaginação já de si exagerada, neurótica? uma degenerscência familiar de que fiz bastante para me salvaguardar, procurando outros rumos, novos projectos, caras felizes? um acentuado pendor para a contradição ou atenção crítica que começa no querer ver como é, saber ouvir, ler muito e variado, e desconfiando sempre? Porque desconfio, duvido, amontoando hipóteses, alterando dados na aparência irrefutáveis e, em frieza quase absoluta, distinguindo os meus sentimentos ternos pelas pessoas da análise implacável do que elas são ou de como as queria? e repelindo-as ou chegando-me a elas, na convivência forçada ou fascinante que temos de aceitar com o Outro?

Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo?
Ou fui sempre"

(Luiz Pacheco, Uma Admirável Droga)