sexta-feira, novembro 28, 2014

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Estava a palavra classe a descansar em plano inclinado, quando o c escorregou: dasse!

quarta-feira, novembro 26, 2014

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"Sem as pequeninas hipocrisias mútuas, tornar-nos-íamos intoleráveis uns para os outros."

(Emanuel Wertheimer)

sábado, novembro 22, 2014

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"There are lots of ways of being miserable, but there’s only one way of being comfortable, and that is to stop running round after happiness. If you make up your mind not to be happy there’s no reason why you shouldn’t have a fairly good time."

(Edith Wharton, Ethan Frome and Other Short Fiction)

quarta-feira, novembro 19, 2014

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"O mundo está cheio de livros fantásticos que ninguém lê."

(Umberto Eco)

sábado, novembro 15, 2014

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"[...] Nunca estive tão longe e tão perto de tudo.
Só me faltavas tu para me faltar tudo,
as palavras e o silêncio, sobretudo este."

(Manuel António Pina)

quinta-feira, novembro 06, 2014

OS GATOS NÃO TÊM VERTIGENS

MAS QUANDO ARRANHAM DÓI COMO O CAR$%&#

Caro António-Pedro Vasconcelos,

"São as circunstâncias que governam os homens, e não os homens que governam as circunstâncias”, terá escrito Heródoto. Pois bem: foram então as circunstâncias que determinaram que este homem, que aqui se lhe dirige, se tenha sentado numa sala de cinema para assistir ao seu mais recente filme (se assim o posso designar).

"Os gatos não têm vertigens” é uma interminável sequência de lugares-comuns, fabricada com a aparente e quiçá meritória preocupação de que o espectador nunca se distraia e nunca se perca no caminho de uns para os outros, cuidando que o mesmo nunca seja confrontado com nada, praticamente nada, que o possa levar a envolver-se em actividades indesejáveis e desnecessárias como pensar. Levado ao extremo, é assim como se o meu caro quisesse, depois de nos apresentar uma estrada plana, sem curvas, ausente de perigos e surpresas, propor-nos ainda: “venham comigo por aqui, e não se preocupem, que eu levo-vos ao colo”.

Pois, comigo, devo dizer-lhe que não resultou, e posso explicar-lhe porquê…

Ao longo do seu filme, e como deve imaginar, fui sendo consecutivamente agredido por “clichês” grosseiros e corpulentos, que me foram violentamente empurrando para fora da história (e eu tentava permanecer, eu tentava...). A determinada altura, sentindo-me já um pouco mal tratado, fruto de tanto murro, pontapé e cabeçada, não tive outra hipótese se não recorrer àquilo que o António-Pedro tanto se esforçou por que ficasse de fora desta nossa experiência: o meu pensamento. O problema é que, ao invés de convocar a razão para analisar aquilo que o seu filme me ia dando a conhecer, fi-lo por um questão de sobrevivência, numa tentativa de encontrar a melhor forma de me defender do ‘bullying’ cinematográfico de que me sentia estar a ser vítima: “não posso levar com mais nenhum ‘clichê’ desta envergadura em cima, ou vou acabar por sair daqui feito num oito”, pensei. “Já percebi por onde o homem me quer levar, e está visto que o vai fazer à bruta; pois a mim já não me apanha desprevenido".

Vivi então alguns momentos de tranquilidade, ancorado na previsibilidade do enredo fácil que o António-Pedro continuava a desenrolar sem pejo.

Mas a verdade é que a serenidade não durou muito. Aos poucos, esta foi dando lugar à perplexidade, que por sua vez se foi transformando em incredulidade. "Mas tu queres ver que o tipo vai mesmo pôr o livro do puto a ser publicado!? Não!? A sério!? Não acredito...”

E eis que o meu caro torna a aparecer no filme, desta feita sentado atrás de uma secretária, vestindo a pele do editor capaz de reconhecer o engenho e a arte (ou simplesmente pagando dívidas antigas), e faz então entrar a sua jovem colaboradora, responsável pela área dos novos talentos…

Sou-lhe sincero: já me tinha rido por diversas vezes ao longo do filme, à medida que ia recebendo as confirmações sucessivas de que o senhor não tinha vergonha nenhuma em abusar declaradamente do estereótipo, mas quando o plano nos mostra o rosto da rapariga, e com ele a mais do que óbvia promessa de amor, símbolo derradeiro da tão ansiada redenção do herói, foi a primeira vez que a minha sonora gargalhada ecoou verdadeiramente solta pelo interior da sala (praticamente vazia, diga-se: talvez porque jogava o seu Benfica)…

Depois desse momento, agora o sei, já nada havia a fazer: perdeu-se o siso e instalou-se o riso. Frame após frame, fui-me descontrolando progressivamente. Cada cena era como que uma explosão que me atirava para o lugar da histeria: o convite da velha para jantar, a miúda que lia o banal texto do puto que “sonhava com mamas”, etc., etc., etc... A excitação tomava conta de mim, e as gargalhadas, impossíveis de conter, transbordavam livremente, indo ao encontro da plateia que o António-Pedro, imagino, continuava heroicamente a tentar levar ao colo...

Não lhe sei dizer há quanto tempo não via um filme tão fraco, tão condescendente com o público, nem há quanto tempo não me levantava e abandonava uma sala antes da cena final. Mas sei o seguinte: nunca, até hoje, tinha fugido do cinema em desespero por ser incapaz de conter um grotesco e incontrolável ataque de riso. Foi uma estreia, lá isso foi…

Atenciosamente,

Filipe Feio

P. S. - Esta coisa que o António-Pedro decidiu filmar não merecia ter sido financiada, nem tão pouco merecia a Maria do Céu Guerra...

terça-feira, outubro 21, 2014

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"Sem fé, ouso pensar a vida como uma errância absurda a caminho da morte, certa. Não me coube em herança qualquer deus, nem ponto fixo sobre a terra de onde algum pudesse ver-me."

(Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer)

segunda-feira, outubro 20, 2014

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"Nunca fui excessivamente infeliz - porque não tenho imaginação: não me consumia, rondando e almejando em torno de paraísos fictícios, nascidos da minha própria alma desejosa como nuvens da evaporação d'um lago."

(Eça de Queiroz, O Mandarim)

quinta-feira, outubro 16, 2014

IDIOTIA & FELICIDADE

Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor?

Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.

Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.

Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.

O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.

Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.

Oremos.

Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

(Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim)

EXAGEROS

O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:
- Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento.
Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.

(Mário-Henrique Leiria, Novos Contos do Gin)

sexta-feira, outubro 10, 2014

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Dedicatória encontrada no interior de uma edição argentina de 1974 de La Sustancia del Zen, de Paul Wienpahl: "Ao meu amigo Silva Correia para que não se preocupe com as coisas deste mundo. Abreu (?)"

Sempre gostava de saber com que coisas de que outro mundo desejava o Abreu que o seu amigo se preocupasse...

quarta-feira, outubro 08, 2014

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Dois mosquitos presos no âmbar
Viveram felizes para sempre.

(Rui Manuel Amaral)

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Eu ainda sou do tempo em que só a mulher podia engravidar. Mas o progresso não cessa de me espantar: hoje, quem engravida é o casal. "Estamos grávidos", dizem-me. E eu escondo a náusea por detrás de um sorriso...

quinta-feira, outubro 02, 2014

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Tenho algo para dizer aos pais de crianças índigo e cristal. Se tiverem interesse em saber o que é, e uma vez que tenho esse canal à disposição, vou agora enviar a mensagem telepaticamente para os vossos filhos. Abraços e até depois...

sábado, setembro 20, 2014

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"Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontram."

(André Gide)

segunda-feira, setembro 15, 2014

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"Eu prefiro o absurdo de escrever poemas
ao absurdo de não escrever poemas."

(Wislawa Szymborska)

sexta-feira, setembro 12, 2014

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"Para aqueles que pensam, nada é sagrado."

(Wislawa Szymborska)

quinta-feira, agosto 28, 2014

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"Gould tem em fraca conta a maior parte dos escritores, poetas, pintores e escultores da Village, e não se inibe de o dizer. Como resultado de tal franqueza, nunca foi admitido como membro de nenhuma organização nem nenhum ismo artístico, literário ou cultural. Há dez anos que tenta entrar para o Raven Poetry Circle, que organiza todos os verões uma mostra de poesia em Washington Square e é a organização mais influente do género na Village, mas tem sido sempre recusado. [...] «Permitimos ao Sr. Gould assistir às nossas sessões, e gostaríamos de o poder deixar entrar para membro, mas realmente não é possível», explicou uma vez o Sr. McCrudden. «Não leva a poesia a sério. Costumamos servir vinho nas nossas sessões, e essa é a única razão por que lá vai. Às vezes insiste em ler uns poemas absurdos escritos por ele, que nos fazem perder a paciência. Na nossa Noite de Poesia Religiosa pediu autorização para recitar um poema que tinha escrito intitulado 'A Minha Religião'. Disse-lhe que sim e o que ele recitou foi:

No Inverno sou budista,
E no Verão sou nudista.

E na nossa Noite de Poesia da Natureza pediu para recitar um poema dele intitulado Gaivota. Dei-lhe autorização, e ele levantou-se da cadeira e desatou a bater os braços, aos saltos e a gritar Scriiic! Scriiic! Scriiic! Era uma coisa aflitiva. Somos poetas sérios e não achamos bem este tipo de comportamentos.»"

(Joseph Mitchell, O Segredo de Joe Gould)

terça-feira, agosto 26, 2014

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"Um dia em que passeava pelas suas terras, em companhia de um primo, o velho Hafez - que tinha na altura os seus cinquenta anos - parou no meio dum campo e divisou uma forma escura no alto de um outeiro. O objecto estava bastante afastado e nem ele nem o primo podiam dizer exactamente o que aquilo era. «É uma cabra», declarou de rompante o velho Hafez. «É um milhafre», respondeu o primo. O velho Hafez chamou-lhe cego e persistiu na sua ideia. Daí a pouco, estando eles ainda a discutir, o objecto do litígio levantou voo, sumindo-se no horizonte. «Estás a ver que era um milhafre?», exclamou logo o primo, triunfante. O velho Hafez, porém, sem a menor perturbação, retorquiu: «Era uma cabra, mesmo que tenha levantado voo»."

(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)

segunda-feira, agosto 18, 2014

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"I am too fond of reading books to care to write them, Mr. Erskine."

(Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)