"Quando chegou o dia em que fui obrigado a pronunciar-me sobre a profissão que escolhia, porque meu pai mo perguntava, respondi:
- Quero ser vendedor de sementes!
Meu pai disse que vendedor de sementes não era um ofício: ofício era ser carpinteiro, mecânico ou padeiro. Mas, como eu insistisse, meu pai acrescentou:
- Vendedor de sementes é um ofício de vagabundo!
Apeteceu-me responder-lhe que não conseguia submeter-me à ideia de passar o dia fechado num laboratório ou numa oficina. Mas tive medo das pesadas mãos de operário de meu pai, que me acertavam entre o pescoço e o cerebelo. Ele começava já a ficar zangado e repreendia minha mãe por me ter dado tão má educação.
- Este filho tem alma de vagabundo - dizia-lhe. - Não conseguiremos dele nada de bom!
Por isso calei as minhas razões. [...]
Eu era um rapaz de doze anos e gostaria de lhe ter dito:
- Sabes, papá, há sol quando estás na oficina. A água do rio é verde, os tremoços dourados, e as sementes de Misirizzi fazem faísca. Eu não posso passar sem isto, sem a minha liberdade.
Mas foi meu pai, afinal, quem me disse:
- Deves aprender um ofício. Trabalhar a sério distrai. Aprende-se muito mais do que um ofício: qualquer coisa de diferente, de forte. Um vendedor de sementes, quando fores grande, vai parecer-te também a ti um vagabundo, um homem que não teve a coragem do seu verdadeiro nome.
Pronto, papá, eu sou grande e nem mesmo hoje os poetas têm um nome."
(Vasco Pratolini, Ofício de Vagabundo)
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