sexta-feira, abril 20, 2012

...

"E depois, tentando deixar-me ainda mais enterrado, dizia-me que a luta contra a dispersão era o motivo mais oculto do coleccionista, e que eu, com o meu arquivo, tentava corrigir essa dispersão, mas, lamentavelmente, continuava a andar disperso, direito ao desastre. O meu filme é ambicioso, e podia ao menos deixar-me prepará-lo, dizia-lhe eu. O teu filme é a ideia de um louco, respondia-me ele, fazes-me lembrar um homem que conheci em Nova Iorque, que queria escrever tudo, tudo o que ouvisse a rua, não importava que fosse chato, néscio ou vulgar o que registasse, queria escrever tudo, era um grande maluco. Não sei, dizia-lhe eu, não sei quem era esse homem, mas sei que quero filmar todos os fracassos do mundo, todos. Mas se, na realidade, dizia-me ele, isso apenas demonstra que não sabes o que queres, embarcas numa coisa interminável para assim não teres de concluir nada, nuna vi niguém mais inconsciente, mais caprichoso." (Enrique Vila-Matas, Ar de Dylan)

Sem comentários: