"[...] a morte nada é, pois todo o bem e todo o mal residem na sensação, e a morte é a erradicação das sensações. Por conseguinte, a adequada tomada de consciência de que a morte nada tem a ver connosco faz com que o carácter mortal da vida não provoque cuidados: não concedendo-lhe uma duração infinita, mas suprimindo-lhe o desejo de imortalidade. Nada há de temível na vida, para quem está verdadeiramente consciente de que nada existe também de terrível em não viver.
Estúpido é pois aquele que afirma ter medo da morte não porque sofrerá ao morrer mas por sofrer com a ideia de que ela há-de chegar. É verdadeiramente em vão que se sofre por esperar qualquer coisa que não nos causa qualquer perturbação! Assim, o mais temível dos males, a morte, nada tem a ver connosco: quando somos, a morte não é, e quando a morte é, somos nós que já não existimos! Ela não tem qualquer relação nem com os vivos nem com os mortos, pois para uns ainda não é, e os outros já não são. E, no entanto, a multidão foge da morte como se ela fosse quer a maior das infelicidades quer o ponto final nas coisas da vida.
O sábio, pelo contrário, não teme já não estar vivo: viver não lhe pesa sem que por isso ache que é um mal não viver. Tal como não escolhe nunca a alimentação mais abundante mas a mais agradável, assim também não procura o tempo mais longo de vida mas o mais agradável."
(Epicuro, Carta sobre a Felicidade)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário