Queria estar em ti
despido de todas
as cores berrantes
que tornam grotescos e falsos
os gestos dos homens.
Queria chegar a ti
liberto de mitos e de miragens,
apenas com a pureza
do anseio de nunca mais esconder
a cobardia
e a inata mesquinhez
que me atraiçoa até quando digo que amo.
Queria estar contigo
inteiramente nu, como um abeto
que recebe a neve nos ramos
e na seiva o frio
do desengano que te punge
e te faz receoso e miserável.
Queria, povo,
fundir-me contigo
neste inverno que fura há tanto.
Ser um abeto entre abetos
de raízes entreligadas
e em nós abrir-se um incêndio
e tornar-se grito de combate
a força estiolada e dispersa
que nos resta.
(Félix Cucurull, Vida Terrena)
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