Quando foi descoberto, Miguel Macedo defendeu-se alegando estar a receber o subsídio de alojamento ao abrigo da lei. Quando, numa questão de ética, se recorre ao escudo da legalidade, está tudo dito... Altere-se a lei, para que a mesma, quando devidamente aplicada, possa defender o País de indivíduos ccmo este, bandidos sem escrúpulos nem carácter...
Entretanto, eis que o ministro da Administração Interna teve a lata de vir dizer, de forma absolutamente arrogante e profundamente hipócrita, ventindo a pele da seriedade ofendida, que abdica de uma coisa que é sua por direito, apenas porque não quer perder "um minuto" da sua atenção. Ouviram bem? Sócios, ele renuncia porque quer estar "concentrado" naquilo que tem para fazer.
Ou seja, atribui a esta "polémica", como a designa, e àquilo em que a mesma se funda, um cariz perfeitamente irrelevante: para ele, não passa de uma distracção. O tipo vai renunciar, sim, mas não julguem que o faz porque se trata de algo eticamente reprovável. Não... Vai renunciar, mas para não se desconcentrar daquilo que, porventura, considera essencial. Ah pois: porque isto de aproveitar um vazio legal para roubar os portugueses não passa de uma coisa meramente acessória, de uma minudência, de uma distracçãozinha. Mas que mal tem pôr os portugueses a pagar 1400 euros por mês para que o dito senhor possa habitar a sua própria casa? Hum?
Enfim, só isto já seria suficiente para que, num país decente, o homem fosse afastado por quem de direito (já que o senhor não tem a decência de tomar a decisão de se demitir). Mas a história não termina aqui...
José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades (outro que estava na mesma situação), optou também por prescindir do subsídio de alojamento a que tinha direito. Segundo fonte da Secretaria de Estado, "decidiu abdicar do subsídio para não introduzir qualquer tipo de ruído na gestão política da secretaria de Estado que tutela". Aqui, aproveito para citar o Aventar:
"É em momentos destes que descubro que, afinal, perífrase é frase mas no mau sentido, tal como eufemismo é uma treta codificada. O que José Cesário poderia ter dito, se estivesse minimamente interessado em parecer uma pessoa séria, seria qualquer coisa como: 'Um subsídio como este só faria sentido se pudesse ser aplicado a qualquer funcionário público que fosse obrigado a trabalhar longe da sua residência oficial, sendo obrigado a pagar alojamento perto do local de trabalho. Como eu ganho mais do que a maioria dos funcionários públicos e, ainda por cima, possuo uma segunda casa na cidade em que, agora, trabalho, é imoral receber esse subsídio, ainda para mais num país em dificuldades financeiras'."
Mas esta triste comédia não poderia chegar ao fim sem a participação de Aguiar Branco. O ministro da Defesa Nacional vai renunciar também ao subsídio, apesar de, ao contrário dos outros dois, "não ter casa própria em Lisboa." E porquê? Confesso que já tenho medo de perguntar... Será porque estamos a viver tempos difíceis, dos tais sacrifícios, e o abastado senhor deseja contribuir para o esforço que é exigido aos portugueses? Não! Pasme-se: "em solidariedade com os outros membros do governo". Mas será mesmo esta a razão? Acontece que o ministro da Defesa pode, se assim o desejar, utilizar o Forte de São Julião da Barra, sua Residência Oficial. Assim sendo, que sentido faz ter acesso ao subsídio se tem uma habitação à sua disposição? Será legal? Imoral é certamente: "Passos, não gosto muito do Forte, vou antes alugar uma casa. Mete o meu nome no despacho. Mil euros mensais, ok? Ou comem todos, ou há moralidade."
Assim vai este lamaçal. Que miséria...
[Fundamentos para a indignação: Indignados Lisboa!]
segunda-feira, outubro 24, 2011
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