"Na medida em que, para São Paulo, 'morte' e 'vida' designam designam as duas posições existenciais (subjectivas) e não factos 'objectivos', não será inteiramente justificado colocar de novo a questão paulina: quem está hoje verdadeiramente vivo?
E se estar realmente vivo se resumisse hoje à busca de uma intensidade excessiva que nos ponha em contacto com um para-além da 'simples vida'? E se, quando nos agarramos à sobrevivência, mesmo que isso seja considerado como 'passar uns bons tempos', estivermos afinal a perder a própria vida?
[...] O propósito de todos estes comportamentos rituais não visará precisamente impedir a 'Coisa' de acontecer - essa 'Coisa' sendo o próprio excesso de vida? A catástrofe que ele ou ela teme não é, afinal, que lhe aconteça realmente qualquer coisa? [...]
Será então um paradoxo caracteristicamente nietzschiano dizer que o grande perdedor da afirmação aparente da vida contra qualquer causa transcendente seja a vida real? O que torna a vida digna de ser vivida é o próprio excesso da vida: a consciência de que existe qualquer coisa pela qual estamos dispotos a arriscar a vida (podemos chamar a esse excesso 'liberdade', 'honra', 'dignidade', 'autonomia', etc.). Só estamos realmente vivos se estivermos prontos a correr esse risco." (Slavoj Žižek, Bem-vindo ao Deserto do Real)
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