terça-feira, janeiro 31, 2012

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

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"Obama's most 'historic' achievement is to bring the war on democracy home to America. On New Year's Eve, he signed the National Defence Authorisation Act, a law that grants the Pentagon the legal right to kidnap both foreigners and US citizens secretly and indefinitely detain, interrogate and torture, or even kill them. They need only 'associate' with those 'belligerent' to the US. There will be no protection of law, no trial, no legal representation. This is the first explicit legislation to abolish habeas corpus (the right to due process of law) and, in effect, repeal the Bill of Rights of 1789." (The war on democracy, de John Pilger)


segunda-feira, janeiro 30, 2012

VIII

A televisão
contribuiu muito para a minha educação
nas horas mais ingratas
da contra-revolução.

Ensinou-me sobretudo
a aguçar o gosto de usar gravatas
de seda e de veludo
- para enforcar a imaginação.

(José Gomes Ferreira, Termidor Errado)

quinta-feira, janeiro 26, 2012

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"A verdade, não tardaria em sabê-lo, é que a liberdade pessoal e o sossego se pagam em solidão, tributo o mais pesado. Por contraditório que pareça, só a presença de outros seres humanos acorda em nós as reacções que nos forçam a pensar, a mobilizar os conhecimentos, e a agir. Isto explica como é que nunca consegui viver sozinho nem longe - duas coisas que desejava ardentemente. E também porque nunca fui feliz na companhia de ninguém, nem tornei felizes senão aqueles que, de mim, só conhecem as aparências." (José Rodrigues Miguéis, Léah)

quarta-feira, janeiro 11, 2012

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"Ao cabo de nove ou dez noites compreendeu com certa amargura que nada podia esperar dos alunos que aceitavam passivamente a sua doutrina, mas sim dos que arriscavam, às vezes, uma contradição razoável." (Jorge Luis Borges, Ficções)

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"Uma das escolas de Tlön chega a negar o tempo: raciocina que o presente é indefinido, que o futuro não tem realidade senão como esperança presente, e que o passado não tem realidade senão como recordação presente (1). Outra escola declara que já decorreu todo o tempo e que a nossa vida é apenas a lembrança ou reflexo crepuscular, e sem dúvida falseado e mutilado, de um processo irrecuperável. Outra, que a história do universo - e nela as nossas vidas e o pormenor mais ténue das nossas vidas - é a escrita que produz um deus subalterno para se entender com um demónio. Outra, que o universo é comparável a essas criptografias em que não valem todos os símbolos e que só é verdade o que sucede de trezentas em trezentas noites. Outra, que enquanto dormimos aqui, estamos acordados noutro lado e que assim cada homem é dois homens.

(1) Russel (The Analysis of Mind, 1921, página 159) supõe que o planeta foi criado há poucos minutos, provido de uma humanidade que 'recorda' um passado ilusório."

(Jorge Luis Borges, Ficções)

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"O meu pai estreitara com ele (o verbo é excessivo) uma dessas amizades inglesas que começam por excluir as confidências e que muito em breve omitem o diálogo." (Jorge Luis Borges, Ficções)

sexta-feira, janeiro 06, 2012

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- Que significa para si o amor?
- Não significa nada, quando quero que signifique. Como o tempo para Stº Agostinho, só sei o que quer dizer, quando mo não perguntam.

(Vergílio Ferreira, Um Escritor Apresenta-se)

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"A questão da ilusão do sujeito é uma questão do tipo da ilusão da liberdade, que foi enunciada por vários pensadores, nomeadamente or Espinosa. Não vou dissertar sobre o assunto, mas queria dizer-lhe o seguinte: pelo simples facto de uma pessoa se interrogar sobre se é livre, manifestou já que é livre. A liberdade para o homem assenta, para mim, fundamentalmente nisto, nessa pequena fissura, nessa pequena fenda que separa o acto do homem da reflexão sobre ele. Quer dizer, essa pequena separação do homem consigo é que me dá a primeira, e a última talvez, base para a afirmação da liberdade." (Vergílio Ferreira, Um Escritor Apresenta-se)

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"Como é que podemos não nos interessar por política?! Pois se vivemos um momento tão grave, tão agitado, tão problemático desde o 25 de Abril no acerto de todas as forças, na chamada consolidação da democracia... Como é que podemos não nos interessar?! No que se refere a uma intervenção activa, não estou vocacionado para isso. Não é político quem quer, como não é escritor quem quer, como não é pintor quem quer. Há pessoas vocacionadas para uma vida activa e portanto têm uma intervenção mais directa nos problemas políticos. Não é o meu caso. Nesse sentido, não sou político. Mas evidentemente que me interesso. Em todo o caso, o interesse no sentido de uma vivência muito intensa de tudo quanto está a acontecer politicamente desvaneceu-se um pouco, por aquilo que será supérfluo estar a mencionar.

Não sou político no sentido activista do termo porque em tal sentido não é político quem quer. Mas estive a ponto de sê-lo por ter acreditado que uma determinada solução política resolveria os essenciais problemas humanos. Hoje penso que esses problemas escapam a uma concreta orientação política, porque todas essas orientações terão de resolver-se numa síntese final que mal descortinamos ainda. Há uma crise política geral, como há uma crise religiosa, artística, fiolosófica, porque há uma crise mundial. Neste virar de página na história humana a que assistimos, sabemos apenas que de todos os valores há um que inexoravelmente resiste e é o valor do próprio homem, da sua dignidade, da sua plena realização. Assim, aceitamos tudo quanto promova essa dignificação: o reajustamento económico pela socialização, para o que é elementar, a intensificação cultural em inteira liberdade, para o que é essencial. Ter-se-á realizado tudo? Decerto que não e assim o mais essencial se não terá atingido. Mas tal essencialidade primeira não está em nossa mão. Porque, referindo-se ela a uma plenitude humana, em que tudo se harmoniza - a vida e a morte adentro dos nossos estritos limites terrenos -, só a própria vida a poderá promover, quando e como não sabemos."

(Vergílio Ferreira, Um Escritor Apresenta-se)

terça-feira, janeiro 03, 2012

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- [...] A nossa existência é uma prisão num labirinto cuja porta de saída, para alguns, é a fé.
- Qual é a sua?
- Não há porta de saída a não ser essa. Acho que não há porta de saída nenhuma. Invejo as pessoas que têm fé.
- A poesia não é uma porta de saída?
- É uma porta, se calhar, para reconhecer que não há porta nenhuma.

[Manuel António Pina em entrevista à revista Ler)

Os Livros

É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?
É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?

(Manuel António Pina, Como Se Desenha Uma Casa)