Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
(António Gedeão)
quarta-feira, junho 30, 2010
...
"No doubt alcohol, tobacco, and so forth, are things that a saint must avoid, but sainthood is also a thing that human beings must avoid... Many people genuinely do not wish to be saints, and it is probable that some who achieve or aspire to sainthood have never felt much temptation to be human beings."
(Reflections on Gandhi by George Orwell, 1949)
(Reflections on Gandhi by George Orwell, 1949)
quinta-feira, junho 24, 2010
Por favor, alguém conte à minha mãe que me portei mal...
A reportagem de capa da edição de hoje da Visão é um atentado à inteligência. Não conheço o movimento descrito, nem os fundamentos do mesmo, nem os podres que, obviamente, estarão presentes (como estarão em qualquer associação ou grupo de pessoas) mas as opções editoriais da revista, e o preconceito e o medo com que o senhor jornalista encarou a missão, roçam o inacreditável. Sexo? Orgias? Mas onde? E quando? Parece-me a mim que o senhor jornalista tem um enorme receio de que o chão lhe falte, sendo, por isso, incapaz de compreender aquilo que foge à matriz do pensamento que, por clara limitação, adoptou como sua. O resultado (com a ajuda da venenosa capa, possivelmente da responsabilidade de uma direcção desesperadamente à procura de vendas) é inevitável: a diabolização de algo que, claramente, o senhor não conseguiu entender (ou viver), e a construção de um trabalho opaco, tendencioso e sensacionalista. Não pretendo alongar-me sobre este assunto, mas confesso que o final do texto me fez soltar uma valente gargalhada, imaginando o desconforto que o dito senhor sentiu quando, surpresa das surpresas, alguém lhe tocava. Ainda por cima, parece que havia mãos de homem à mistura... Ou muito me engano, ou o senhor não conseguiu lidar com o prazer e com a excitação que sentiu ao viver essa sua, aparente, transgressão, sentindo por isso, inclusivamente, a necessidade de evocar a autoridade materna. "Não contem isto à minha mãe", assim termina o texto. Como quem, verdadeiramente, diz, "Alguém lhe conte, por favor, que eu preciso que ela me diga que eu me portei mal. Se não..."
Umas horas depois, aqui estou, porque senti vontade de vir acrescentar mais isto...
Não tenho nada contra o autor da reportagem, nem sequer o conheço. Acredito que possa ser um bom jornalista, e, obviamente, uma excelente pessoa. Não ponho isso em causa. O que ponho em causa são as suas competências para a realização de um trabalho deste cariz, bem como as várias opções editoriais da revista Visão no tratamento do mesmo...
Com fundamento ou não (não é isso que me interessa agora!), o que esta reportagem fez foi lembrar-me uma das características que me mais me desilude no jornalismo (e em muitos daqueles que o fazem): a forma como rapidamente condena e diaboliza aquilo que, de alguma forma, por medo ou incompreensão, sente que se afasta da norma que esta nossa sociedade (muito com a sua ajuda!) luta por preservar. Nada de novo, mas, felizmente, continua a fazer-me alergia...
Verdade que não tenho especial simpatia (e, nalguns casos, nenhuma mesmo!) por movimentos, seitas e igrejas que se alimentam obscenamente da espiritualidade ou do vazio daqueles que congregam, nem conheço os meandros da referida "seita do sexo", à excepção do que li no artigo...
Mas o modo como este trabalho foi apresentado obriga-me a afirmar, mais uma vez, que não posso tolerar a forma como, sistematicamente, o jornalismo se demite de tentar compreender aqueles que (por vezes, muito à frente do seu tempo) vão procurando respostas alternativas para as questões fundamentais da vida; nem consigo aceitar a rapidez com que se demite de dar a conhecer algumas das simples (mas, por vezes, tão importantes), descobertas, grandes dúvidas ou pequenas certezas com que esses filósofos, visionários, vagabundos ou aprendizes de feiticeiro se vão cruzando nas suas viagens marginais...
Alguém genuinamente justo acredita ainda que a solução se encontra na manutenção e na defesa do sistema que hoje existe? E quem, se não quem parte à procura de algo diferente, nos poderá dar a conhecer um mundo novo?
Umas horas depois, aqui estou, porque senti vontade de vir acrescentar mais isto...
Não tenho nada contra o autor da reportagem, nem sequer o conheço. Acredito que possa ser um bom jornalista, e, obviamente, uma excelente pessoa. Não ponho isso em causa. O que ponho em causa são as suas competências para a realização de um trabalho deste cariz, bem como as várias opções editoriais da revista Visão no tratamento do mesmo...
Com fundamento ou não (não é isso que me interessa agora!), o que esta reportagem fez foi lembrar-me uma das características que me mais me desilude no jornalismo (e em muitos daqueles que o fazem): a forma como rapidamente condena e diaboliza aquilo que, de alguma forma, por medo ou incompreensão, sente que se afasta da norma que esta nossa sociedade (muito com a sua ajuda!) luta por preservar. Nada de novo, mas, felizmente, continua a fazer-me alergia...
Verdade que não tenho especial simpatia (e, nalguns casos, nenhuma mesmo!) por movimentos, seitas e igrejas que se alimentam obscenamente da espiritualidade ou do vazio daqueles que congregam, nem conheço os meandros da referida "seita do sexo", à excepção do que li no artigo...
Mas o modo como este trabalho foi apresentado obriga-me a afirmar, mais uma vez, que não posso tolerar a forma como, sistematicamente, o jornalismo se demite de tentar compreender aqueles que (por vezes, muito à frente do seu tempo) vão procurando respostas alternativas para as questões fundamentais da vida; nem consigo aceitar a rapidez com que se demite de dar a conhecer algumas das simples (mas, por vezes, tão importantes), descobertas, grandes dúvidas ou pequenas certezas com que esses filósofos, visionários, vagabundos ou aprendizes de feiticeiro se vão cruzando nas suas viagens marginais...
Alguém genuinamente justo acredita ainda que a solução se encontra na manutenção e na defesa do sistema que hoje existe? E quem, se não quem parte à procura de algo diferente, nos poderá dar a conhecer um mundo novo?
quarta-feira, junho 23, 2010
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"A moda. É uma atoarda lançada por um tolo, que faz fortuna de muitos tolos, com a vaidade de outros mais tolos ainda." (Albino Forjaz Sampaio, Mais além da Morte e do Amor)
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"Falar é bom, melhor inda é calar-se", diz Filinto. É por isso que, quando ela se cala, eu scismo que me está dizendo coisas que me não saberia dizer se falasse." (Mais além da Morte e do Amor, Albino Forjaz de Sampaio)
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"Justo motivo de orgulho nosso é ainda a mulher portuguesa. Nenhuma há no mundo que a exceda em sentimento, em ternura, em dedicação. Nenhuma a ultrapassa em meiguice, na doçura, na piedade. É que a mulher da nossa terra é a mais feminina das mulheres da Europa. Ela é a filha estremecida, a esposa dedicada, a mãe amante, a companheira fiel e a avó indulgente e devotada. Para o lar e para a vida jamais se pode topar melhor. Com o seu coração ela faz o sacrifício da sua vida e não há companheira que lhe possa ofuscar as suas qualidades.
Dizem que é ciumenta. Defende o seu amor com o escarniçamento com que a loba defende os filhos. Mas acompanha o esposo nas lutas da sorte, nas vicissitudes da vida e até no exílio. [...]
Açodadas labutam e mourejam, à torreira do sol nos campos, na penumbra dos ateliers, nas fábricas ou no remanso do lar, nada mais querendo para ser felizes do que um pouco da terra amiga para viver, e um nadinha de coração para morar." (A Mulher Portuguesa, Porque me orgulho de ser português, Albino Forjaz de Sampaio)
Dizem que é ciumenta. Defende o seu amor com o escarniçamento com que a loba defende os filhos. Mas acompanha o esposo nas lutas da sorte, nas vicissitudes da vida e até no exílio. [...]
Açodadas labutam e mourejam, à torreira do sol nos campos, na penumbra dos ateliers, nas fábricas ou no remanso do lar, nada mais querendo para ser felizes do que um pouco da terra amiga para viver, e um nadinha de coração para morar." (A Mulher Portuguesa, Porque me orgulho de ser português, Albino Forjaz de Sampaio)
quinta-feira, junho 17, 2010
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"De acordo com a hipótese de Gaia, somos parte de um todo maior. O nosso destino não está apenas dependente do que possamos fazer por nós próprios, mas também pelo que possamos fazer por Gaia como um todo. Se a colocarmos em perigo, ela, no interesse de um bem maior - a própria vida - excluir-nos-á." (Vaclav Havel, citado por James Lovelock, em Gaia, um novo olhar sobre a Vida na Terra)
quarta-feira, junho 16, 2010
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"Quando chegou o dia em que fui obrigado a pronunciar-me sobre a profissão que escolhia, porque meu pai mo perguntava, respondi:
- Quero ser vendedor de sementes!
Meu pai disse que vendedor de sementes não era um ofício: ofício era ser carpinteiro, mecânico ou padeiro. Mas, como eu insistisse, meu pai acrescentou:
- Vendedor de sementes é um ofício de vagabundo!
Apeteceu-me responder-lhe que não conseguia submeter-me à ideia de passar o dia fechado num laboratório ou numa oficina. Mas tive medo das pesadas mãos de operário de meu pai, que me acertavam entre o pescoço e o cerebelo. Ele começava já a ficar zangado e repreendia minha mãe por me ter dado tão má educação.
- Este filho tem alma de vagabundo - dizia-lhe. - Não conseguiremos dele nada de bom!
Por isso calei as minhas razões. [...]
Eu era um rapaz de doze anos e gostaria de lhe ter dito:
- Sabes, papá, há sol quando estás na oficina. A água do rio é verde, os tremoços dourados, e as sementes de Misirizzi fazem faísca. Eu não posso passar sem isto, sem a minha liberdade.
Mas foi meu pai, afinal, quem me disse:
- Deves aprender um ofício. Trabalhar a sério distrai. Aprende-se muito mais do que um ofício: qualquer coisa de diferente, de forte. Um vendedor de sementes, quando fores grande, vai parecer-te também a ti um vagabundo, um homem que não teve a coragem do seu verdadeiro nome.
Pronto, papá, eu sou grande e nem mesmo hoje os poetas têm um nome."
(Vasco Pratolini, Ofício de Vagabundo)
- Quero ser vendedor de sementes!
Meu pai disse que vendedor de sementes não era um ofício: ofício era ser carpinteiro, mecânico ou padeiro. Mas, como eu insistisse, meu pai acrescentou:
- Vendedor de sementes é um ofício de vagabundo!
Apeteceu-me responder-lhe que não conseguia submeter-me à ideia de passar o dia fechado num laboratório ou numa oficina. Mas tive medo das pesadas mãos de operário de meu pai, que me acertavam entre o pescoço e o cerebelo. Ele começava já a ficar zangado e repreendia minha mãe por me ter dado tão má educação.
- Este filho tem alma de vagabundo - dizia-lhe. - Não conseguiremos dele nada de bom!
Por isso calei as minhas razões. [...]
Eu era um rapaz de doze anos e gostaria de lhe ter dito:
- Sabes, papá, há sol quando estás na oficina. A água do rio é verde, os tremoços dourados, e as sementes de Misirizzi fazem faísca. Eu não posso passar sem isto, sem a minha liberdade.
Mas foi meu pai, afinal, quem me disse:
- Deves aprender um ofício. Trabalhar a sério distrai. Aprende-se muito mais do que um ofício: qualquer coisa de diferente, de forte. Um vendedor de sementes, quando fores grande, vai parecer-te também a ti um vagabundo, um homem que não teve a coragem do seu verdadeiro nome.
Pronto, papá, eu sou grande e nem mesmo hoje os poetas têm um nome."
(Vasco Pratolini, Ofício de Vagabundo)
segunda-feira, junho 14, 2010
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"Depois, percebera, também, que ela [essa liberdade] poderia, com maior propriedade, chamar-se solidão e tédio, e que me condenava a uma pena terrível: a da companhia de mim mesmo." (Luigi Pirandello, O Falecido Mattia Pascal)
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"Depois, percebera, também, que ela [essa liberdade] poderia, com maior propriedade, chamar-se solidão e tédio, e que me condenava a uma pena terrível: a da companhia de mim mesmo."
(Luigi Pirandello, O Falecido Mattia Pascal)
(Luigi Pirandello, O Falecido Mattia Pascal)
segunda-feira, junho 07, 2010
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"É evidente que nenhum homem tem a obrigação de se dedicar totalmente à eliminação do que está errado, por muito monstruoso que o erro seja; toda a gente tem o direito de se dedicar a outras actividades mais convidativas. Mas é seu dever, pelo menos, lavar as mãos e, no caso de desistir de pensar mais no assunto, tem de fazer por não dar, na prática, apoio à iniquidade. Posso dedicar-me a outros objectivos e a outras contemplações, mas tenho de verificar primeiramente se, para o fazer, não estou a pisar outro homem, É minha obrigação não o pisar, pois estou a impedi-lo de realizar as suas contemplações."
(Henry David Thoreau, A Desobediência Civil)
(Henry David Thoreau, A Desobediência Civil)
Trumbo
"At rare intervals, there appears among us a person whose virtues are so manifest to all, who has such a capacity for relating to every sort of human being, who so subordinates his own ego drive to the concerns of others, who lives his whole life in such harmony with the surrounding community that he is revered and lov...ed by everyone with whom he comes in contact. Such a man Dalton Trumbo was not..."
(Dalton Trumbo died from a heart attack in California on September 10, 1976. At his memorial service, Ring Lardner Jr., his close friend and fellow Hollywood 10 member, delivered an amusing eulogy.)
[Revi Trumbo. Obrigatório...]
(Dalton Trumbo died from a heart attack in California on September 10, 1976. At his memorial service, Ring Lardner Jr., his close friend and fellow Hollywood 10 member, delivered an amusing eulogy.)
[Revi Trumbo. Obrigatório...]
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