terça-feira, dezembro 22, 2009

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Limpeza efectuada: retirados os mais de 400 posts escritos entre 20 de Abril de 2005 e 14 de Setembro de 2006. O restante, por enquanto, permanece...

segunda-feira, dezembro 07, 2009

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"Escrevo a palavra amanhã e olho para ela." (Hisao Kimura, Estas vozes que nos vêm do mar, depoimentos de aviadores suicidas japoneses)

sexta-feira, dezembro 04, 2009

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"[...] Deixa-me ser presa fácil
Dos prazeres que ergues aos meus lábios..."
(Kwesi Brew)

[Muito bom: Le peuple migrateur...]

segunda-feira, novembro 23, 2009

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"- Eu não poderei afirmar se à doce minha inimiga agrada ou não que o mundo saiba que eu a sirvo; somente sei dizer, respondendo ao que com tanta cortesia se me pede, que o seu nome é Dulcineia; a sua terra é Toboso, uma terra da Mancha; o seu título, pelo menos há-de ser de princesa, pois é rainha e senhora minha; a sua formusura, sobre-humana, pois nela se tornam verdadeiros todos os impossíveis e quiméricos atributos de beleza que os poetas dão às suas damas: os seus cabelos são ouro, a sua fronte campos elísios, as suas sobrancelhas arco-íris, os seus olhos sóis, as suas faces rosas, mármore o seu peito, os seus lábios corais, pérolas os seus dentes, alabastro o seu pescoço, marfim as suas mãos, a sua brancura neve e as partes que à vista humana encobria o pudor são tais, segundo penso e entendo, que só a sábia consideração pode exaltá-las e não compará-las." (D. Quixote de La Mancha)

sábado, novembro 21, 2009

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Recordo o "filho traquinas da vida", com quem tive o prazer de viajar durante sete dias, sete meses, sete anos... Preso no meu "quarto" aquecido, também eu vou confundindo as horas, que ora voam, ora se arrastam... Persiste o dilema: fechar-me ou dar-me? Como, a quê, e a quem? Não encontro meio termo para uma nova madrugada, e tudo me convida ao limite do ser...

[Oiço Beach Comber, por Real Estate...]

sexta-feira, novembro 20, 2009

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"Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume incompreensível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida apresenta-se ali como algo... como um acontecimento excessivo. [...]
Uma vez fui a um médico.
- Doutor, estou louco - disse. - Devo estar louco.
- Tem loucos na família? - perguntou o médico. - Alcoólicos, sifilíticos?
- Sim, senhor. O pior. Loucos, alcoólicos, sifilíticos, místicos, prostitutas, homossexuais. Estarei louco?
O médico tinha sentido de humor, e receitou-me barbitúricos.
- Não preciso de remédios - disse eu. - Sei histórias tenebrosas acerca da vida. De que me servem barbitúricos?"

(Herberto Helder, Estilo)

quarta-feira, novembro 18, 2009

O ritmo em que o eu se perde...

"To enter that rhythm where the self is lost,
where breathing : heartbeat : and the subtle music
of their relation make our dance, and hasten
us to the moment when all things become
magic, another possibility.
That blind moment, midnight, when all sight
begins, and the dance itself is all our breath,
and we ourselves the moment of life and death.
Blinded; but given now another saving,
the self as vision, at all times perceiving,
all arts all senses being languages,
delivered of will, being transformed in truth —
for life’s sake surrendering moment and images,
writing the poem; in love making; bringing to birth."

(Muriel Rukeyser, To enter that rhythm where the self is lost)

segunda-feira, novembro 16, 2009

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"Nada me põe tão feliz como contemplar e pintar a natureza. Imagine que, quando vou para o campo e vejo o sol e o verde e flores por todo o lado, digo a mim próprio: 'tudo isto é realmente meu!'"

(Henri Rousseau, em entrevista dada pelo pintor em 1910)

Para sempre...

"Dificilmente alguém tão honestamente e lealmente se terá mostrado e não menos cuidadosamente terá tido a preocupação de destruir qualquer possibilidade de romântica mistificação de si próprio. Este teria sido o caminho fácil e estava aberto ao total desconhecimento que um do outro tínhamos e à minha evidente fascinação por aquela personalidade - a rejeição desse caminho deu lugar a uma confiança e uma identificação que dificilmente, creio, poderão ter paralelo.
Não sem agruras e com algumas duras provas ambas resistiram, intactas, durante quase trinta anos, afinal o nosso 'para sempre', dignamente cumprido."

[Mécia Sena, Isto tudo que nos rodeia (Cartas de Amor)]

Isto tudo que nos rodeia...

"[...] eu nunca sonhei, imaginei ou desenhei o modelo perfeito de quem desejaria para companheira. Porque muito cedo tomei consciência da imensa distância entre o que se imagina e se é de facto (e não me excluo a mim próprio), porque, por feitio e visão, me convenci e convenço da irremediável solidão que é a vida, porque sei bem quanto gestos e palavras ficam sempre por fazer e dizer, porque me conheço suficientemente para apreciar como amo tão produndamente e dispersamente que uma determinada pessoa que eu visasse não poderia deixar de, até certo ponto, ser uma vítima desse mesmo amor, por tudo isso me recusei sempre a sonhar fosse o que fosse de projecto de vida, tanto mais que a experiência me ia ensinando que, ou por minha culpa ou por destino, me não valia a pensa desejar, porque era o suficiente para não ter. [...]"

(Trecho de carta enviada por Jorge de Sena a Mécia de Sena, datada de 1 de Janeiro de 1947)

sábado, novembro 14, 2009

Sonho bom, sonho meu...

Voava, girava e rodopiava, de braços-asas bem abertos, oferecendo o peito ao azul profundo de um inebriante mundo onírico. Conscientemente, desenhava e contemplava a realidade ao sabor da vontade. Brincava ao onde e ao quando, e ia construindo um quê sem porquê... Sorria, ainda, ao regressar. Um dia, hei-de voltar...






[ O Sonho . Henri Rousseau ]

[Oiço Far Away, de Jay-Jay Johanson...]

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sexta-feira, novembro 13, 2009

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Why do my eyes get attracted to the light, like butterflies at night?

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"'Essa grande desgraça de não se poder estar só!...' diz algures La Bruyère, como para envergonhar todos aqueles que correm a esquecer-se na multidão, temendo sem dúvida não poder suportar a si próprios.
'Quase todas as nossas desgraças nos vêm de não termos sabido conservar-nos no nosso quarto', diz outro sábio, Pascal, julgo eu, chamando assim para a célula do recolhimento todos esses desvairados que procuram a felicidade no movimento e numa prostituição a que eu podia chamar fraternitária, se quisesse usar da bela linguagem do meu século."

(Charles Baudelaire, A Solidão)

Passagem

"O êxtase do ar e a palavra do vento
Povoaram de ti meu pensamento."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Ausência

"Num deserto sem água,
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

quinta-feira, novembro 12, 2009

Quase Nada

"O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz."

(Eugénio de Andrade)

Espera

"Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça."

(Eugénio de Andrade)

quarta-feira, novembro 11, 2009

A um jovem poeta...

"Não me peças prefácios, nem juízos, nem conselhos,
Que me sinto empurrado
Para o trono dos velhos,
E coroado embalsamado!

Que pode, a ti, servir-te o que aprendi por mim?
Que darei eu do que ninguém me deu?
Chegar, nunca se chega! Mas, se há fim,
Cada qual ganhe belo o seu.

Chegar, nunca se chega ao píncaro sonhado!
Mas, se mais ampla já se nos anima
A linha do horizonte, – é o ganho dum pássaro
Deixando esfarrapado monte acima.

Nenhum caminho tem nenhum que se lhe iguale.
Meu – foi o meu suor; meus – os meus pés descalços.
Sofrer – só a quem sofre vale.
E o mais que se aprendeu são oiros falsos!

Ainda só há sol e azul pelos espaços
(Até se qualquer sombra lhes embace a quietude)
Diante desses passos
Que pedes que eu te ajude.

Pois vai! pois vai, sozinho, até que o sol se ponha,
Se entenebreça o azul, as aves emudeçam,
E tremam as estrelas, na medonha
Solidão onde, ao fim, desapareçam…

Sob, enquanto as houver, raríssimas estrelas,
Cava, na solidão, a terra escura,
E talvez venham a ser belas
As rosas, sobre a tua sepultura.

O que possas ganhar, tê-lo-ás, assim, ganhando,
Quando, perdido tudo o que era de perder,
Tombes, ao fim do descampado,
Sabendo que ninguém te pode socorrer…

Ninguém! Eu, menos que os demais,
Eu, que te perco, já, na curva do caminho,
E só te sei dizer adeuses tais
Que só te deixem mais sozinho.

Porque tu é que és tudo! a terra a cultivar,
A mão cultivadora, o arado da cultura,
O grão a semear,
O próprio fruto, – grão da mão futura.

Pois lavra-te, és o chão! emprega-te, és o braço!
Semeia-te, és o grão!
Floresce, frutifica, extingue-te! e, no espaço,
Pode, amanhã, nascer mais uma ideal constelação…

Entanto, se algum dia, por acaso,
Voltando à minha porta, me chamares,
Talvez, à tarde, ante esse imenso campo raso,
Possa eu ouvir os teus cantares.

Vendo, então, nos meus olhos, qualquer brilho,
Sentindo, em minha voz, tremer um alvoroço,
Vai-te embora feliz, meu irmão e meu filho!
Já te dei tudo quanto posso!"

(José Régio, A Chaga do Lado)

terça-feira, novembro 10, 2009

Imperdoável!

Tinha deixado escapar este: xx, por The xx.

Da democracia do demo...

Quando oiço o líder parlamentar do PSD, fico com a quase certeza surreal de que foi recrutado no seio do Governo, seja lá ele qual for... Ou então é mesmo um desejo dos sociais-democratas o de chegar ao país inteiro, crianças incluídas... "Mas há muitos especialista que contradizem o que o senhor ministro está a dizer", ou qualquer alarvidade do género, atirou ontem Aguiar Branco, neste caso pronunciando-se acerca do "enriquecimento ilícito". Mas houve outros, tantos, e tão ou mais admiráveis, argumentos de notável calibre, disparados por este senhor. "Sou ou não sou doutor?" Mediocridade no poleiro da oposição, é o que vejo, e quem se lixa é o mexilhão, pois então...

domingo, novembro 08, 2009

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Até hoje, estive sempre à espera. Agora compreendo, só agora, que nada sabia fazer se não esperar, por ti. Esperar que viesses, esperar que chegasses, e esperar que me ajudasses a tornar a fugir de mim...

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"O mais admirável no fantástico é que o fantástico não existe; tudo é real." (André Breton)


[ Carte Blanche . René Magritte ]

[Oiço Two Dancers, de Wild Beasts. Depois, Logos, de Atlas Sound, e Seek Magic, de Memory Tapes...]

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"A imaginação disseca o todo da criação de acordo com leis que têm a sua origem no mais fundo das profundezas da alma, e depois junta o organiza os pedaços, criando um novo mundo a partir deles." (Charles Baudelaire)

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"Vamos caminhando aos ziguezagues entre o apocalipse e o paraíso perdido, muito perto do primeiro e muito distantes do segundo; dilacerados entre o anseio e o ódio a nós próprios, perdidos de sonhos e de sonhos perdidos." (Rudolf Schlichter)

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Regresso a casa, a esse lugar onde nunca fui...


[ Christina . Andrew Wyeth ]

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"Fique então com uma pena - disse ela, arrancando uma do leque.
Peguei na pena e, só com o olhar, exprimi-lhe todo o meu fascínio e gratidão. Não estava apenas animado e contente, estava feliz, pairava na bem-aventurança, cheio de bondade, eu não era eu, era uma qualquer criatura não terrestre que desconhecia a maldade e só era capaz de fazer o bem." (Lev Tolstoi, Depois do Baile)

sexta-feira, novembro 06, 2009

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quinta-feira, novembro 05, 2009

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Hoje, sei o fim. Não sei como nem quando, mas sim...
E agora, que princípio quero de mim?

quarta-feira, novembro 04, 2009

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Vou deslizando pela Lisboa adormecida, sem pressa de chegar a lugar nenhum. O compasso, que se afirma sereno no íntimo do meu peito, marca o passo vagaroso do meu vadiar. Antevejo um convite para parar, numa hora que o estômago há-de dar...

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Quem é este
incansável desconhecido
que me leva de vencido,

a mim
frágil parte de um todo
que às vezes se encontra
e outras vezes se perde
nessa parte de ti?


[ De Es Schwertberger: http://www.dees.at ]

[Oiço Through the Devil Softly, o novo de Hope Sandoval & The Warm Inventions...]

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"[...] Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas."

(Herberto Helder)

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"Aturdido pela antevisão do abismo, aterrorizado perante a prova de desintegração mental a que terá que sujeitar-se para realizar o individualismo absoluto, o lírico faz um regresso desvairado ao seu individualismo convencional. No entanto ele nunca mais se libertará da nostalgia dum universo que chegou a pressentir."
(Natália Correia, Poesia de Arte e Realismo Poético)

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“A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

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"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Os degraus

"Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo..."

(Mário Quintana)

sexta-feira, outubro 30, 2009

Soneto de Amor

"Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus, não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!"

(José Régio)


[ O Beijo . Gustav Klimt ]

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"Pareço egoísta àqueles que, por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo." (Fernando Pessoa)

quinta-feira, outubro 29, 2009

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"[...] Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti."

(Alexandre O'Neill, Um Adeus Português)

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"[...] Por que será / que quanto mais repartimos / o coração / maior e mais nosso ele fica?" (Raul de Carvalho, 1920-1984)

quarta-feira, outubro 28, 2009

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"[...] Só tu me acompanhaste súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já hoje a minha única viúva
Não posso dar-te mais do que te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente subitamente [...]"

(Ruy Belo, Elogio de Maria Teresa)

"[...] Dizia que ao chegar se olhares e me não vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido."

(Ruy Belo, Muriel)

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Encontro-me na separação, separo-me no encontro. Sou bicho frágil e tonto...


[ Melancolia . Edvard Munch ]

terça-feira, outubro 27, 2009

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- Faça favor.
- Não senhor. Você estava primeiro. É regra de bibliófilo. Imagine que eu lhe ficava com a sua descoberta...

sábado, outubro 24, 2009

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"Saiba o homem partir só para a aventura da vida; e então o encontro com o outro será um pacto de solidariedade e não um laço de escravidão." (António Coimbra de Matos)

sexta-feira, outubro 23, 2009

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"Deus é existirmos e isso não ser tudo."
(Fernando Pessoa, Livro do Desasossego)

Quanto a Deus

"Limitamos Deus atribuindo todos os males ao Diabo. Uma infinita bondade e uma infinita justiça, despidas de todo o pensamento que a moral condena, fazem suspeitar que se empregou na construção uma escala demasiado humana; mais uma vez nos julgámos os senhores absolutos; mais uma vez nos quisemos centro do universo e nos vimos tratados com atenção e carinho especiais.
Não ousou o homem pôr a maldade entre os atributos de Deus e pecou primeiramente porque foi estreito; e de novo pecou porque foi tímido. Consolava-o a ideia de uma protecção sempre possível e a mente, que se não levantava ao total, só pôde conceber a explicação infantil e ilógica dos dois demiurgos. Fugimos da aspereza e erguemos um palácio de fadas, esplêndido e seguro, mas enervante e mole; tememos a vida e a vida se vingou.
Restituamos a Deus toda a sua grandeza; reconheçamos o seu poder na violência e no terror; tenhamos por divino o abaixamento deste tempos; emana Caim do espírito supremo - como Abel; não tiremos a Deus o que temos como ideal superior: a vontade do progresso; não o despojemos, por interesse egoísta, do prazer de marchar, não lhe dêmos em troca da variedade que roubamos a monotonia a que aspira a alma baixa.
E em face de um Deus pleno e terrível sejamos heróicos; cresçam as forças com que lutamos, seja mais larga a compreensão, mais perfeito o amor; enfrentemos o mal, cara a cara, e adoremos o Senhor no inimigo que nos derruba e pisa. Sejamos bravos e tolerantes. Não vacilemos na derrota, nem um instante voltemos costas ao perigo; mas não abusemos da vitória. É este o dom que nos oferece Deus, liberto de cadeias terrestres."
(Agostinho da Silva, Considerações e Outros Textos)

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"What does the fish know about the water in which it swims?" (Einstein)

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

(Mário Cesariny)


[ Untitled . Vernon Treweeke . beinart.org]

[Oiço Imidiwan: Companions, o novo de Tinariwen. Depois, ficarei a conhecer Love 2, de Air...]

sexta-feira, outubro 16, 2009

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[ Pormenor de Ayahuasca Dream . Robert Venosa . beinart.org]

[Improbable dreams, por Tom Chambers, na Burn...]

terça-feira, outubro 13, 2009

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"Não me julgue V. a caminho da loucura; creio que não estou. Isto é uma crise grave de um espírito felizmente capaz de ter crises destas." (Carta de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro, de 6 de Dezembro de 1915)

quarta-feira, setembro 16, 2009

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"O encontro com o mundo índio não é hoje um luxo. Tornou-se uma necessidade para quem quer compreender o que se passa no mundo moderno. Não basta porém compreender; trata-se de tentar ir até ao fim de todas as galerias obscuras, de procurar abrir algumas portas - quer dizer, no fundo, tentar sobreviver. O nosso universo de cimento e de ramificações eléctricas não é simples. Quanto mais se o pretende explicar, mais ele se nos escapa. Viver por dentro, hermeticamente fechado, seguindo os impulsos mecânicos, sem procurar trespassar estas muralhas e estes tectos, é mais do que insconsciência; é expormo-nos ao perigo de sermos pervertidos, mortos, tragados. Sabemos hoje que não há verdades; apenas há explosões, metamorfoses, dúvidas. Bem entendido, queremos abalar. Mas para onde? Todos os caminhos são parecidos, todos são um regresso ao próprio indivíduo. É pois preciso procurar outras viagens..." (J.M.G. Le Clézio, Índio Branco)

sexta-feira, julho 31, 2009

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Se o tudo pudesse ser escrito, nada se escrevia...

domingo, julho 26, 2009

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"Abra-se esta cortina de sombras, e deixe-me eu guiar, sem receio, rumo à luz! Gira, sol, e tu, noite imensa, afasta do meu coração tudo quanto não seja a fé na minha nova estrela."
(André Breton, O Amor Louco)

quarta-feira, julho 22, 2009

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"Quiero un amor feroz de garra y diente
Que me asalte a traición a pleno día [...]"
(Alfonsina Storni)

terça-feira, julho 21, 2009

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"Quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora."
(José Mário Branco)

terça-feira, julho 14, 2009

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[Oiço Back to Mine, por Röyksopp...]

segunda-feira, julho 13, 2009

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E descobrir, nessa mulher, o eterno desejo de (me) ir descobrindo...


[ Blue Landscape . Marc Chagall ]

[Oiço Sometimes I Wish We Were An Eagle, por Bill Callahan...]

sexta-feira, julho 10, 2009

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"Ainda hoje, apenas espero colher os frutos da minha disponibilidade, desta minha sede de ir ao encontro de tudo que, estou certo, me mantém em misteriosa comunicação com os outros seres disponíveis, como se algo houvesse que nos impelisse a uma súbita união. Gostaria que a minha vida não deixasse atrás de si outra coisa que não fosse o simples murmúrio de uma canção de quem está de atalaia, uma canção para enganar o tempo de espera. Independentemente do que possa ou não acontecer, a espera é que é, na realidade, magnífica." (André Breton, O Amor Louco)

quinta-feira, julho 09, 2009

A coragem de seres só...

"Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doceoferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz." (Agostinho da Silva, Considerações)

E o encontro...


[Untitled . Júlio Pomar]

[Oiço Late Night Tales, por Groove Armada, de 2008...]

segunda-feira, julho 06, 2009

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"Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria." (Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)

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"Eu nem sequer gosto de escrever. Acontece-me às vezes estar tão desesperado que me refugio no papel como quem se esconde para chorar. E o mais estranho é arrancar da minha angústia palavras de profunda reconciliação com a vida." (Eugénio de Andrade, Rosto Precário)

terça-feira, junho 30, 2009

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"Sometimes you have to take the leap, and build your wings on the way down." (Kobi Yamada)

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"A meu ver, essas horas negras, em que de súbito o amor bate asas e mergulha, sem apelo nem agravo, até ao fundo do abismo para logo ascender em linha recta, devem ser enfrentadas sem receio, precisamente na medida em que o homem, mercê de um comportamento adequado, pode aspirar a reduzi-las no âmbito da sua existência. O que interessa, antes de mais, é que ele saiba com o que pode contar, caso se revele uma súbita incompatibilidade entre si e o objecto do seu amor: mas pressupõe esta incompatibilidade motivos profundos que desde há muito tenham vindo a minar o amor, ou será ela apenas o fruto de uma série de razões de circunstância, que nada têm a ver com essa amor? Desinteresso-me, desde já, pelo primeiro caso: estou a escrever O Amor Louco. Quanto ao segundo, em que me incluo, tenho a dizer que essas razões de circunstância deverão ser esclarecidas, que nunca se deve recuar, nem perante o intrincado da situação, nem, em última análise, perante o carácter altamente enigmático de algumas dessas razões. Dada a violência do embate que, quando eles menos o esperam, faz erguerem-se um contra o outro dois seres que até aí viviam em perfeito acordo e que, à primeira aberta, no dia seguinte, ou daí a momentos, serão incapazes de explicar a si mesmos esse seu reflexo, fruto da angústia e das suas gigantescas construções de papelão, no estilo das termiteiras, que, num abrir e fechar de olhos, se sobrepõem a tudo, creio que nos encontramos em presença de um mal já suficientemente diagnosticado para que lhe possamos detectar as origens e, posteriormente, dar-lhe remédio. Vemo-nos, uma vez mais, na necessidade de refutar a tão divulgada opinião de que o amor, tal como o diamante, se desgasta com o seu próprio pó, o qual se conserva em suspensão pela vida fora. Se é verdade que o amor sai indemne de tais desvarios, já o mesmo não acontece com o ser que ama. Esse ser está sujeito a sofrer e, o que é pior, a equivocar-se sobre as razões desse sofrimento. Tendo feito dádiva total de si mesmo, é levado a incriminar o amor, quando o defeito reside precisamente na vida." (André Breton, O Amor Louco)


[Untitled . James McCarthy . beinart.org]

[Oiço Ambivalence Avenue, de Bibio...]

terça-feira, junho 09, 2009

Who am I?

Interessante, a forma como a vida evoluiu, a ponto de se achar, hoje, perplexa consigo mesma. Parece que, de alguma forma, a vida decidiu conceber-se num ser extraordinário, disponível para contemplar o mistério que encerra e que o rodeia, e capaz de com esse universo externo e interno se maravilhar profundamente. Quase como se a vida quisesse olhar para si própria, descobrir-se, conhecer-se... Como se desse desejo de se sentir, a vida tivesse inventado o Homem...

Fascina-me a semente que nasce, a árvore que cresce, e a floresta que amanhece... Fascina-me o cosmos, esse infinito que sinto viver dentro e fora de mim. Fascinam-me as estrelas, do céu e do mar...


[Untitled . Paul N Grech . beinart.org]

[Oiço Who Am I, de Lou Reed. Apropriada... Nos feriados: Blood, de Franz Ferdinand; Hombre Lobo: 12 Songs of Desire, de Eels; Wolfgang Amadeus Phoenix, de Phoenix; Yesterday & Today, de The Field; Bitte Orca, de Dirty Projectors; Veckatimest, de Grizzly Bear; Wavvves, de Wavves; Still Night, Still Light, de Au Revoir Simone; Rainwater Cassette Exchange, de Deerhunter; Around the Well, de Iron and Wine; e Invisible Cities, de Nomo...]

segunda-feira, maio 25, 2009

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Viajo por dimensões paradoxais, ao som de One Dove, de Antony and The Johnsons...



[Para ouvir nos próximos dias: Around the Well, de Iron and Wine; e Begone Dull Care, de Junior Boys...]

quarta-feira, abril 15, 2009

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"Não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar, e me encontrar fugindo." (José Mário Branco, FMI [parte 1 | parte 2])


[Viagens sem regresso . Cruzeiro Seixas . Gulbenkian]

[Oiço Junior, o novo de Röyksopp. Muito interessante, a entrevista de Carlos Vaz Marques a John Gray, autor de Sobre humanos e outros animais. Bem como a conversa com Aldo Naouri, dirigida aos progenitores...]

segunda-feira, março 09, 2009

Obstáculos?

"Obstáculo foi coisa que jamais me importou; procurei sempre seguir a lição dos rios: tiram a extensão e variedade de seu curso daquilo que se lhes opõe; ou das pedras: depende do que somos esbarrarmos nelas e nos queixarmos, ou subir-lhes em cima e ver mais longe."
(Agostinho da Silva)

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"We drive into the future using only our rearview mirror."
(Marshall McLuhan)

[Vale a pena ver The Healing Fields...]

...

"We shall not cease from exploration
and the end of all our exploring
will be to arrive where we started...
and know the place for the first time."
(T. S. Eliot)

[Verdadeiramente delicioso: Dialogue Avec Mon Jardinier...]

quarta-feira, março 04, 2009

Depois da transformação...

- Why does the past make you laugh?
- It's just a story, it's very insignificant, it's very shallow...
- Isn't your past who you are?
- Not this child's past. The past is a story, it's like a book. Am I a book?



[ Autor brasileiro (?) desconhecido... ]

[Depois de One Hundred Miles from Thoughtlessness, de Noiserv, oiço March of the Zapotec, o novo de Beirut. De seguida, vou ficar a conhecer The Pains of Being Pure at Heart... E já agora, recomendo Sobre Humanos e Outros Animais (Straw Dogs), ensaio do britânico John Gray. Por último, vale a pena ver o novo documentário de Werner Herzog, Encounters at the End of the World...]

Para ver...

Investimentos realizados nos últimos tempos:
- Louis Theroux: The Collection
- Louis Theroux: The Strange and the Dangerous
- Bruce Parry: Tribe
- Bruce Parry: Amazon
- John Pilger: Documentaries That Changed The World
- Planet Earth: Complete BBC Series

Próximos em perpectiva:
- Blue Planet: Complete BBC Series
- Chronos (do realizador do poético Baraka)
- Naqoyqatsi (da incrível trilogia Qatsi)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

...

"I have lived through much, and now I think I have found what is needed for happiness. A quiet secluded life in the country, with the possibility of being useful to people to whom it is easy to do good, and who are not accustomed to have it done to them; then work which one hopes may be of some use; then rest, nature, books, music, love for one’s neighbor — such is my idea of happiness. And then, on the top of all that, you for a mate, and children, perhaps — what more can the heart of man desire?"
(Leo Tolstoy in Family Happiness")



[No repeat: Por Una Cabeza, de Carlos Gardel, numa versão de Goran Bregovic e Emir Kusturica; Microcastle, de Deerhunter; e Another World, o novo EP de Antony & The Johnsons...]