terça-feira, dezembro 02, 2014
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Quando, à beira da impensável voragem do real, sobrevém a vertigem, o homem agarrar-se ao consolo das suas fantasias...
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"Remind yourself that you love a mortal, something not your own; it has been given to you for the present, not inseparably nor forever, but like a fig, or a bunch of grapes, at a fixed season of the year, and that if you yearn for it in the winter, you are a fool."
(Epictetus, Discourses)
(Epictetus, Discourses)
sexta-feira, novembro 28, 2014
quarta-feira, novembro 26, 2014
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"Sem as pequeninas hipocrisias mútuas, tornar-nos-íamos intoleráveis uns para os outros."
(Emanuel Wertheimer)
(Emanuel Wertheimer)
sábado, novembro 22, 2014
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"There are lots of ways of being miserable, but there’s only one way of being comfortable, and that is to stop running round after happiness. If you make up your mind not to be happy there’s no reason why you shouldn’t have a fairly good time."
(Edith Wharton, Ethan Frome and Other Short Fiction)
(Edith Wharton, Ethan Frome and Other Short Fiction)
quarta-feira, novembro 19, 2014
sábado, novembro 15, 2014
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"[...] Nunca estive tão longe e tão perto de tudo.
Só me faltavas tu para me faltar tudo,
as palavras e o silêncio, sobretudo este."
(Manuel António Pina)
Só me faltavas tu para me faltar tudo,
as palavras e o silêncio, sobretudo este."
(Manuel António Pina)
quinta-feira, novembro 06, 2014
OS GATOS NÃO TÊM VERTIGENS
MAS QUANDO ARRANHAM DÓI COMO O CAR$%&#
Caro António-Pedro Vasconcelos,
"São as circunstâncias que governam os homens, e não os homens que governam as circunstâncias”, terá escrito Heródoto. Pois bem: foram então as circunstâncias que determinaram que este homem, que aqui se lhe dirige, se tenha sentado numa sala de cinema para assistir ao seu mais recente filme (se assim o posso designar).
"Os gatos não têm vertigens” é uma interminável sequência de lugares-comuns, fabricada com a aparente e quiçá meritória preocupação de que o espectador nunca se distraia e nunca se perca no caminho de uns para os outros, cuidando que o mesmo nunca seja confrontado com nada, praticamente nada, que o possa levar a envolver-se em actividades indesejáveis e desnecessárias como pensar. Levado ao extremo, é assim como se o meu caro quisesse, depois de nos apresentar uma estrada plana, sem curvas, ausente de perigos e surpresas, propor-nos ainda: “venham comigo por aqui, e não se preocupem, que eu levo-vos ao colo”.
Pois, comigo, devo dizer-lhe que não resultou, e posso explicar-lhe porquê…
Ao longo do seu filme, e como deve imaginar, fui sendo consecutivamente agredido por “clichês” grosseiros e corpulentos, que me foram violentamente empurrando para fora da história (e eu tentava permanecer, eu tentava...). A determinada altura, sentindo-me já um pouco mal tratado, fruto de tanto murro, pontapé e cabeçada, não tive outra hipótese se não recorrer àquilo que o António-Pedro tanto se esforçou por que ficasse de fora desta nossa experiência: o meu pensamento. O problema é que, ao invés de convocar a razão para analisar aquilo que o seu filme me ia dando a conhecer, fi-lo por um questão de sobrevivência, numa tentativa de encontrar a melhor forma de me defender do ‘bullying’ cinematográfico de que me sentia estar a ser vítima: “não posso levar com mais nenhum ‘clichê’ desta envergadura em cima, ou vou acabar por sair daqui feito num oito”, pensei. “Já percebi por onde o homem me quer levar, e está visto que o vai fazer à bruta; pois a mim já não me apanha desprevenido".
Vivi então alguns momentos de tranquilidade, ancorado na previsibilidade do enredo fácil que o António-Pedro continuava a desenrolar sem pejo.
Mas a verdade é que a serenidade não durou muito. Aos poucos, esta foi dando lugar à perplexidade, que por sua vez se foi transformando em incredulidade. "Mas tu queres ver que o tipo vai mesmo pôr o livro do puto a ser publicado!? Não!? A sério!? Não acredito...”
E eis que o meu caro torna a aparecer no filme, desta feita sentado atrás de uma secretária, vestindo a pele do editor capaz de reconhecer o engenho e a arte (ou simplesmente pagando dívidas antigas), e faz então entrar a sua jovem colaboradora, responsável pela área dos novos talentos…
Sou-lhe sincero: já me tinha rido por diversas vezes ao longo do filme, à medida que ia recebendo as confirmações sucessivas de que o senhor não tinha vergonha nenhuma em abusar declaradamente do estereótipo, mas quando o plano nos mostra o rosto da rapariga, e com ele a mais do que óbvia promessa de amor, símbolo derradeiro da tão ansiada redenção do herói, foi a primeira vez que a minha sonora gargalhada ecoou verdadeiramente solta pelo interior da sala (praticamente vazia, diga-se: talvez porque jogava o seu Benfica)…
Depois desse momento, agora o sei, já nada havia a fazer: perdeu-se o siso e instalou-se o riso. Frame após frame, fui-me descontrolando progressivamente. Cada cena era como que uma explosão que me atirava para o lugar da histeria: o convite da velha para jantar, a miúda que lia o banal texto do puto que “sonhava com mamas”, etc., etc., etc... A excitação tomava conta de mim, e as gargalhadas, impossíveis de conter, transbordavam livremente, indo ao encontro da plateia que o António-Pedro, imagino, continuava heroicamente a tentar levar ao colo...
Não lhe sei dizer há quanto tempo não via um filme tão fraco, tão condescendente com o público, nem há quanto tempo não me levantava e abandonava uma sala antes da cena final. Mas sei o seguinte: nunca, até hoje, tinha fugido do cinema em desespero por ser incapaz de conter um grotesco e incontrolável ataque de riso. Foi uma estreia, lá isso foi…
Atenciosamente,
Filipe Feio
P. S. - Esta coisa que o António-Pedro decidiu filmar não merecia ter sido financiada, nem tão pouco merecia a Maria do Céu Guerra...
Caro António-Pedro Vasconcelos,
"São as circunstâncias que governam os homens, e não os homens que governam as circunstâncias”, terá escrito Heródoto. Pois bem: foram então as circunstâncias que determinaram que este homem, que aqui se lhe dirige, se tenha sentado numa sala de cinema para assistir ao seu mais recente filme (se assim o posso designar).
"Os gatos não têm vertigens” é uma interminável sequência de lugares-comuns, fabricada com a aparente e quiçá meritória preocupação de que o espectador nunca se distraia e nunca se perca no caminho de uns para os outros, cuidando que o mesmo nunca seja confrontado com nada, praticamente nada, que o possa levar a envolver-se em actividades indesejáveis e desnecessárias como pensar. Levado ao extremo, é assim como se o meu caro quisesse, depois de nos apresentar uma estrada plana, sem curvas, ausente de perigos e surpresas, propor-nos ainda: “venham comigo por aqui, e não se preocupem, que eu levo-vos ao colo”.
Pois, comigo, devo dizer-lhe que não resultou, e posso explicar-lhe porquê…
Ao longo do seu filme, e como deve imaginar, fui sendo consecutivamente agredido por “clichês” grosseiros e corpulentos, que me foram violentamente empurrando para fora da história (e eu tentava permanecer, eu tentava...). A determinada altura, sentindo-me já um pouco mal tratado, fruto de tanto murro, pontapé e cabeçada, não tive outra hipótese se não recorrer àquilo que o António-Pedro tanto se esforçou por que ficasse de fora desta nossa experiência: o meu pensamento. O problema é que, ao invés de convocar a razão para analisar aquilo que o seu filme me ia dando a conhecer, fi-lo por um questão de sobrevivência, numa tentativa de encontrar a melhor forma de me defender do ‘bullying’ cinematográfico de que me sentia estar a ser vítima: “não posso levar com mais nenhum ‘clichê’ desta envergadura em cima, ou vou acabar por sair daqui feito num oito”, pensei. “Já percebi por onde o homem me quer levar, e está visto que o vai fazer à bruta; pois a mim já não me apanha desprevenido".
Vivi então alguns momentos de tranquilidade, ancorado na previsibilidade do enredo fácil que o António-Pedro continuava a desenrolar sem pejo.
Mas a verdade é que a serenidade não durou muito. Aos poucos, esta foi dando lugar à perplexidade, que por sua vez se foi transformando em incredulidade. "Mas tu queres ver que o tipo vai mesmo pôr o livro do puto a ser publicado!? Não!? A sério!? Não acredito...”
E eis que o meu caro torna a aparecer no filme, desta feita sentado atrás de uma secretária, vestindo a pele do editor capaz de reconhecer o engenho e a arte (ou simplesmente pagando dívidas antigas), e faz então entrar a sua jovem colaboradora, responsável pela área dos novos talentos…
Sou-lhe sincero: já me tinha rido por diversas vezes ao longo do filme, à medida que ia recebendo as confirmações sucessivas de que o senhor não tinha vergonha nenhuma em abusar declaradamente do estereótipo, mas quando o plano nos mostra o rosto da rapariga, e com ele a mais do que óbvia promessa de amor, símbolo derradeiro da tão ansiada redenção do herói, foi a primeira vez que a minha sonora gargalhada ecoou verdadeiramente solta pelo interior da sala (praticamente vazia, diga-se: talvez porque jogava o seu Benfica)…
Depois desse momento, agora o sei, já nada havia a fazer: perdeu-se o siso e instalou-se o riso. Frame após frame, fui-me descontrolando progressivamente. Cada cena era como que uma explosão que me atirava para o lugar da histeria: o convite da velha para jantar, a miúda que lia o banal texto do puto que “sonhava com mamas”, etc., etc., etc... A excitação tomava conta de mim, e as gargalhadas, impossíveis de conter, transbordavam livremente, indo ao encontro da plateia que o António-Pedro, imagino, continuava heroicamente a tentar levar ao colo...
Não lhe sei dizer há quanto tempo não via um filme tão fraco, tão condescendente com o público, nem há quanto tempo não me levantava e abandonava uma sala antes da cena final. Mas sei o seguinte: nunca, até hoje, tinha fugido do cinema em desespero por ser incapaz de conter um grotesco e incontrolável ataque de riso. Foi uma estreia, lá isso foi…
Atenciosamente,
Filipe Feio
P. S. - Esta coisa que o António-Pedro decidiu filmar não merecia ter sido financiada, nem tão pouco merecia a Maria do Céu Guerra...
terça-feira, outubro 21, 2014
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"Sem fé, ouso pensar a vida como uma errância absurda a caminho da morte, certa. Não me coube em herança qualquer deus, nem ponto fixo sobre a terra de onde algum pudesse ver-me."
(Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer)
(Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer)
segunda-feira, outubro 20, 2014
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"Nunca fui excessivamente infeliz - porque não tenho imaginação: não me consumia, rondando e almejando em torno de paraísos fictícios, nascidos da minha própria alma desejosa como nuvens da evaporação d'um lago."
(Eça de Queiroz, O Mandarim)
(Eça de Queiroz, O Mandarim)
quinta-feira, outubro 16, 2014
IDIOTIA & FELICIDADE
Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor?
Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.
Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.
Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.
(Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim)
Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.
Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.
Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.
Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.
(Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim)
EXAGEROS
O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:
- Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento.
Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.
(Mário-Henrique Leiria, Novos Contos do Gin)
- Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento.
Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.
(Mário-Henrique Leiria, Novos Contos do Gin)
sexta-feira, outubro 10, 2014
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Dedicatória encontrada no interior de uma edição argentina de 1974 de La Sustancia del Zen, de Paul Wienpahl: "Ao meu amigo Silva Correia para que não se preocupe com as coisas deste mundo. Abreu (?)"
Sempre gostava de saber com que coisas de que outro mundo desejava o Abreu que o seu amigo se preocupasse...
Sempre gostava de saber com que coisas de que outro mundo desejava o Abreu que o seu amigo se preocupasse...
quarta-feira, outubro 08, 2014
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Eu ainda sou do tempo em que só a mulher podia engravidar. Mas o progresso não cessa de me espantar: hoje, quem engravida é o casal. "Estamos grávidos", dizem-me. E eu escondo a náusea por detrás de um sorriso...
quinta-feira, outubro 02, 2014
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Tenho algo para dizer aos pais de crianças índigo e cristal. Se tiverem interesse em saber o que é, e uma vez que tenho esse canal à disposição, vou agora enviar a mensagem telepaticamente para os vossos filhos. Abraços e até depois...
sábado, setembro 20, 2014
segunda-feira, setembro 15, 2014
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"Eu prefiro o absurdo de escrever poemas
ao absurdo de não escrever poemas."
(Wislawa Szymborska)
ao absurdo de não escrever poemas."
(Wislawa Szymborska)
sexta-feira, setembro 12, 2014
quinta-feira, agosto 28, 2014
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"Gould tem em fraca conta a maior parte dos escritores, poetas, pintores e escultores da Village, e não se inibe de o dizer. Como resultado de tal franqueza, nunca foi admitido como membro de nenhuma organização nem nenhum ismo artístico, literário ou cultural. Há dez anos que tenta entrar para o Raven Poetry Circle, que organiza todos os verões uma mostra de poesia em Washington Square e é a organização mais influente do género na Village, mas tem sido sempre recusado. [...] «Permitimos ao Sr. Gould assistir às nossas sessões, e gostaríamos de o poder deixar entrar para membro, mas realmente não é possível», explicou uma vez o Sr. McCrudden. «Não leva a poesia a sério. Costumamos servir vinho nas nossas sessões, e essa é a única razão por que lá vai. Às vezes insiste em ler uns poemas absurdos escritos por ele, que nos fazem perder a paciência. Na nossa Noite de Poesia Religiosa pediu autorização para recitar um poema que tinha escrito intitulado 'A Minha Religião'. Disse-lhe que sim e o que ele recitou foi:
No Inverno sou budista,
E no Verão sou nudista.
E na nossa Noite de Poesia da Natureza pediu para recitar um poema dele intitulado Gaivota. Dei-lhe autorização, e ele levantou-se da cadeira e desatou a bater os braços, aos saltos e a gritar Scriiic! Scriiic! Scriiic! Era uma coisa aflitiva. Somos poetas sérios e não achamos bem este tipo de comportamentos.»"
(Joseph Mitchell, O Segredo de Joe Gould)
No Inverno sou budista,
E no Verão sou nudista.
E na nossa Noite de Poesia da Natureza pediu para recitar um poema dele intitulado Gaivota. Dei-lhe autorização, e ele levantou-se da cadeira e desatou a bater os braços, aos saltos e a gritar Scriiic! Scriiic! Scriiic! Era uma coisa aflitiva. Somos poetas sérios e não achamos bem este tipo de comportamentos.»"
(Joseph Mitchell, O Segredo de Joe Gould)
terça-feira, agosto 26, 2014
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"Um dia em que passeava pelas suas terras, em companhia de um primo, o velho Hafez - que tinha na altura os seus cinquenta anos - parou no meio dum campo e divisou uma forma escura no alto de um outeiro. O objecto estava bastante afastado e nem ele nem o primo podiam dizer exactamente o que aquilo era. «É uma cabra», declarou de rompante o velho Hafez. «É um milhafre», respondeu o primo. O velho Hafez chamou-lhe cego e persistiu na sua ideia. Daí a pouco, estando eles ainda a discutir, o objecto do litígio levantou voo, sumindo-se no horizonte. «Estás a ver que era um milhafre?», exclamou logo o primo, triunfante. O velho Hafez, porém, sem a menor perturbação, retorquiu: «Era uma cabra, mesmo que tenha levantado voo»."
(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)
(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)
segunda-feira, agosto 18, 2014
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"I am too fond of reading books to care to write them, Mr. Erskine."
(Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)
(Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)
sexta-feira, julho 25, 2014
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Há dias, elaborei uma pequena lista de pessoas que não poderiam existir num mundo perfeito. Hoje, ao conhecer Gustavo Santos, imaginei-o de imediato no rol dos eleitos. Depois, vi mais uns vídeos e reconsiderei: num mundo perfeito eu tenho de poder rir-me do ridículo...
sexta-feira, julho 11, 2014
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Vertigens, arre! Sempre as malditas vertigens. Era um apartamento em quase tudo semelhante aos outros, nem sequer especialmente alto para um terceiro andar. O único problema encontrava-se, de facto, nas vistas: demasiado desafogadas, pensava. Porque quando se punha a olhar através das janelas, era para dentro de si que espreitava...
sexta-feira, julho 04, 2014
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Há noites em que vislumbro a utopia, em que sou capaz de sonhar um mundo melhor, um mundo sem injustiça, sem miséria, sem fome, sem violência, sem guerra, sem Luís Freitas Lobo, sem Camilo Lourenço, sem Pedro Chagas Freitas, sem Henrique Raposo, sem João César das Neves, sem Valter Hugo Mãe, sem Carlos Gonzalez...
...
"Bem sabes como eu sou! Ora aqui está uma grandíssima presunção; e daquelas que podem ser muito fatais. Saber como nós somos! Nem nós próprios chegamos a sabê-lo."
(David Mourão-Ferreira, Tal e qual o que era)
(David Mourão-Ferreira, Tal e qual o que era)
Aubade
I work all day, and get half-drunk at night.
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain-edges will grow light.
Till then I see what’s really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
—The good not done, the love not given, time
Torn off unused—nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never;
But at the total emptiness for ever,
The sure extinction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says No rational being
Can fear a thing it will not feel, not seeing
That this is what we fear—no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision.
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace-fear when we are caught without
People or drink. Courage is no good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can’t escape,
Yet can’t accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offices, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
(Philip Larkin)
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain-edges will grow light.
Till then I see what’s really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
The mind blanks at the glare. Not in remorse
—The good not done, the love not given, time
Torn off unused—nor wretchedly because
An only life can take so long to climb
Clear of its wrong beginnings, and may never;
But at the total emptiness for ever,
The sure extinction that we travel to
And shall be lost in always. Not to be here,
Not to be anywhere,
And soon; nothing more terrible, nothing more true.
This is a special way of being afraid
No trick dispels. Religion used to try,
That vast moth-eaten musical brocade
Created to pretend we never die,
And specious stuff that says No rational being
Can fear a thing it will not feel, not seeing
That this is what we fear—no sight, no sound,
No touch or taste or smell, nothing to think with,
Nothing to love or link with,
The anaesthetic from which none come round.
And so it stays just on the edge of vision,
A small unfocused blur, a standing chill
That slows each impulse down to indecision.
Most things may never happen: this one will,
And realisation of it rages out
In furnace-fear when we are caught without
People or drink. Courage is no good:
It means not scaring others. Being brave
Lets no one off the grave.
Death is no different whined at than withstood.
Slowly light strengthens, and the room takes shape.
It stands plain as a wardrobe, what we know,
Have always known, know that we can’t escape,
Yet can’t accept. One side will have to go.
Meanwhile telephones crouch, getting ready to ring
In locked-up offices, and all the uncaring
Intricate rented world begins to rouse.
The sky is white as clay, with no sun.
Work has to be done.
Postmen like doctors go from house to house.
(Philip Larkin)
quinta-feira, junho 26, 2014
...
"Péricles deitou-se na cama, todo vestido, com a luz apagada. Finalmente percebeu, ao fim de meia vida, que a tensão da batalha e o apaziguamento podiam conviver no mesmo corpo."
(Alexandre Andrade, In Absentia)
(Alexandre Andrade, In Absentia)
...
"Status social sei o que é, e pode ser aberrante a minha insensibilidade ao fenómeno, mas continuo a achar aberrante esse desejo de diferenciação baseado na posse, na gente com quem se convive, nos lugares que se frequentam, naqueles onde se mora ou nos clubes a que se pertence.
Unam-se como nos rebanhos, aliem-se a quem quiserem ou puderem, achem-se importantes e diferentes, joguem golfe se isso socialmente os eleva, mas façam o favor de me deixar de fora."
(J. Rentes de Carvalho, O Meu Bairro, Revista Ler, Junho 2014)
Unam-se como nos rebanhos, aliem-se a quem quiserem ou puderem, achem-se importantes e diferentes, joguem golfe se isso socialmente os eleva, mas façam o favor de me deixar de fora."
(J. Rentes de Carvalho, O Meu Bairro, Revista Ler, Junho 2014)
segunda-feira, junho 16, 2014
...
Sempre que se iniciava o debate, afirmava peremptoriamente uma ideia: fundamental, dizia, é que se debatam as ideias. Depois, calava-se: era a única que tinha...
quinta-feira, maio 29, 2014
OS NÁUFRAGOS
Coincidiam no descontentamento face ao estado do país, que se vinha degradando há décadas. Idealistas, ambicionando desde sempre um mundo melhor, divergiam no entanto quanto à solução capaz de gerar uma ruptura profundamente transformadora. Todos os dias, ao amanhecer, desciam juntos até à praia...
- As coisas só podem mudar se as pessoas decidirem não votar. Ir às urnas é legitimar o exercício do poder, e está mais do que na altura de tirar a legitimidade a este poder que se vem perpetuando. A abstenção total representaria a falência do sistema, que não teria outra hipótese se não a de se refundar. É nisso que temos de investir, em convencer as pessoas a recusarem-se a participar no sufrágio, a não ir a jogo. O poder do direito de voto está em não exercer esse direito, e é disso que os partidos têm medo. "Se o voto mudasse alguma coisa, votar era proibido."
- Lá estás tu a fantasiar... Uma abstenção dessas nunca vai acontecer, estou farto de te dizer. Sabes bem que os aparelhos partidários movimentam muita gente. Haverá sempre quem vá às urnas, por inconsciência, por convicção, por conformismo, por fidelidade, por interesse, porque foi um direito que se conquistou, porque sim, porque não, eu sei lá porquê. E hão-de votar sempre nos mesmos, alternado aqui e ali. A abstenção favorece os partidos do "arco", consecutivamente eleitos por uma minoria que não se demite de lá ir fazer a cruzinha no boletim... Já para não falar do potencial espaço que abre à ascensão dos extremos... A solução passa por convencer quem se abstém a votar nos pequenos partidos com gente séria, que os há, e a dar a oportunidade a quem nunca pôs o cu no Parlamento. Há que levar gente nova para a Assembleia, baralhar tudo e voltar a dar. É disso que temos de convencer as pessoas. Toca a votar! "Se a abstenção mudasse alguma coisa, votar era obrigatório."
- Impossível. E dizes tu que estou a fantasiar... Nunca vais conseguir mobilizar toda a gente, nem sequer muita. A luta da maioria é outra, não vês? Procuram sobreviver, têm lá tempo para pensar a política. Já estou a imaginar o tipo lá da rua a ler programas eleitorais entre piropos à mulher do vizinho... Havia de ser giro: "Ó flor, com que partido te identificas mais quanto à questão da imigração? Dá para entrar, ou achas que é melhor não?" Não me faças rir... Só a abstenção tem hipóteses: parte não vai votar porque não é capaz de querer, a outra não vai porque escolhe não o fazer. Greve ao voto, é o que te digo...
- Isso nunca vai acontecer. Há sempre uma minoria que vota...
- Isso é que nunca vai acontecer. Há sempre uma maioria que não vota...
Pés na areia, aí se sentavam, dia após dia, já em silêncio, frente ao mar. E aí ficavam, embalados pelo vaivém da ondulação, olhos postos no espelho infinito, eternamente à espera de um barco que teimava em não passar...
- As coisas só podem mudar se as pessoas decidirem não votar. Ir às urnas é legitimar o exercício do poder, e está mais do que na altura de tirar a legitimidade a este poder que se vem perpetuando. A abstenção total representaria a falência do sistema, que não teria outra hipótese se não a de se refundar. É nisso que temos de investir, em convencer as pessoas a recusarem-se a participar no sufrágio, a não ir a jogo. O poder do direito de voto está em não exercer esse direito, e é disso que os partidos têm medo. "Se o voto mudasse alguma coisa, votar era proibido."
- Lá estás tu a fantasiar... Uma abstenção dessas nunca vai acontecer, estou farto de te dizer. Sabes bem que os aparelhos partidários movimentam muita gente. Haverá sempre quem vá às urnas, por inconsciência, por convicção, por conformismo, por fidelidade, por interesse, porque foi um direito que se conquistou, porque sim, porque não, eu sei lá porquê. E hão-de votar sempre nos mesmos, alternado aqui e ali. A abstenção favorece os partidos do "arco", consecutivamente eleitos por uma minoria que não se demite de lá ir fazer a cruzinha no boletim... Já para não falar do potencial espaço que abre à ascensão dos extremos... A solução passa por convencer quem se abstém a votar nos pequenos partidos com gente séria, que os há, e a dar a oportunidade a quem nunca pôs o cu no Parlamento. Há que levar gente nova para a Assembleia, baralhar tudo e voltar a dar. É disso que temos de convencer as pessoas. Toca a votar! "Se a abstenção mudasse alguma coisa, votar era obrigatório."
- Impossível. E dizes tu que estou a fantasiar... Nunca vais conseguir mobilizar toda a gente, nem sequer muita. A luta da maioria é outra, não vês? Procuram sobreviver, têm lá tempo para pensar a política. Já estou a imaginar o tipo lá da rua a ler programas eleitorais entre piropos à mulher do vizinho... Havia de ser giro: "Ó flor, com que partido te identificas mais quanto à questão da imigração? Dá para entrar, ou achas que é melhor não?" Não me faças rir... Só a abstenção tem hipóteses: parte não vai votar porque não é capaz de querer, a outra não vai porque escolhe não o fazer. Greve ao voto, é o que te digo...
- Isso nunca vai acontecer. Há sempre uma minoria que vota...
- Isso é que nunca vai acontecer. Há sempre uma maioria que não vota...
Pés na areia, aí se sentavam, dia após dia, já em silêncio, frente ao mar. E aí ficavam, embalados pelo vaivém da ondulação, olhos postos no espelho infinito, eternamente à espera de um barco que teimava em não passar...
segunda-feira, maio 26, 2014
...
"Once upon a time there was a bear and a bee who lived in a wood and were the best of friends. All summer long the bee collected nectar from morning to night while the bear lay on his back basking in the long grass. When winter came the bear realised he had nothing to eat and thought to himself: 'I hope that busy little bee will share some of his honey with me.' But the bee was nowhere to be found - he had died of a stress induced coronary disease."
(Banksy, Wall and Piece)
(Banksy, Wall and Piece)
...
"I believe that we should read only those books that bite and sting us. If a book we're reading does not rouse us with a blow to the head, then why read it?"
(Philip Roth)
(Philip Roth)
sexta-feira, maio 16, 2014
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"Aceitei como natural ser o dever da Alemanha, para bem da humanidade, impor o nosso modo de vida a raças e nações inferiores, as quais, talvez por causa da sua inteligência limitada, não compreenderiam os nossos propósitos."
(Henry Metelmann, Through Hell for Hitler)
(Henry Metelmann, Through Hell for Hitler)
Arte Peripoética
Aristóteles, visita
da casa de minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de ser
contra a maneira do tempo
esta maneira de ver
o que o tempo tem por dentro.
Aristóteles diria
entre dois goles de chá
que o melhor ainda será
deixar o tempo onde está
pô-lo de perto no tema
e de parte na poesia
para manter o poema
dentro da ordem do dia.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só.
Ele sabia que o poeta
depois de tudo inventado
depois de tudo previsto
de tudo vistoriado
teria de fazer isto
para não continuar
com que já estava acabado
teria de ser presente
não futuro antecipado
não profeta não vidente
mas aço bem temperado
cachorro ferrando o dente
na canela do passado
adaga cravando a ponta
no coração do sentido
palavra osso furando
pele de cão perseguido.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de riso
que é a mais original
forma de se ter juízo
e ser poeta actual.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
também diria antes só
do que mal acompanhado
antes morto emparedado
em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho
que não seja essencial
à evasão da palavra
deste silêncio mortal.
(Ary dos Santos, Adereços, Endereços, Lisboa, 1965)
da casa de minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de ser
contra a maneira do tempo
esta maneira de ver
o que o tempo tem por dentro.
Aristóteles diria
entre dois goles de chá
que o melhor ainda será
deixar o tempo onde está
pô-lo de perto no tema
e de parte na poesia
para manter o poema
dentro da ordem do dia.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só.
Ele sabia que o poeta
depois de tudo inventado
depois de tudo previsto
de tudo vistoriado
teria de fazer isto
para não continuar
com que já estava acabado
teria de ser presente
não futuro antecipado
não profeta não vidente
mas aço bem temperado
cachorro ferrando o dente
na canela do passado
adaga cravando a ponta
no coração do sentido
palavra osso furando
pele de cão perseguido.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de riso
que é a mais original
forma de se ter juízo
e ser poeta actual.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
também diria antes só
do que mal acompanhado
antes morto emparedado
em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho
que não seja essencial
à evasão da palavra
deste silêncio mortal.
(Ary dos Santos, Adereços, Endereços, Lisboa, 1965)
quinta-feira, maio 08, 2014
...
PROTESTO
Este tempo e este lugar
não fui eu que os escolhi.
Porque me exigem, então,
que a eles me subordine?
Quero dizer o que quero
e ir para o mundo que quero
pelo caminho que quero.
E, mesmo que mo não deixem,
não deixarei de querê-lo.
(Armindo Rodrigues)
Este tempo e este lugar
não fui eu que os escolhi.
Porque me exigem, então,
que a eles me subordine?
Quero dizer o que quero
e ir para o mundo que quero
pelo caminho que quero.
E, mesmo que mo não deixem,
não deixarei de querê-lo.
(Armindo Rodrigues)
sexta-feira, maio 02, 2014
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"A água estava quieta e escura, lisa como um espelho. [...] viu-se reflectido nela. Foi com ternura que se observou, numa carinhosa piedade por si mesmo. Para os espelhos nunca era invisível e, diante dos espelhos, achava-se belo e triste, solitário e pobre, sem nada nem ninguém, tendo apenas por companhia a sua imagem. E era por isso que tanto gostava de banhar-se nos rios, como se mergulhar neles e agitar-se nas águas fosse a maneira de unir-se àquela imagem fascinante que nunca, senão assim quebrada por ele mesmo, era invisível e unida a ele."
(Jorge de Sena, O Físico Prodigioso)
(Jorge de Sena, O Físico Prodigioso)
segunda-feira, abril 28, 2014
...
Quando morre uma personalidade de renome, Narciso aproveita a ocasião para lhe prestar a devida homenagem. Mas, sendo Narciso quem é, facilmente se compreende que o morto pouco importa, ou que importa apenas na medida em que serve de tribuna a partir da qual Narciso pode falar de si próprio: de como tinha o privilégio de conhecer tão ilustre falecido, de como fazia parte dos eleitos de tão exclusivo círculo social, de como o tratava por tu, etc., etc.. Olhem para mim, pede Narciso, depois de subir para cima do morto. Olhem para mim, repete, enquanto procura nos olhares que o fitam o reflexo admirável que é incapaz de encontrar frente ao espelho...
quinta-feira, abril 24, 2014
...
"Se tivesse de recomeçar a vida, recomeçava-a com os mesmos erros e paixões. Não me arrependo, nunca me arrependi. Perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído. Não me habituo: não posso ver uma árvore sem espanto, e acabo desconhecendo a vida e titubeando como comecei a vida. Ignoro tudo, acho tudo esplêndido, até as coisas vulgares: extraio ternura duma pedra. Não sei – nem me importo – se creio na imortalidade da alma, mas do fundo do meu ser agradeço a Deus ter-me deixado assistir um momento a este espectáculo desabalado da vida. Isso me basta. Isso me enche: levo-o para a cova, para remoer durante séculos e séculos, até ao juízo final. Nunca fui homem de acção e ainda bem para mim: tive mais horas perdidas..."
(Raul Brandão, Memórias)
(Raul Brandão, Memórias)
terça-feira, abril 22, 2014
...
"Ah, mas quem sou eu para falar assim! Não passo dum egoísta transcendente. Este desgosto de mim próprio, da vida e dos homens, que é senão vaidade ferida, ambição desmedida, orgulho inconfesso?... Tenho um conceito exagerado da minha importância. Volto-me então contra os outros, torno-os responsáveis das minhas falhas: e que podem eles fazer? em que lei está escrito que eles ou eu devamos ser bons, justos, superiores? Reclamar a perfeição não será a melhor forma de desistir, de dizer «não posso»? Exijam a um homem comum que seja santo, génio, ou puro, e ele, assustado, será incapaz de nos dar simplesmente o de que é capaz. Pedimos a Lua..."
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
segunda-feira, março 31, 2014
sexta-feira, março 28, 2014
segunda-feira, março 24, 2014
...
"Dera ultimamente em ficar até tarde na cama, a ler, a cismar, a fumar, empoçado em si mesmo, a esfiar sonhos e projectos, sobretudo a remexer em venenos de experiência, em lembranças incolores, em nada. Era o seu refúgio. Na melancolia dos dias de chuva, com o cigarro a queimar-lhe os dedos, sem coragem para ler o livro aberto na colcha ou caído no tapete esgarçado, via flutuar as imagens da sua fantasia no ecrã do céu baço e inexpressivo. Adivinhava a tristeza da rua lôbrega, onde o sol mal penetrava, os carros à cunha, o trovejar do tráfego, gritos e pregões, um cheiro de muares suadas, mais longe a agitação dos mercados e dos cais. O mundo em volta dele arfava, um ror de gente labutava desde cedo, e ele ali deitado a suar inquietação, ponto imóvel no centro do universo em movimento, à espera nem sabia de quê, deixando escoar o tempo irreversível. A actividade dos outros atraía-o e aterrava-o. Queria agir, organizar a existência, consagrar-se a alguém, a uma obra: mas todo o seu dinamismo era interior, como o do caleidoscópio: por fora um canudo negro."
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
...
"O grito duma sereia no Tejo rasgou o véu azul da manhã. Baltasar virou-se para as janelas e, com a face apoiada na mão esquerda, ficou a olhá-las. As andorinhas cortavam o ar, explorando os beirais familiares. Adivinhava-se o primeiro espreguiçamento da Primavera no ar quase tépido, e ao fundo, para lá do casario apinhado, a toalha do rio desdobrada ao sol. Nos telhados forrados de musgos, líquenes e gramíneas, enxugava a humidade dos chuveiros da véspera. Era bom estar assim ocioso, a olhar a luz tranquila e perdulária, a sentir crescer no peito e irradiar no corpo inteiro um hálito de íntima e quase dolorosa felicidade. Desejaria eternizar estes instantes, deter a marcha do tempo, ou ficar boiando nele como nas águas dum rio, inerte e ausente, sem pensar na vida, no futuro, no passado sobretudo, livre naquele anel de angústia em que a implacável lucidez do despertar lhe cingia o coração, gozar a paz do esquecimento, ser outra vez pequeno, sonhar um mundo hospitaleiro, não ter remorsos nem pena."
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
(José Rodrigues Miguéis, Idealista no Mundo Real)
terça-feira, março 18, 2014
...
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta."
(Guerra Junqueiro, Pátria, 1915)
(Guerra Junqueiro, Pátria, 1915)
terça-feira, fevereiro 18, 2014
...
"Cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho, dou-lhe o meu silêncio."
(Raduan Nassar, Menina a caminho)
(Raduan Nassar, Menina a caminho)
terça-feira, fevereiro 11, 2014
...
"Tais obras são como espelhos; se um macaco olhar para dentro delas, nunca poderá ver um apóstolo."
(Lichtenberg)
(Lichtenberg)
quarta-feira, janeiro 22, 2014
...
"O doutor teve a ideia de lhe pedir o caderno que lhe entregara para aí escrever as suas memórias e onde ainda apenas se lia:
A verdade sobre o caso de Kees Popinga.
O doutor erguia uns olhos cheios de espanto, com ar de perguntar a si mesmo por que motivo o seu cliente não escrevera mais. E Popinga, com um sorriso constrangido, julgou-se obrigado a murmurar:
- Não há verdade, pois não?"
(Georges Simenon, O Homem Que Via Passar os Comboios)
A verdade sobre o caso de Kees Popinga.
O doutor erguia uns olhos cheios de espanto, com ar de perguntar a si mesmo por que motivo o seu cliente não escrevera mais. E Popinga, com um sorriso constrangido, julgou-se obrigado a murmurar:
- Não há verdade, pois não?"
(Georges Simenon, O Homem Que Via Passar os Comboios)
segunda-feira, janeiro 13, 2014
...
"It is only here, in solitude, that I might come to myself and become conscious of myself. For since that panic fear which overcame me that time, all I have tried has been to avert my eyes and close my ears. — If I am to find the way back to myself again, I must surrender to the horrors of loneliness. But fundamentally I am only speaking in riddles, for you do not know what has been and still is going on in me; but it is certainly not that hypochondriac fear of death, as you suppose. I had already realized that I shall have to die. But without trying to explain or describe you something for which there are perhaps no words at all, I’ll just tell you that at a blow I have simply lost all the clarity and quietude I ever achieved... and now at the end of life am again a beginner who must find his feet."
(Gustav Mahler, letter to Bruno Walter, July 1908)
(Gustav Mahler, letter to Bruno Walter, July 1908)
sexta-feira, janeiro 10, 2014
...
Há quem diga que seria uma grande maçada, a imortalidade física.
Eu acho que não.
Pelo menos cansativa.
Não, o Homem não se cansa de viver. E nós vemos que é mais fácil morrer em jovem, que morrer em velho. Há um livro de um escritor francês, de que não me ocorre o nome, em que há um homem distinto, um médico, que chega ao fim da vida e a quem o filho tenta convencer — quando ele já está para morrer, já moribundo — que é natural que a pessoa velha, que viveu muito, morra, que não tem de sentir pena por morrer. E o pai diz: "Pois é, por isso mesmo; porque vivi muito e porque sei o que é viver é que tenho pena, por isso é que me custa muito mais."
(Agustina Bessa-Luís, entrevistada para a revista Ler, 2003)
Eu acho que não.
Pelo menos cansativa.
Não, o Homem não se cansa de viver. E nós vemos que é mais fácil morrer em jovem, que morrer em velho. Há um livro de um escritor francês, de que não me ocorre o nome, em que há um homem distinto, um médico, que chega ao fim da vida e a quem o filho tenta convencer — quando ele já está para morrer, já moribundo — que é natural que a pessoa velha, que viveu muito, morra, que não tem de sentir pena por morrer. E o pai diz: "Pois é, por isso mesmo; porque vivi muito e porque sei o que é viver é que tenho pena, por isso é que me custa muito mais."
(Agustina Bessa-Luís, entrevistada para a revista Ler, 2003)
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Montevideu mudou muito desde essa altura... Por exemplo, o riacho Quitacalzones já não existe, foi canalizado.
Sim, mas para mim os lugares não mudam porque eu estou cego desde 1955. Continuo a ver o que já não existe, continuo a ver caras que possivelmente envelheceram, nada mais.
[...]
Você disse que ainda estava a averiguar quem é Borges, mas à primeira vista parece ser um todo composto por livros de ficção, de poesia e uma extensa memória dos seus mortos... Um pouco como a antítese da ignorância. E, ainda por cima, chamam-lhe "o Mestre"...
Evidentemente... Mas você está a idealizar-me generosamente, parece-me. Eu não sou mestre de ninguém, eu sou discípulo de todos.
(Jorge Luis Borges, entrevistado por Mario Delgado Aparaín, 1980)
Sim, mas para mim os lugares não mudam porque eu estou cego desde 1955. Continuo a ver o que já não existe, continuo a ver caras que possivelmente envelheceram, nada mais.
[...]
Você disse que ainda estava a averiguar quem é Borges, mas à primeira vista parece ser um todo composto por livros de ficção, de poesia e uma extensa memória dos seus mortos... Um pouco como a antítese da ignorância. E, ainda por cima, chamam-lhe "o Mestre"...
Evidentemente... Mas você está a idealizar-me generosamente, parece-me. Eu não sou mestre de ninguém, eu sou discípulo de todos.
(Jorge Luis Borges, entrevistado por Mario Delgado Aparaín, 1980)
quarta-feira, janeiro 08, 2014
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"Quando ia a sair, agradeci-lhe brevemente. Ele sorriu e não respondeu. Depois, antes de fechar a porta, disse-me: «Cega, a Ciência a inútil gleba lavra. Louca, a Fé vive o sonho do seu culto. Um novo deus é só uma palavra. Não procures nem creias: tudo é oculto». Desci os poucos degraus e dei alguns passos na alameda de seixos. Depois percebi de repente e voltei-me rapidamente: eram versos de um poema de Pessoa [...]"
(Antonio Tabucchi, Nocturno Indiano)
(Antonio Tabucchi, Nocturno Indiano)
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"O amor à pátria torna-se um verdadeiro fantasma perante o espírito de um homem por ela oprimido."
(Giacomo Casanova, História da Minha Vida, Livro 4)
(Giacomo Casanova, História da Minha Vida, Livro 4)
segunda-feira, janeiro 06, 2014
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Qual foi a entrevista que lhe deu mais gozo?
Numa das primeiras que fiz, vinha de uma reportagem em Espanha e cacei um pastor. Vinha com quatro ovelhas e assustou-se porque pensou que eu fosse um fiscal de alguma daquelas coisas que os alentejanos tanto temem. E eu era pior que fiscal. Era uma figura que ele não conhecia de parte nenhuma, com um gravador na mão, e um livro de apontamentos na outra mão e na outra mão a esferográfica, já vamos em três mãos... As ovelhas espantaram-se e fugiram. Lá foi recoleccionar as ovelhas, que se assustaram uma segunda vez quando o repórter fotográfico avançou, era o Joaquim Lobo. Acabei por me sentar no chão e disse: «Ó senhor Ludgero vamos então conversar.» E ele: «Ah, é para conversar!» Abriu-se-lhe o entendimento. [...]
(Fernando Assis Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1994)
Numa das primeiras que fiz, vinha de uma reportagem em Espanha e cacei um pastor. Vinha com quatro ovelhas e assustou-se porque pensou que eu fosse um fiscal de alguma daquelas coisas que os alentejanos tanto temem. E eu era pior que fiscal. Era uma figura que ele não conhecia de parte nenhuma, com um gravador na mão, e um livro de apontamentos na outra mão e na outra mão a esferográfica, já vamos em três mãos... As ovelhas espantaram-se e fugiram. Lá foi recoleccionar as ovelhas, que se assustaram uma segunda vez quando o repórter fotográfico avançou, era o Joaquim Lobo. Acabei por me sentar no chão e disse: «Ó senhor Ludgero vamos então conversar.» E ele: «Ah, é para conversar!» Abriu-se-lhe o entendimento. [...]
(Fernando Assis Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1994)
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"Ficou a memória que tenho deles, a memória fotográfica, ficaram os livros, alguns escritos, sobretudo do meu pai, cartas, e ficou o silêncio. Vim a descobrir aquilo que já tinha lido em livros: a morte é o silêncio. Nunca mais oiço a voz deles. Às vezes, durante a noite, estou para adormecer, parece-me ouvir o meu pai falar. [É agora uma voz comovida.] Procuro que essa sensação não se prolongue, é insuportável e às vezes tenho a ilusão de que, tocando o telefone, é a minha mãe que vai falar do outro lado."
(Fernando Assis Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1994)
(Fernando Assis Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1994)
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A morte assusta-o?
Assustava muito e ainda me assusta, mas agora também não posso esperar muito. Quando aparecer, já estou com os copos.
(Luiz Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1995)
Assustava muito e ainda me assusta, mas agora também não posso esperar muito. Quando aparecer, já estou com os copos.
(Luiz Pacheco, entrevistado para a revista Ler, 1995)
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