"Gould tem em fraca conta a maior parte dos escritores, poetas, pintores e escultores da Village, e não se inibe de o dizer. Como resultado de tal franqueza, nunca foi admitido como membro de nenhuma organização nem nenhum ismo artístico, literário ou cultural. Há dez anos que tenta entrar para o Raven Poetry Circle, que organiza todos os verões uma mostra de poesia em Washington Square e é a organização mais influente do género na Village, mas tem sido sempre recusado. [...] «Permitimos ao Sr. Gould assistir às nossas sessões, e gostaríamos de o poder deixar entrar para membro, mas realmente não é possível», explicou uma vez o Sr. McCrudden. «Não leva a poesia a sério. Costumamos servir vinho nas nossas sessões, e essa é a única razão por que lá vai. Às vezes insiste em ler uns poemas absurdos escritos por ele, que nos fazem perder a paciência. Na nossa Noite de Poesia Religiosa pediu autorização para recitar um poema que tinha escrito intitulado 'A Minha Religião'. Disse-lhe que sim e o que ele recitou foi:
No Inverno sou budista,
E no Verão sou nudista.
E na nossa Noite de Poesia da Natureza pediu para recitar um poema dele intitulado Gaivota. Dei-lhe autorização, e ele levantou-se da cadeira e desatou a bater os braços, aos saltos e a gritar Scriiic! Scriiic! Scriiic! Era uma coisa aflitiva. Somos poetas sérios e não achamos bem este tipo de comportamentos.»"
(Joseph Mitchell, O Segredo de Joe Gould)
quinta-feira, agosto 28, 2014
terça-feira, agosto 26, 2014
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"Um dia em que passeava pelas suas terras, em companhia de um primo, o velho Hafez - que tinha na altura os seus cinquenta anos - parou no meio dum campo e divisou uma forma escura no alto de um outeiro. O objecto estava bastante afastado e nem ele nem o primo podiam dizer exactamente o que aquilo era. «É uma cabra», declarou de rompante o velho Hafez. «É um milhafre», respondeu o primo. O velho Hafez chamou-lhe cego e persistiu na sua ideia. Daí a pouco, estando eles ainda a discutir, o objecto do litígio levantou voo, sumindo-se no horizonte. «Estás a ver que era um milhafre?», exclamou logo o primo, triunfante. O velho Hafez, porém, sem a menor perturbação, retorquiu: «Era uma cabra, mesmo que tenha levantado voo»."
(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)
(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)
segunda-feira, agosto 18, 2014
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"I am too fond of reading books to care to write them, Mr. Erskine."
(Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)
(Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)
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