quarta-feira, agosto 25, 2010

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"De acordo com a minha terrena e miserável mente euclidiana, sei apenas que o sofrimento existe, que não existem culpados, que as coisas decorrem umas das outras directa e simplesmente, que tudo corre e se equilibra... mas trata-se apenas de um absurdo euclidiano, sei bem que é assim e não poderia concordar em viver de acordo com ele! Quero lá saber que não haja culpados e que eu tenha consciência disso, preciso de expiação, senão mato-me. E esta expiação não deve acontecer num infinito qualquer e sem se saber quando, mas aqui e agora, na Terra, para que eu a veja com os meus olhos. Eu tinha fé, e agora quero ver eu próprio e se, na altura de ver, já estiver morto, que me ressuscitem porque, se tudo acontecer sem mim será demasiado injusto. Será que sofri tanto para adubar comigo mesmo, com a minha perversidade e o meu sofrimento, uma futura harmonia para os outros? Quero ver com os meus próprios olhos o gamo a deitar-se ao lado do leão e o degolado a levantar-se e a abraçar o seu assassino. Quero cá estar quando todos, de repente, souberem porque foi tudo assim."
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)

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