"Um regador, um ancinho abandonado no campo, um cão ao sol [...], cada um destes objectos, e mil outros parecidos, sobre os quais os olhos normalmente passam com natural indiferença, pode de repente, a qualquer momento, ganhar para mim um carácter sublime e comovedor que a totalidade do vocabulário me parece demasiado pobre para o poder expressar." (Hoffmannsthal, Carta de Lord Chandos)
"Em resumo: nesses dias, num estado de embriaguez permanente, toda a existência se me apresentava, então, como uma grande unidade: entre o mundo espiritual e o mundo material parecia não existir qualquer contraste, tão-pouco entre as maneiras corteses e as brutais, entre a arte e a barbárie, entre a solidão e a sociedade; em tudo sentia a presença da Natureza, tanto nas aberrações da loucura como nos requintes mais extremos dum cerimonial espanhol; nas boçalidades de jovens camponeses não menos que nas mais delicadas alegorias; e em todas as expressões da Natureza sentia-me a mim mesmo; quando, na cabana de caça, me dessedentava com o leite espumoso e morno que, das tetas duma bela vaca de olhos meigos, uma rapariga de cabelos desgrenhados mungia para um balde de madeira, em nada era esta experiência para mim diferente de quando, sentado no banco da janela do meu estúdio, o meu espírito absorvia o suave e espumoso alimento dum livro. [...]" (ibid.)
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