sexta-feira, junho 08, 2012

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"Para não melindrar ninguem apresento como exemplo uma creada que eu tive, que namorou quasi todo o regimento d'Infantaria 23. [...] Socialmente o namoro é, pois, a relação que se estabele entre duas ou mais pessoas de sexo diferente, a brincar ou a serio, conforme o temperamento de cada um."

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"Assim diz a «Escola Historica»: «O namoro é a troca elevada e nobre de impressões entre duas almas, que por afinidades reciprocas se encontraram na sugestão dum olhar, ou na permuta dum sorriso. É belo porque é puro como a neve da montanha, e num alheamento completo ha dois seres que vivem longe. [...] Por seu turno contesta a «Escola Radical»: «O namoro é um furioso ataque d'estupidez que ataca a mocidade, quasi sempre de consequencias funestas pelos gastos a que obriga em papel e estampilhas, e pelas constipações que origina quando pela calada da noite os dois malucos se dizem chuchices.» [...] Estas são em resumo as doutrinas dos seculos passados, cheirando a bafio d'alfarrabios, dispersas por calhamaços em velhos casarões, onde as foi buscar a evolução para as transformar, e lhes restituir a vida, construindo sobre os seus alicerces o gigantesco edifico da «Escola Intermedia». E quando outro valor esta não tivesse, teria vindo acabar com o velho preconceito de que o namoro se realisa só entre duas pessoas. Puro engano, minhas Senhoras e meus Senhores; tal disposição viria coarctar um dos mais sagrados direitos do homem: a liberdade individual. Nada impede, e a propria natureza o não contraria, que o homem sinta ao mesmo tempo uma serie de paixões, catalogadas com ordem e metodo, egual direito se concedendo ao sexo fragil."

(Elmano de Moraes da Cunha e Costa, O Namôro, 1916)

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