segunda-feira, março 27, 2017

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Gemidos e queixumes interrompem a noite, e eu corro para o teu quarto. Não chegas a abrir os olhos... Estás quente. Afastaste a manta com que te havia coberto receando que tivesses frio. Afinal, tiveste calor. Não volto a tapar-te... Sabendo-me ajoelhado junto a ti, procuras o meu pescoço com a tua mão, braço todo estendido, em busca do consolo que encontras em ficar a beliscar-mo... Não deixo. Agarro-te a mão e fico assim, no escuro, a ver-te dormir, a minha mão a segurar a tua...

Fecho os olhos por um instante e perco o quando: subitamente, já não é a minha mão que envolve a tua mão de menino, mas é a tua mão de homem que envolve a minha mão de velho, agora rugosa, descarnada, ossuda e macilenta... E nesta visão passageira da noite que pode vir, vivo o espanto de descobrir que o amor que sinto por aquele cuja pequena mão envolvia, é o amor que sinto por aquele cuja mão agora me envolve...

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