terça-feira, maio 25, 2010

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"Olharei a morte com um rosto tão calmo (...). Submeter-me-ei a todos os trabalhos, por mais rudes que sejam, sustentando o corpo através da alma. Desprezarei igualmente as riquezas, quer estejam presentes ou ausentes, e não ficarei mais triste quando se encontrarem fora de minha casa, nem mais orgulhoso se me rodearem com o seu brilho. Permanecerei insensível às idas e vindas da sorte. Considerarei todas as terras como minhas e as minhas como pertencendo as todos. Viverei com o pensamento de que nasci para os outros e agradecerei à natureza, pois não sei como poderia ela salvaguardar melhor os meus interesses! Ela deu-me a todos, ela deu-me todos. Tudo o que tiver, nem o guardarei de um modo sórdido, nem o desperdiçarei de modo pródigo. Pensarei que nada possuo de melhor do que aquilo que dou como deve ser. Não avaliarei os benefícios, nem pelo seu número, nem pelo seu peso, mas apenas segundo a estima que me merecer aquele que o recebe. Nunca pensarei que dou de mais àquele que é digno de receber, Não farei nada por causa da opinião dos outros, farei tudo de acordo com a minha consciência. Pensarei que toda a gente me olha quando for a única testemunha dos meus actos... Na bebida e na comida terei como único objectivo a satisfação das necessidades naturais, e não encher e depois esvaziar o estômago. Serei agradável para com os meus amigos, indulgente e afável para os inimigos. Ficarei convencido mesmo antes que me peçam e anteciparei os pedidos honestos. Terei em conta que a minha pátria é o universo, governado pelos deuses que estão acima de mim e em volta de mim vigiando os meus actos e as minhas palavras. Quando a natureza me voltar a pedir a vida ou quando a minha razão a fizer cessar, partirei testemunhando que acarinhei a consciência honesta e os nobres estudos, e que não prejudiquei a liberdade de ninguém, e a minha menos do que qualquer outra." (Séneca, Da Vida Feliz)

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