sexta-feira, abril 19, 2013

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"Tu, aos vinte anos. Depois, aos vinte e dois, já tão revolucionariamente liberta dos preconceitos de dois anos antes que até condescendeste, a meu pedido, durante as férias grandes na Foz do Arelho, a que por mais de uma vez te visse inteiramente nua, dentro da barraca de lona isoladamente armada diante do mar, aonde ofegantes chegávamos, manhã cedo, por caminhos diferentes, com um avanço de mais de duas horas sobre a hora de chegada das tuas tias (e era preciso que eu entretanto me escapasse para junto da lagoa, e a toda a gente desse a impressão de que tinha vindo directamente da povoação da praia), mas que minutos esses - ah, que minutos fabulosos! - a ardermos de febre e a tremermos de frio na manhã invariavelmente enevoada, completamente nus, e de pé, perturbados, extáticos, um ao lado do outro, um defronte do outro, de uma das vezes mesmo ambos deitados na areia húmida quase por cima um do outro, e tu com a boca torcida, os olhos alterados, as coxas apertadas em torno da minha mão, mas sem receio já de por instantes gemeres, e eu maravilhado e orgulhoso, deslumbrado e confuso, ao mesmo tempo quase em pânico, por tão de súbito verificar que também vibravas, e que não eram só as outras, venais ou não, já bem rodadas, muitos experientes, que entre as coxas detinham o monopólio do prazer." (David Mourão-Ferreira, Um Amor Feliz)

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