"Gould tem em fraca conta a maior parte dos escritores, poetas, pintores e escultores da Village, e não se inibe de o dizer. Como resultado de tal franqueza, nunca foi admitido como membro de nenhuma organização nem nenhum ismo artístico, literário ou cultural. Há dez anos que tenta entrar para o Raven Poetry Circle, que organiza todos os verões uma mostra de poesia em Washington Square e é a organização mais influente do género na Village, mas tem sido sempre recusado. [...] «Permitimos ao Sr. Gould assistir às nossas sessões, e gostaríamos de o poder deixar entrar para membro, mas realmente não é possível», explicou uma vez o Sr. McCrudden. «Não leva a poesia a sério. Costumamos servir vinho nas nossas sessões, e essa é a única razão por que lá vai. Às vezes insiste em ler uns poemas absurdos escritos por ele, que nos fazem perder a paciência. Na nossa Noite de Poesia Religiosa pediu autorização para recitar um poema que tinha escrito intitulado 'A Minha Religião'. Disse-lhe que sim e o que ele recitou foi:
No Inverno sou budista,
E no Verão sou nudista.
E na nossa Noite de Poesia da Natureza pediu para recitar um poema dele intitulado Gaivota. Dei-lhe autorização, e ele levantou-se da cadeira e desatou a bater os braços, aos saltos e a gritar Scriiic! Scriiic! Scriiic! Era uma coisa aflitiva. Somos poetas sérios e não achamos bem este tipo de comportamentos.»"
(Joseph Mitchell, O Segredo de Joe Gould)
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