terça-feira, agosto 26, 2014

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"Um dia em que passeava pelas suas terras, em companhia de um primo, o velho Hafez - que tinha na altura os seus cinquenta anos - parou no meio dum campo e divisou uma forma escura no alto de um outeiro. O objecto estava bastante afastado e nem ele nem o primo podiam dizer exactamente o que aquilo era. «É uma cabra», declarou de rompante o velho Hafez. «É um milhafre», respondeu o primo. O velho Hafez chamou-lhe cego e persistiu na sua ideia. Daí a pouco, estando eles ainda a discutir, o objecto do litígio levantou voo, sumindo-se no horizonte. «Estás a ver que era um milhafre?», exclamou logo o primo, triunfante. O velho Hafez, porém, sem a menor perturbação, retorquiu: «Era uma cabra, mesmo que tenha levantado voo»."

(Albert Cossery, Mandriões no Vale Fértil)

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