"Há uma mulher muito viva, chama-se Albertina, talvez conheças, foi corista e mesmo actriz, ela faz questão em repetir. Pergunto-lhe como veio até aqui, ela conta. E então o merceeiro fez-se ao piso - e eu precisava da mercearia, o doutor calcula - e eu calculava. Mas era muito mau na cama. Fazia os seus preparativos, é claro, mas depois quando metia, cuspia logo, e eu ficava em brasa, deve calcular - e eu calculava. Mas tinha um irmão, oh, isso era um homem como nunca há-de haver outro. Eram beijos devagar, era muito lento, sempre, beijos devagar desde as pernas e depois, mesmo onde se não esperava, mesmo aí e com demora, sim senhor, e depois por ali acima e eu estava já a arder e dizia-lhe mete, mete, pelas cinco chagas de Cristo mete já, e ele metia mas sempre devagar. Às vezes tirava ainda ou brincava à entrada e eu já não podia mais e ele sempre metendo por fim até ao fundo e eu dizia-lhe mexe-te, pelo amor de Deus, mexe-te de uma vez e ele enfim começava mas eu já não aguentava mais e rebentava toda por dentro e ele então acelerava e aí eu estoirava duas três dez vezes e eu só lhe dizia acaba tu também, mas ele devagar não acabava e às tantas eu não podia mais e empurrava-o com toda a força mas ele agarrava-se como uma lapa, queria também a sua parte, e muito tempo depois, finalmente, ele dava também o seu estoiro e aí então eu atirava com ele para os infernos com ódio, tinha-lhe raiva de tanto gozo e ele muito calmo vestia-se e quando já se ia embora eu tinha pena ou não sei o que era, e se ele não vinha ter comigo até dois ou três dias, ia eu doida à procura dele.
- E o irmão?
- Não achava mal, ficava tudo em família. E depois eu tinha mais paciência com ele [...]
(Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra)
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