quarta-feira, novembro 06, 2013

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"Conta uma velha piada da República Democrática Alemã que um trabalhador alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda a sua correspondência será lida pelos censores, ele diz aos amigos: «Vamos combinar um código: se receberem uma carta minha escrita com tinta azul, ela é verdadeira; se a tinta for vermelha, é falsa.» Passado um mês, os amigos receberam a primeira carta, escrita a azul: «Tudo é uma maravilha por aqui: as lojas estão abastecidas, a comida é abundante, os apartamentos são amplos e aquecidos, os cinemas exibem filmes ocidentais, há mulheres lindas prontas para um romance — a única coisa que não temos é tinta vermelha.» Esta situação não é a mesma que vivemos hoje? Temos toda a liberdade que desejamos, a única coisa que nos falta é a «tinta vermelha»: «sentimo-nos livres» porque nos falta a linguagem para articular a nossa falta de liberdade. O que a falta de tinta vermelha significa é que, hoje, todos os principais termos que usamos para designar o conflito atual — «guerra ao terrorismo», «democracia e liberdade», «direitos humanos», etc., etc. — são termos falsos, que mistificam a nossa perceção da situação, em vez de permitirem que pensemos nela."

(Slavoj Žižek, O Ano em que Sonhámos Perigosamente)

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