segunda-feira, abril 28, 2014

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Quando morre uma personalidade de renome, Narciso aproveita a ocasião para lhe prestar a devida homenagem. Mas, sendo Narciso quem é, facilmente se compreende que o morto pouco importa, ou que importa apenas na medida em que serve de tribuna a partir da qual Narciso pode falar de si próprio: de como tinha o privilégio de conhecer tão ilustre falecido, de como fazia parte dos eleitos de tão exclusivo círculo social, de como o tratava por tu, etc., etc.. Olhem para mim, pede Narciso, depois de subir para cima do morto. Olhem para mim, repete, enquanto procura nos olhares que o fitam o reflexo admirável que é incapaz de encontrar frente ao espelho...

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