"A água estava quieta e escura, lisa como um espelho. [...] viu-se reflectido nela. Foi com ternura que se observou, numa carinhosa piedade por si mesmo. Para os espelhos nunca era invisível e, diante dos espelhos, achava-se belo e triste, solitário e pobre, sem nada nem ninguém, tendo apenas por companhia a sua imagem. E era por isso que tanto gostava de banhar-se nos rios, como se mergulhar neles e agitar-se nas águas fosse a maneira de unir-se àquela imagem fascinante que nunca, senão assim quebrada por ele mesmo, era invisível e unida a ele."
(Jorge de Sena, O Físico Prodigioso)
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1 comentário:
Nas palavras de Confúcio, tudo tem beleza, mas nem todos a conseguem ver. Se os espelhos por vezes nos desiludem com a sua frieza de objecto inanimado, o reflexo da água desperta uma felicidade serena com um poder místico. Acho que a ondulação, até dum lago, reflecte de volta um pouco do amor que a natureza oferece sem pedir nada em troca.
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