sexta-feira, dezembro 17, 2010
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"Não penses que a sabedoria é feita do que se acumulou. Porque ela é feita apenas do que resta depois do que se deitou fora." (Vergílio Ferreira)
quinta-feira, dezembro 16, 2010
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"Há os livros que antes de lidos já estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e que pedimos humildemente que se deixem ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam ler de uma vez para sempre." (Vergílio Ferreira, Escrever)
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"Quais são as tuas palavras essenciais? As que restam depois de toda a tua agitação e projectos e realizações. As que esperam que tudo em si se cale para elas se ouvirem. As que talvez ignores por nunca as teres pensado. As que podem sobreviver quando o grande silêncio se avizinha." (Vergílio Ferreira, Escrever)
quarta-feira, dezembro 15, 2010
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"Exige-se, para o perfeito amor, que o amado ame o amante; que este ame, em si próprio, o amante que ama o amado e que o amado ama, o mesmo tendo de haver no correspondente. Que os amantes amem nos amados os amantes que a eles os amam. Ou, mais simples: que o amor se ame." (Agostinho da Silva)
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"Todo o homem é diferente de mim e único no Universo; não sou eu, por conseguinte, quem tem de reflectir por ele, não sou eu quem sabe o que é melhor para ele, não sou quem tem de lhe traçar o caminho; com ele só tenho o direito, que é ao mesmo tempo um dever: o de ajudar a ser ele próprio; como o dever essencial que tenho comigo é o de ser o que sou, por muito incómodo que tal seja, e tem sido, para mim mesmo e para os outros." (Agostinho da Silva)
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"Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama." (Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo)
terça-feira, dezembro 14, 2010
Aprendizado
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
(Ferreira Gullar)
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
(Ferreira Gullar)
segunda-feira, dezembro 13, 2010
O que se foi
O que se foi se foi.
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.
Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.
Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.
Então por que me faz
o coração bater tão forte?
(Ferreira Gullar)
Se algo ainda perdura
é só a amarga marca
na paisagem escura.
Se o que se foi regressa,
traz um erro fatal:
falta-lhe simplesmente
ser real.
Portanto, o que se foi,
se volta, é feito morte.
Então por que me faz
o coração bater tão forte?
(Ferreira Gullar)
domingo, dezembro 12, 2010
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"A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo." (Montesquieu)
sexta-feira, dezembro 10, 2010
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"I once had a sparrow alight upon my shoulder for a moment, while I was hoeing in a village garden, and I felt that I was more distinguished by that circumstance that I should have been by any epaulet I could have worn." (Henry David Thoreau)
terça-feira, dezembro 07, 2010
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"Tu és jovem e anseias por casamento e filhos. Mas pergunto, és homem que ouses desejar um filho? És acaso um vitorioso; um dominador de ti próprio, um comandante dos sentidos, um senhor das tuas virtudes? - Ou no teu desejo só fala o animal, a necessidade? Ou a solidão? Ou a discórdia contigo mesmo? Eu quero que a tua vitória e liberdade desejem um filho. Construirás um monumento vivo sobre a tua vitória e liberdade. Construirás para além de ti mesmo. Mas, primeiro, tens de construir-te sólido de alma e corpo. Não apenas propagar, mas propagar-se para cima! Casamento: assim eu chamo à vontade de dois para criar um que seja mais que aqueles que o geraram." (Friedrich Nietzsche, Assim Falava Zaratrusta)
segunda-feira, dezembro 06, 2010
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"Antes conservava-me muito perto das pessoas, à superfície da solidão, bem decidido, em caso de alarme, a refugiar-me no meio delas." (Jean-Paul Sartre, A Náusea)
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"Acho que fui eu que mudei: é a solução mais simples. A mais desagradável também. Mas, enfim, tenho de reconhecer que sou sujeito a estas transformações súbitas. Sucede que só muito raras vezes penso; assim uma infinidade de pequenas metamorfoses vai-se acumulando em mim sem eu dar por isso, e depois, um belo dia, produz-se uma verdadeira revolução." (Jean-Paul Sartre, A Náusea)
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Crazy & Saints
I choose my friends not by their skin or other archetype, but by the pupil.
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I'm not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I'll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don't want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they daunt doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don't just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn't laugh together doesn't know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don't want foreseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don't want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don't forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they're never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that 'normalcy' is a sterile and imbecile illusion.
(Oscar Wilde)
They have to have questioning shine and unsettled tone.
I'm not interested in the good spirits or the ones with bad habits.
I'll stick with the ones that are made of me being crazy and blessed.
From them, I don't want an answer, I want to be reviewed.
I want them to bring me doubts and fears and to tolerate the worst of me.
But that only being crazy.
I want saints, so they daunt doubt differences and ask for forgiveness for injustices.
I choose my friends for their clean face and their soul exposed.
I don't just want a man or a skirt, I also want his greatest happiness.
A friend that doesn't laugh together doesn't know how to cry together.
All my friends are like that, half foolish, half serious.
I don't want foreseen laughter or cries full of pity.
I want serious friends, those that make reality their fountain of knowledge, but that fight to keep fantasy alive.
I don't want adult or boring friends.
I want half kids and half elderly.
Kids, so they don't forget the value of the wind blowing on their faces and elderly people so they're never in a hurry.
I have friends to know who I am.
Then seeing them as clowns and serious, crazy and saints, young and old, I will never forget that 'normalcy' is a sterile and imbecile illusion.
(Oscar Wilde)
terça-feira, novembro 30, 2010
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"As pessoas tomam toda esta comédia por qualquer coisa de muito sério, mesmo as que são dotadas de um intelecto a toda a prova. É nisso que reside a tragédia delas. E sofrem, é claro, mas... em compensação, vivem, vivem realmente e não ilusoriamente, porque a vida é isso mesmo: sofrimento. Sem sofrimento, que graça teria a vida? Tudo se transformaria num infinito Te Deum: isso é coisa santa, mas um pouco enfadonha. (Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
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"Nos sonhos, e especialmente nos pesadelos, causados por, digamos, desarranjos estomacais, ou por qualquer outra coisa, o homem por vezes vê coisas tão artísticas, vê uma realidade tão complexa e verosímil, acontecimentos, ou mesmo séries completas de acontecimentos com um enredo a ligá-los e com pormenores tão inesperados, desde as vossas manifestações mais sublimes até ao mero botão de punho, que nem o próprio Lev Tolstói, juro-te, seria capaz de inventar."
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
sexta-feira, novembro 26, 2010
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Passo a vida a sonhar outros mundos, e, por vezes, sonho mundos em que me encontro a sonhar este...
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"Congrego os fantasmas dos velhos piratas em torno do silêncio... Solto as amarras da eterna solidão, firmo as mãos calejadas no leme, sem prender, e derramo na imensidão do horizonte as mais íntimas perplexidades. Acordo a manhã funda com um grito: "Mar à vista! Mar à vista!" Sou dono do porvir, mestre dos ventos e senhor das tempestades..."
(Manuel Albernoa)
(Manuel Albernoa)
sexta-feira, novembro 19, 2010
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"Não basta possuí-la. Quero que ela se me abandone."
(Pierre-Ambrose Choderlos de Laclos, As ligações perigosas)
(Pierre-Ambrose Choderlos de Laclos, As ligações perigosas)
quinta-feira, novembro 18, 2010
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"Há dias em que tudo o que vejo me parece pleno de significado: mensagens que me seria difícil comunicar a outros, definir, traduzir por palavras, mas que precisamente por isso se me apresentam como decisivas. São anúncios ou presságios que me dizem respeito a mim mesmo e ao mundo ao mesmo tempo: e de mim, não os acontecimentos exteriores da existência mas o que acontece cá dentro, no fundo; e do mundo não um facto singular qualquer mas o modo de ser geral de tudo." (Italo Calvino, Se numa noite de Inverno um viajante)
quarta-feira, novembro 17, 2010
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"Na concreção que se formava, a ansiedade tornava-se mais febril, mais exigente, mais confiada de si mesma, e era como se eu, não sabendo de mim, não desejando nada, não pensando em nada, nunca me tivesse sentido tão duramente lúcido." (Jorge de Sena, Sinais de Fogo)
terça-feira, novembro 09, 2010
segunda-feira, novembro 08, 2010
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"Em geral não se imagina Platão e Aristóteles senão com grandes togas e como personagens sempre sérias e graves. Eram pessoas cortezes, que se riam como os outros e com os seus amigos: e quando fizeram as suas leis e os seus tratados de política foi a brincar e para se divertirem. Era a parte menos filosófica e menos séria da sua vida. A mais filosófica era viver simples e tranquilamente." (Pascal, em Livro dos Amigos, de Hugo Von Hofmannsthal)
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"Se o meu tempo me contesta,
Sereno o hei-de aceitar,
Que eu doutros tempos já venho
E espero a outros chegar."
(Franz Grillparzer)
Sereno o hei-de aceitar,
Que eu doutros tempos já venho
E espero a outros chegar."
(Franz Grillparzer)
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"O poeta nunca está inteiramente absorto nos seus pensamentos. O técnico está sempre." (Addison)
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"No carácter de cada pessoa há qualquer coisa que não se pode quebrar - a ossatura do carácter; e querer mudar isto significa sempre ensinar uma ovelha a ir buscar caça." (Lichtenberg, em Livro dos Amigos, de Hugo Von Hofmannsthal)
quinta-feira, novembro 04, 2010
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"Se eu tive um destino singular, na modéstia que todos temos um único, original e nosso, muito nosso e apenas isso, mas repito: se, em comparação com muita gente que me rodeia, lhe posso ainda, aqui comigo e nas histórias lendárias ou veras que de mim contam (algumas tenho ouvido, espantado sem acreditar; doutras nem já me lembrava mas foram mesmo), esse meu destino, é singular, porque será? Interrogo (-me) e não sou capaz, não lhe (me) sei responder. A doença em pequeno? a devoradora leitura, alargando uma imaginação já de si exagerada, neurótica? uma degenerscência familiar de que fiz bastante para me salvaguardar, procurando outros rumos, novos projectos, caras felizes? um acentuado pendor para a contradição ou atenção crítica que começa no querer ver como é, saber ouvir, ler muito e variado, e desconfiando sempre? Porque desconfio, duvido, amontoando hipóteses, alterando dados na aparência irrefutáveis e, em frieza quase absoluta, distinguindo os meus sentimentos ternos pelas pessoas da análise implacável do que elas são ou de como as queria? e repelindo-as ou chegando-me a elas, na convivência forçada ou fascinante que temos de aceitar com o Outro?
Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo?
Ou fui sempre"
(Luiz Pacheco, Uma Admirável Droga)
Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo?
Ou fui sempre"
(Luiz Pacheco, Uma Admirável Droga)
segunda-feira, outubro 25, 2010
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"Conheço uma certa emoção das horas, sei da aparição dos instantes-limite, das vozes submersas, e gostava de dar aos outros essa notícia. Há uma vida atrás da vida, uma irrealidade presente à realidade, mundo das formas de névoa, mundo incoercível e fugidio, mundo da surpresa e do aviso. Assim o próprio presente pode ter a voz do passado, vibrar como ele à obscuridade de nós. A minha retórica vem do desejo de prender o que me foge, de contar aos outros o que ainda não tem nome e onde as palavras se dissipam com a névoa do que narram." (Vergílio Ferreira, Aparição)
quarta-feira, outubro 20, 2010
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"Há o desejo, que não tem limite, e há o que se alcança, que o tem. A felicidade consiste em fazer coincidir os dois." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente IV)
sexta-feira, outubro 15, 2010
Stranger...
"Stranger, if you passing meet me and desire to speak to me, why should you not speak to me? And why should I not speak to you?"
(Walt Whitman)
(Walt Whitman)
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"A reflexão sanciona o fim da inocência mítica. A seguir o homem não pode deixar-se levar senão por evidências estabelecidas, converte-se em artesão da verdade [...] A existência funda-se numa ruptura, numa separação de si em relação a si, de si em relação ao mundo e de si em relação a Deus." (Georges Gusdorf, Mito y metafísica)
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"Eu, porém, relembrava o meu susto à súbita presença de alguém que agora sabia ser eu. [...] Mas no outro dia, assim que me levantei, coloquei-me no sítio donde me vira ao espelho e olhei. Diante de mim estava uma pessoa que me fitava com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava. Aproximei-me, fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobria qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo." (Vergílio Ferreira, Aparição)
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"Para elas (a imensa maioria das criaturas humanas), viver é entregar-se ao unânime, deixar que os costumes, os preconceitos, os tópicos, os usos se instalem no interior. São espíritos débeis que (...) se sentem ameaçados e se preocupam então, precisamente para tirarem dos ombros o próprio peso que eles são, com atirarem-no sobre a colectividade, isto é, preocupam-se com despreocupar-se (...) um humilde afã de ser como os demais, de renunciar à possibilidade diante do próprio destino, dissolvendo-se no meio da multidão; é o eterno ideal do débil: a sua preocupação é fazer o que toda a gente faz." (José Ortega y Gasset, Que és filosofia?)
quinta-feira, outubro 14, 2010
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"Viajar é uma busca do que nunca se encontra. Porque o que pode encontrar-se está em nós. Dado o balanço, é o que há de mais interessante. O outro viajava à roda do seu quarto. Eu viajo à roda de mim que sempre está mais perto, mesmo assim. E não se pode dizer que tenha menos interesse do que quatro paredes." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente V)
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"Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos. E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens. Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós. É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente IV)
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"A vida é feita de desperdícios em que se não faz absolutamente nada. Penso assim que ela foi malbaratada, que desbaratamos o que se poderia aproveitar em vida intensa e desse modo jamais poderemos recuperar. Mas acaso o homem não nasceu para isso mesmo? Para esbanjar? Uma vida totalmente aproveitada seria talvez insuportvável pelo imenso desgaste que de nós exigiria em nervos, emotividade, esforço mental." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente V)
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"Estás sentada no teu maple, as pernas estendidas, como costume, sobre uma cadeira, olhar absorto na TV. E de súbito, penso: dentro de algum tempo não nos veremos mais." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente IV)
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"É um lugar-comum dizer-se que 'não há amor como o primeiro'. E todavia não é verdade. O amor contrói-se longamente e não há assim amor como o último, o que dura ou devia durar até à morte." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente IV)
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"Estavam velhos e eram um casal muito unido. Por isso a forma de comunicarem entre si era naturalmente a agressão. Porque a agressão era nesse caso uma forma de distanciar o que está muito grudado. Como a fita gomada que se cola aos dedos. (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente V)
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"Nunca fui capaz [de manter um diário]. Creio que por pudor, digamos, por falta de coragem. Um romance é um biombo: a gente despe-se por detrás. Isto não. Mesmo que não falemos de nós (é-me difícil falar de mim). Aliás como os outros, desconheço-me. Talvez, também porque me evito. A verdade é que, quando me encontro bem pela frente, reconheço-me intragável. Mas enfim as virtudes são também desgostantes." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente I)
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"Em todo o caso, nos erros cometidos, no que foi verdade e falhou e se consumiu, no que me excitou e não tinha razão, um valor persiste quando a tudo dou um balanço e é o valor da própria vida. Só para ter existido valeu a pena existir. A maior recompensa da vida é ela própria. Creio que em que tudo o que disse não disse afinal outra coisa. Creio que de tudo o que me fascinou nada me fascinou mais do que a vida, o seu mistério inesgotável, a sua inesgotável maravilha. Dou o balanço a tudo quanto me aconteceu e a vertigem de ter vivido absorve e aniquila tudo o que aí falhou e mentiu. Foi bom ter nascido. Foi bom não ter acabado ainda de nascer..." (Vergílio Ferreira, Conta-Corrente V)
quarta-feira, outubro 13, 2010
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"[...] muito cedo tomei consciência da imensa distância entre o que se imagina e se é de facto (e não me excluo a mim próprio), porque, por feitio e visão, me convenci e convenço da irremediável solidão que é a vida, porque sei bem quanto gestos e palavras ficam sempre por fazer e dizer [...]" (Jorge de Sena a Mécia de Sena)
terça-feira, outubro 12, 2010
segunda-feira, outubro 11, 2010
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"Porque é que dizes quem me dera ser feliz e não dizes quem me dera ser medíocre? Porque dirias a mesma coisa. E o que provas ao dizê-lo é só que afinal já o eras." (Vergílio Ferreira)
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"O homem feliz é aquele que, ao despertar, se reencontra com prazer, e se reconhece como aquele que gosta de ser." (Paul Valéry)
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"Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim." (Vergílio Ferreira)
sexta-feira, outubro 08, 2010
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“Twenty years from now you will be more disappointed by the things you didn’t do than by the ones you did do. So throw off the bowlines, sail away from the safe harbor. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover." (Mark Twain)
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"Two roads diverged in a wood and I - I took the one less traveled by, and that has made all the difference." (Robert Frost)
...
"Do not follow where the path may lead. Go instead where there is no path, and leave a trail." (Ralph Waldo Emerson)
...
"Not all those who wander are lost." (J. R. R. Tolkien)
...
"All journeys have secret destinations of which the traveler is unaware." (Martin Buber)
...
"The only journey is the journey within." (Rainer Maria Rilke)
...
"Two roads diverged in a wood and I - I took the one less traveled by, and that has made all the difference." (Robert Frost)
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"Do not follow where the path may lead. Go instead where there is no path, and leave a trail." (Ralph Waldo Emerson)
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"Not all those who wander are lost." (J. R. R. Tolkien)
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"All journeys have secret destinations of which the traveler is unaware." (Martin Buber)
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"The only journey is the journey within." (Rainer Maria Rilke)
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“If I discover within myself a desire which no experience in this world can satisfy, the most probable explanation is that I was made for another world." (C.S. Lewis)
quarta-feira, outubro 06, 2010
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"Que distância entre esta triste prudência de hoje e aquela audácia, aquela intemperança de confiança doutros tempos! Mas silêncio! Não nos oiça o fantasma melancólico dos anos idos. A rêverie da saudade é para a alma que se deixa envolver nela como a hera para os muros que veste a abraça. A princípio é um adorno, uma gala. Mas as raízes vão entrando dia a dia por entre as pedras mais bem ligadas, abrindo-as, descolando-as. Quando se lhe acode não é mais já do que uma ruína - uma ruína encoberta e protegida por uma ilusão. Assim, pois, procuremos o sossego interior como última salvaguarda das liberdades do espírito. É o que se pode conservar no deserto de todas as esperanças."
(Antero de Quental, Cartas)
(Antero de Quental, Cartas)
...
"Se o pensamento indaga, o coração adivinha. Àquele podem iludi-lo os erros, que um desvio lhe introduza no cálculo atrevido. Mas a este não, que não calcula nem compara: vê e sente. Não é livre, não é activo; mas por isso mesmo se não pode enganar. É lá que a mesma lei da existência vive oculta, e dali solta os seus oráculos sempre certos."
(Antero de Quental, Cartas)
(Antero de Quental, Cartas)
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"A felicidade, para mim, consiste em gozar de boa saúde, em dormir sem medo, e em acordar sem angústia." (Françoise Sagan)
segunda-feira, outubro 04, 2010
sexta-feira, outubro 01, 2010
Solidão...
"É exactamente porque não há solidão que dizes que há solidão. Imagina que eras o único homem no universo. Imagina que nascias de uma árvore, ou antes, porque eu quero pôr a hipótese de que não há árvores, nem astros, nem nada com que te confrontes: supõe que o universo é só o vazio e que tu nascias no meio desse vazio, sem nada para te confrontares. Como dizeres «eu estou sozinho»? Para pensares em «eu» e em «sozinho» tinhas de pensar em «tu» e em «companhia». Só há solidão «porque» vivemos com os outros..." (Vergílio Ferreira, Estrela Polar)
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"[...] um homem solitário, como todo o verdadeiro homem, (é) um ser que que vive em si próprio, que longamente se prepara antes de caminhar para os outros homens, a levar-lhes uma lição de força, seja a força do amor ou do ódio, seja a lição da alegria ou da vingança."
(Herberto Helder, Os Passos em Volta)
(Herberto Helder, Os Passos em Volta)
...
"A arte não é, a meu ver, um prazer solitário. É um meio de comover o maior número de homens oferecendo-lhe uma imagem privilegiada dos sofrimentos e das alegrias comuns. Obriga, portanto, o artista a não se isolar; submete-o à verdade mais humilde e mais universal. E aquele que, muitas vezes, escolhe o seu destino por se sentir diferente, aprenderá bem depressa que só alimentará a sua arte e a sua diferença confessando a sua semelhança com o comum dos mortais. O artista forja-se nessa ida-e-volta perpétua de ele para os outros, a meio caminho entre a beleza que não pode dispensar e a comunidade a que não pode fugir."
(Albert Camus, Discours de Suède)
(Albert Camus, Discours de Suède)
...
- Aliocha, diga-me também outra coisa: vai obedecer-me sempre? É preciso também resolver já isto desde já.
- E com muito prazer, Lise, obrigatoriamente, mas não no mais importante. No mais importante, se a Lise não concordar comigo, farei na mesma o que o dever me manda.
.....
"'Que solidão?', pergunto-lhe eu. 'A solidão que agora reina por todo o lado, especialmente no nosso século, e ainda vem longe o fim dela. Porque cada um, hoje em dia, deseja isolar cada vez mais a sua pessoa, quer experimentar em si mesmo a plenitude da vida e, no entanto, o resultado é que todos os seus esforços, em vez da plenitude da vida, acabam num suicídio absoluto, porque em vez da plenitude da definição da sua personalidade entra num isolamento total. Porque todos, no nosso século, se separam, cada qual se isolando na sua toca, cada qual se afastando do outro, escondendo-se e escondendo o que possui, acabando por rejeitar os outros e ser rejeitado pelos outros. Acumula a sua riqueza em solidão e pensa: que forte eu sou, que rico... e mal sabe, o louco, que quanto mais acumula mais mergulha na impotência suicida. Porque está habituado a contar apenas consigo e, como unidade, se separou do comum, habituou a sua alma e não acredita na ajuda dos outros, nas pessoas e na humanidade e apenas receia que o seu dinheiro e os seus direitos adquiridos se percam. Hoje, por todo o lado, a mente humana irónica começa a perder a consciência de que o verdadeiro sustento do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e solitário, mas um esforço em comunidade humana. É inevitável, porém, que chegue o fim deste terrível isolamento e que se compreenda, de uma vez por todas, como é antinatural esta separação uns dos outros. Será assim o espírito da época, e as pessoas espantar-se-ão por terem passado tanto tempo na escuridão, sem verem a luz. [...] Mas, até lá, é necessário guardar a bandeira e, de vez em quando, nem que seja como acto isolado, um homem sozinho deve dar o exemplo e tirar a alma do isolamento para a elevar até à façanha da convivência em amor fraterno, nem que seja na qualidade de maluquinho religioso. É necessário isso para que não morra a grande ideia...'"
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"[...] também tens culpa, porque podia trazer luz aos facínoras como único justo e não trouxeste. Se lhes tivesses trazido luz, também terias alumiado o caminho dos outros, e talvez aquele que cometeu o crime não o tivesse cometido à tua luz. E mesmo que alumies mas vejas que as pessoas não se salvam à tua luz, continua firme e não duvides da força da luz celeste; tem fé de que, se agora não se salvaram, salvar-se-ão depois. E se não se salvarem depois, salvar-se-ão os filhos deles, porque a tua luz não morrerá, mesmo com a tua morte. O justo morre, mas a luz dele sobrevive. Alguém se salva sempre depois da morte do salvador. [...] Nunca procures recompensa, porque já é grande a tua recompensa na terra: a tua alegria espiritual, que apenas o justo pode obter. Não temas superiores nem poderosos, mas sê sábio e sempre virtuoso. Conhece a medida, conheces os prazos, aprende isso. Quando ficares sozinho, reza. Toma gosto ao cair por terra e beijá-la. Beija a terra e ama, ama incansável, insaciavelmente, ama todos, ama tudo, procura no amor o êxtase e o enlevo. Molha a terra com as lágrimas da tua alegria e ama essas tuas lágrimas. Não tenhas vergonha deste êxtase, mas preza-o, porque é uma dádiva divina, uma grande dádiva, e não é dada a muitos, mas só aos eleitos.
(excertos de Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski)
- E com muito prazer, Lise, obrigatoriamente, mas não no mais importante. No mais importante, se a Lise não concordar comigo, farei na mesma o que o dever me manda.
.....
"'Que solidão?', pergunto-lhe eu. 'A solidão que agora reina por todo o lado, especialmente no nosso século, e ainda vem longe o fim dela. Porque cada um, hoje em dia, deseja isolar cada vez mais a sua pessoa, quer experimentar em si mesmo a plenitude da vida e, no entanto, o resultado é que todos os seus esforços, em vez da plenitude da vida, acabam num suicídio absoluto, porque em vez da plenitude da definição da sua personalidade entra num isolamento total. Porque todos, no nosso século, se separam, cada qual se isolando na sua toca, cada qual se afastando do outro, escondendo-se e escondendo o que possui, acabando por rejeitar os outros e ser rejeitado pelos outros. Acumula a sua riqueza em solidão e pensa: que forte eu sou, que rico... e mal sabe, o louco, que quanto mais acumula mais mergulha na impotência suicida. Porque está habituado a contar apenas consigo e, como unidade, se separou do comum, habituou a sua alma e não acredita na ajuda dos outros, nas pessoas e na humanidade e apenas receia que o seu dinheiro e os seus direitos adquiridos se percam. Hoje, por todo o lado, a mente humana irónica começa a perder a consciência de que o verdadeiro sustento do indivíduo não consiste no seu esforço pessoal e solitário, mas um esforço em comunidade humana. É inevitável, porém, que chegue o fim deste terrível isolamento e que se compreenda, de uma vez por todas, como é antinatural esta separação uns dos outros. Será assim o espírito da época, e as pessoas espantar-se-ão por terem passado tanto tempo na escuridão, sem verem a luz. [...] Mas, até lá, é necessário guardar a bandeira e, de vez em quando, nem que seja como acto isolado, um homem sozinho deve dar o exemplo e tirar a alma do isolamento para a elevar até à façanha da convivência em amor fraterno, nem que seja na qualidade de maluquinho religioso. É necessário isso para que não morra a grande ideia...'"
.....
"[...] também tens culpa, porque podia trazer luz aos facínoras como único justo e não trouxeste. Se lhes tivesses trazido luz, também terias alumiado o caminho dos outros, e talvez aquele que cometeu o crime não o tivesse cometido à tua luz. E mesmo que alumies mas vejas que as pessoas não se salvam à tua luz, continua firme e não duvides da força da luz celeste; tem fé de que, se agora não se salvaram, salvar-se-ão depois. E se não se salvarem depois, salvar-se-ão os filhos deles, porque a tua luz não morrerá, mesmo com a tua morte. O justo morre, mas a luz dele sobrevive. Alguém se salva sempre depois da morte do salvador. [...] Nunca procures recompensa, porque já é grande a tua recompensa na terra: a tua alegria espiritual, que apenas o justo pode obter. Não temas superiores nem poderosos, mas sê sábio e sempre virtuoso. Conhece a medida, conheces os prazos, aprende isso. Quando ficares sozinho, reza. Toma gosto ao cair por terra e beijá-la. Beija a terra e ama, ama incansável, insaciavelmente, ama todos, ama tudo, procura no amor o êxtase e o enlevo. Molha a terra com as lágrimas da tua alegria e ama essas tuas lágrimas. Não tenhas vergonha deste êxtase, mas preza-o, porque é uma dádiva divina, uma grande dádiva, e não é dada a muitos, mas só aos eleitos.
(excertos de Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski)
quinta-feira, setembro 30, 2010
terça-feira, setembro 28, 2010
segunda-feira, setembro 27, 2010
O fantástico inefável...
"Um filósofo contemporâneo de Lovecraft, o desconcertante Wittgenstein, disse que "o que não pode ser dito, melhor será calá-lo". Esta frase podia ser de certa forma o lema do truque estilístico mais peculiar do próprio Lovecraft. Para este, a fantasia desemboca sempre no inefável; as palavras esgotam-se muito antes de a imaginação pura ter concluído a sua fulgurante viagem. Mais ainda: as palavras são obstáculos, tropeços que dificultam ou estagnam a criação do realmente fantástico [...]" (Fernando Savater, Sobre Viver)
quinta-feira, setembro 09, 2010
Íntimo pessoal
"Cada um tem o destino universal de fazer consigo mesmo o modelo de mais uma estátua humana. E esta fabrica-se apenas com íntimo pessoal.
O nosso íntimo pessoal é inatingível por outrem. É este o fundamento de toda a humanidade, de toda a Arte e de toda a Religião. O nosso íntimo pessoal é de ordem humana, estética e sagrada. Serve apenas o próprio. É o seu único caminho. O melhor que se pode fazer em favor de qualquer é ajudá-lo a entregar-se a si mesmo. Com o seu íntimo pessoal cada um poderá estar em toda a parte, sejam quais forem as condições sociais, as mais favoráveis e as mais adversas. Sem ele, nem para fazer número se aproveita ninguém." (José de Almada Negreiros, Nome de Guerra)
O nosso íntimo pessoal é inatingível por outrem. É este o fundamento de toda a humanidade, de toda a Arte e de toda a Religião. O nosso íntimo pessoal é de ordem humana, estética e sagrada. Serve apenas o próprio. É o seu único caminho. O melhor que se pode fazer em favor de qualquer é ajudá-lo a entregar-se a si mesmo. Com o seu íntimo pessoal cada um poderá estar em toda a parte, sejam quais forem as condições sociais, as mais favoráveis e as mais adversas. Sem ele, nem para fazer número se aproveita ninguém." (José de Almada Negreiros, Nome de Guerra)
To walk with lions...
"I stood next to Batian facing the rising sun. Then, for the first time in my presence, Batian began roaring to the dawn. My right hand was on his flank as his calls reverberated across the land. Time stopped and through his calls I felt part of everything... I was the Earth and the Earth was me. I belonged, and I was free." (Gareth Patterson, To Walk With Lions)
Wholeness...
"We live in a world that prides itself on its modernity, yet is hungry for wholeness, hungry for meaning. At the same time it is a world that marginalizes the very impulses that might fill the void. The pilgrimage to the divine, the openness that transcends ordinary experience, the very idea of feeling at one with the Universe, these are impulses which we tolerate at the fringes, where they are held at bay by our indifference. The irony is that, after excluding the mystical tradition from our cultural mainstream and claiming to find it irrelevant to our concerns, so many of us feel empy without it." (David Maybury-Lewis, Millenium: Tribal Wisdom and the Modern Work)
sexta-feira, setembro 03, 2010
Expostulation and Reply
"Why, William, on that old grey stone,
Thus for the length of half a day,
Why, William, sit you thus alone,
And dream your time away?
"Where are your books? - that light bequeathed
To Beings else forlorn and blind!
Up! up! and drink the spirit breathed
From dead men to their kind.
"You look round on your Mother Earth,
As if she for no purpose bore you;
As if you were her first-born birth,
And none had lived before you!"
One morning thus, by Esthwaite lake,
When life was sweet, I knew not why,
To me my good friend Matthew spake,
And thus I made reply:
"The eye--it cannot choose but see;
We cannot bid the ear be still;
Our bodies feel, where'er they be,
Against or with our will.
"Nor less I deem that there are Powers
Which of themselves our minds impress;
That we can feed this mind of ours
In a wise passiveness.
"Think you, 'mid all this mighty sum
Of things for ever speaking,
That nothing of itself will come,
But we must still be seeking?
"- Then ask not wherefore, here, alone,
Conversing as I may,
I sit upon this old grey stone,
And dream my time away,"
(William Wordsworth, 1798)
Thus for the length of half a day,
Why, William, sit you thus alone,
And dream your time away?
"Where are your books? - that light bequeathed
To Beings else forlorn and blind!
Up! up! and drink the spirit breathed
From dead men to their kind.
"You look round on your Mother Earth,
As if she for no purpose bore you;
As if you were her first-born birth,
And none had lived before you!"
One morning thus, by Esthwaite lake,
When life was sweet, I knew not why,
To me my good friend Matthew spake,
And thus I made reply:
"The eye--it cannot choose but see;
We cannot bid the ear be still;
Our bodies feel, where'er they be,
Against or with our will.
"Nor less I deem that there are Powers
Which of themselves our minds impress;
That we can feed this mind of ours
In a wise passiveness.
"Think you, 'mid all this mighty sum
Of things for ever speaking,
That nothing of itself will come,
But we must still be seeking?
"- Then ask not wherefore, here, alone,
Conversing as I may,
I sit upon this old grey stone,
And dream my time away,"
(William Wordsworth, 1798)
terça-feira, agosto 31, 2010
...
"I always thought death would come on the freeway in a few horrifying moments, so you'd have no time to sort it out. Having months and months to look at it, and think about it, and talk to people and hear what they have to say, it's a kind of blessing. It's certainly an opportunity to grow up and get a grip and sort it all out. Just being told by an unsmiling guy in a white coat that you're going to be dead in four months definitely turns on the lights... It makes life rich and poignant. When it first happened, and I got these diagnoses, I could see the light of eternity, a la William Blake, shining through every leaf. I mean, a bug walking across the ground moved me to tears."
...
"[...] When I think about dying, the thing that surprises me is how much of the future I regard as history, and how I don't want to miss it. I want to know how it all comes out. I haven't a lot of money riding on my vision of things, but I would like to know how the universe came to be, what's up with extraterrestrials, where biotech is going, where the Internet is going, about robot/man space-flight to the outer planets. Because the next century will be it. We are on the brink of a posthuman existence, or we are into the early phase of the posthuman existence. So what's it gonna look like? What's it gonna feel like? Hipparchus, in the second century B.C., was asked what he feared most about death, and he said, 'not being able to follow the latest discoveries in astronomy'. Well, that's precisely my position."
(Terence McKenna)
...
"[...] When I think about dying, the thing that surprises me is how much of the future I regard as history, and how I don't want to miss it. I want to know how it all comes out. I haven't a lot of money riding on my vision of things, but I would like to know how the universe came to be, what's up with extraterrestrials, where biotech is going, where the Internet is going, about robot/man space-flight to the outer planets. Because the next century will be it. We are on the brink of a posthuman existence, or we are into the early phase of the posthuman existence. So what's it gonna look like? What's it gonna feel like? Hipparchus, in the second century B.C., was asked what he feared most about death, and he said, 'not being able to follow the latest discoveries in astronomy'. Well, that's precisely my position."
(Terence McKenna)
sexta-feira, agosto 27, 2010
...
"Não há nada mais sedutor para o homem do que a liberdade da sua consciência, mas também não há nada mais torturante. [...] Existem três forças, as únicas forças na Terra capazes de conquistar e cativar para sempre as consciências destes rebeldes fracos, para felicidade deles. Estas forças são: o milagre, o mistério e a autoridade. Rejeitaste o primeiro, o segundo e a terceira [...] E poderias realmente supor, por um instante que fosse, que as pessoas também teriam forças para resistir a semelhante tentação? Terá a natureza humana sido assim criada, será ela capaz de rejeitar o milagre e, nos momentos terríveis da vida, nos mais terríveis momentos, nas questões da alma essenciais e torturantes, será a natureza humana capaz de seguir apenas a livre escolha do coração?" (Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
quarta-feira, agosto 25, 2010
...
"Se os sofrimentos das crianças foram acrescentados para perfazer a soma de sofrimentos necessária à compra da verdade, então afirmo desde já que toda a verdade não vale esse preço. Ao fim e ao cabo, o que eu quero é que a mãe não abrace o carrasco cujos cães despedaçaram o filho dela! Que ela não se atreva a perdoar-lhe! Se ela quiser, que perdoe por si, que lhe perdoe o seu incomensurável sofrimento materno; mas não tem o direito de perdoar o sofrimento do seu filho despedaçado, que não se atreva a perdoar ao carrasco, nem que a própria criança lhe perdoasse! Mas, se assim for, se não há o direito de perdoar, onde está então a harmonia? Haverá em todo o mundo uma criatura que possa e tenha o direito de perdoar? Eu não quero a harmonia, por amor à humanidade, não a quero. Quero antes ficar do lado dos sofrimentos não vingados. É melhor que eu fique com o meu sofrimento não vingado e com a minha indignação não saciada, mesmo que não tenha razão. Também estabeleceram um preço demasiado alto para a harmonia, está para além das nossas posses pagar tanto pela entrada. Por isso, apresso-me a devolver o meu bilhete de entrada. E, se for um homem honesto, tenho a obrigação de o devolver com a máxima antecedência. É o que estou a fazer. Não quero dizer que não admita Deus, não, Aliocha, apenas lhe devolvo, com todo o respeito, o bilhete.
- Isso é uma revolta - disse Aliocha, cabisbaixo, numa voz muito ténue.
- Revolta? Eu não queria ouvir-te dizer esta palavra - disse Ivan com um sentimento profundo. - É impoosível viver-se revoltado, e eu quero viver. Diz-me tu próprio e frontalmente, responde-me: imagina tu que estás a construir o edifício do destino humano, com o objectivo de, no fim, fazeres com que as pessoas sejam felizes, que recebam a paz e o sossego, mas que para isso seria necessário e inevitável martirizar apenas uma criança minúscula, aquela criancinha que batia com a mãozinha no peito, e que seria sobre as lágrimas não vingadas dela que tinhas de erguer o edifício; concordarias então, nessas condições, em seres o arquitecto? Diz, e não mintas!" (Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
- Isso é uma revolta - disse Aliocha, cabisbaixo, numa voz muito ténue.
- Revolta? Eu não queria ouvir-te dizer esta palavra - disse Ivan com um sentimento profundo. - É impoosível viver-se revoltado, e eu quero viver. Diz-me tu próprio e frontalmente, responde-me: imagina tu que estás a construir o edifício do destino humano, com o objectivo de, no fim, fazeres com que as pessoas sejam felizes, que recebam a paz e o sossego, mas que para isso seria necessário e inevitável martirizar apenas uma criança minúscula, aquela criancinha que batia com a mãozinha no peito, e que seria sobre as lágrimas não vingadas dela que tinhas de erguer o edifício; concordarias então, nessas condições, em seres o arquitecto? Diz, e não mintas!" (Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
...
"De acordo com a minha terrena e miserável mente euclidiana, sei apenas que o sofrimento existe, que não existem culpados, que as coisas decorrem umas das outras directa e simplesmente, que tudo corre e se equilibra... mas trata-se apenas de um absurdo euclidiano, sei bem que é assim e não poderia concordar em viver de acordo com ele! Quero lá saber que não haja culpados e que eu tenha consciência disso, preciso de expiação, senão mato-me. E esta expiação não deve acontecer num infinito qualquer e sem se saber quando, mas aqui e agora, na Terra, para que eu a veja com os meus olhos. Eu tinha fé, e agora quero ver eu próprio e se, na altura de ver, já estiver morto, que me ressuscitem porque, se tudo acontecer sem mim será demasiado injusto. Será que sofri tanto para adubar comigo mesmo, com a minha perversidade e o meu sofrimento, uma futura harmonia para os outros? Quero ver com os meus próprios olhos o gamo a deitar-se ao lado do leão e o degolado a levantar-se e a abraçar o seu assassino. Quero cá estar quando todos, de repente, souberem porque foi tudo assim."
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
(Fiódor Dostoiévski, Os Irmãos Karamazov)
terça-feira, agosto 17, 2010
Mais da "Carta ao futuro"...
"Os limites da nossa condição... Como é espantosa a sua descoberta! Ela é paralela da morte daquilo que descobrimos: só depois da falência das nossas invenções nos descobrimos a nós, os inventores. Jamais o homem terá atingido os seus limites, porque jamais terá deixado de ser tudo aquilo em que existia. O fascinante milagre que é o sabermo-nos vivos, o conhecermos esta incrível iluminação de nós a nós próprios, de nós ao universo, só agora nos perturba, só agora é alucinante, porque só agora é gratuita. Vivemos em nós; a dimensão da infinitude que nos habita, este poder incrível de saber-nos, de sermos uma pessoa, é em nós que se limita e torna espessamente absurdo o desafio que nos lança a contingência e a morte. A experiência de nós próprios, do inverosímil milagre do que somos, é extraordinariamente difícil, meu amigo, e de si mesmo miraculosa. Habita-nos um poder brutal de uma evidência fechada, de uma irredutível necessidade que nos vem deste sentirmo-nos um indivíduo, uma inteireza sem traço de união, um absoluto de presença que recusa a contingência, a ligação com tudo o que nos rodeia, a dependência da fatalidade. E todavia sabemos que a fatalidade existe. Como é possível? Como é possível? Vejo-me, sinto-me, reconheço-me um mundo fechado, indissolúvel, olho as minhas mãos, sei-me, penso-me, reconheço-me uma multidão de ideias, de sensações que me foram habitando, sinto-me eu, um todo, indivisível e irredutível, um ser instalado numa inefável eternidade necessária, um ser com um quê de único, aquele que sou para mim próprio, aquele que sou para os outros como os outros o são para mim no seu tom de voz, no seu modo de gesticularem, na pessoa tão única, tão nítida, tão fascinante que me causa terror. Ah, a terrível dificuldade de apanhar na palavra esta evidência tão flagrante, esta realidade tão vivaz e tão fluida - esta realidade que dura e nos persegue e está ao pé de nós depois de alguém nos morrer... Lembro-me de contar algures a aparição desta certeza na vulgar experiência de nos vermos a um espelho: diante de nós está uma pessoa que nos fita, que é um ser vivo, totalizado, que vê, que pensa, que nos olha, nos olha, nos causa pânico, nos gela de pavor até a uma obscuridade de raízes. Como é ridículo este esforço para captar na palavra este instante infinitesimal em que estou apanhando, num clarão, a fulgurante verdade do que sou! E todavia, só em face dessa alucinante evidência é possível divisar os limites desde onde poderemos sonhar a construção do nosso reino sobre a terra. E é porque é difícil ver, ter a aparição de nós a nós próprios, que os homens se podem construir uma redenção com uma aparência de segurança que os ilude e os escarnece. Para o homem vulgar (para cada um de nós também, quase sempre) a vida resolve-se numa presença em, num ser o mundo que existe como por si mesmo, sem pensar-se que é através de nós, sem um regresso à vertigem de estarmos sendo nós, daquilo que somos. E porque a vida é assim, se resolve assim nessa contrafacção de eternidade, nessa fácil imitação de uma presença divina, nesse inconsciente e ilusório modo de ser-se quotidianamente um deus - por isso, a morte não tem ainda senão um significado de vida: uma presença de nós para lá dela, essa presença que nos inventamos agora, enquanto vivos, como memória, nela, da vida, como é em nós memória, agora, tudo aquilo que já perdemos - a infância, a juventude. Mas a morte é algo de mais incrivelmente absurdo, porque é o nada inimaginável, a impensável destruição do absoluto que conhecemos na irredutível e necessária pessoa que somos. Pobres palavras vãs: um 'nada' imaginamo-lo sempre como algo que é... Mas o nada é a desaparição de nós a nós próprios, a anulação desta evidência que é a pessoa que está em nós, o puro vazio deste quid único, desta realidade que há em nós e nos assusta, porque é terrivelmente viva e verdadeira. [...]
O que há redimir é a adequação deste milagre brutal de nos sabermos uma evidência iluminada, de nos sentirmos este ser que é vivo, se reconhece único no corpo que é ele, na lúcida realidade que o preenche, o identifica nas mãos que prendem, na boca que mastiga, nos pés que firmam, de nos descobrirmos como uma entidade plena, indispensável, porque ela é de si mesma um mundo único, porque tudo existe através dela e é impossível que esse tudo deixe de existir, porque ela irrompe de nós como a pura manifestação de ser, e o 'ser' é a única realidade pensável - o que há a redimir é a adequação desta fantástica evidência que nos cega e a certeza de que ela está prometida à morte, de que o seu destino é impossível e absoluta certeza do não-ser, da pura ausência, da totalidade nula, da pura irrealidade. Colaborar com a vida, aceitar a validade de uma norma, forjar uma regra para a distribuição da nossa acção e interesse - sim. Mas é impossível, antes disso, desviarmos os nossos olhos da fascinação da vertigem, e vermos, vermos bem, de que fundas raíses gostaríamos de entender tudo quanto realizássemos. É uma tentativa absurda, meu amigo, toda a gente no-lo diz - toda a gente que desconhece essa força que nos fascina. Mas eu sei que só se é homem, plenamente, quando se sabe."A escala de tudo quanto povoa a terra estabelece-se-nos aí, no saber. A ilusão de plenitude, a ficção de uma quotidiana divindade, essa que se define por uma certa instalação na permanência, forja-se apenas de uma inconsciência animal. Somos homens, não somos deuses nem pedras. Se a grandeza que nos coube foi essa ao menos de saber, conquistemo-la até onde, nos limites das evidências primeiras, ela se nos anuncia. E se o 'absurdo' é a face desses limites, assumamo-la como quem não rejeita nada do que é ainda nós próprios. A cobardia não está em assumir esses limites, mas em recusá-los, como o não está em reconhecer uma doença, mas em não fitá-la de frente. Só se é justo, corajoso, pela assunção consciente do que nos ameaça e por isso o bruto não é heróico. O 'para quê' que nos antepõem todos os homens sensatos implica um programa utilitário de todo o instinto prático e animal. Mas nós, contra tudo o que povoa a terra, temos o fulminante poder de sabermos quem somos. É aí que cabe a nossa condição, é aí que cabe a nossa interrogação, fascinante e sem limite." (Vergílio Ferreira, Carta ao futuro)
O que há redimir é a adequação deste milagre brutal de nos sabermos uma evidência iluminada, de nos sentirmos este ser que é vivo, se reconhece único no corpo que é ele, na lúcida realidade que o preenche, o identifica nas mãos que prendem, na boca que mastiga, nos pés que firmam, de nos descobrirmos como uma entidade plena, indispensável, porque ela é de si mesma um mundo único, porque tudo existe através dela e é impossível que esse tudo deixe de existir, porque ela irrompe de nós como a pura manifestação de ser, e o 'ser' é a única realidade pensável - o que há a redimir é a adequação desta fantástica evidência que nos cega e a certeza de que ela está prometida à morte, de que o seu destino é impossível e absoluta certeza do não-ser, da pura ausência, da totalidade nula, da pura irrealidade. Colaborar com a vida, aceitar a validade de uma norma, forjar uma regra para a distribuição da nossa acção e interesse - sim. Mas é impossível, antes disso, desviarmos os nossos olhos da fascinação da vertigem, e vermos, vermos bem, de que fundas raíses gostaríamos de entender tudo quanto realizássemos. É uma tentativa absurda, meu amigo, toda a gente no-lo diz - toda a gente que desconhece essa força que nos fascina. Mas eu sei que só se é homem, plenamente, quando se sabe."A escala de tudo quanto povoa a terra estabelece-se-nos aí, no saber. A ilusão de plenitude, a ficção de uma quotidiana divindade, essa que se define por uma certa instalação na permanência, forja-se apenas de uma inconsciência animal. Somos homens, não somos deuses nem pedras. Se a grandeza que nos coube foi essa ao menos de saber, conquistemo-la até onde, nos limites das evidências primeiras, ela se nos anuncia. E se o 'absurdo' é a face desses limites, assumamo-la como quem não rejeita nada do que é ainda nós próprios. A cobardia não está em assumir esses limites, mas em recusá-los, como o não está em reconhecer uma doença, mas em não fitá-la de frente. Só se é justo, corajoso, pela assunção consciente do que nos ameaça e por isso o bruto não é heróico. O 'para quê' que nos antepõem todos os homens sensatos implica um programa utilitário de todo o instinto prático e animal. Mas nós, contra tudo o que povoa a terra, temos o fulminante poder de sabermos quem somos. É aí que cabe a nossa condição, é aí que cabe a nossa interrogação, fascinante e sem limite." (Vergílio Ferreira, Carta ao futuro)
...
"Eis que, porém, depois de todas as negações, depois da falência de todas as formas de uma pacificação, o homem descobre enfim que está só. Todos os brinquedos da nossa infância milenária jazem por terra com as tripas mecânicas de fora, e depois do prazer com que os desventrámos, olhamos, aterrados, por não termos mais brinquedos para desventrar... As horas do nosso abandono ressoam no céu deserto onde só o silêncio responde ao nosso pobre pavor. É pois certo que nada mais há do que esta infinitude limitada, do que este céu recurvo onde um anseio, que projectemos, a si regressa num círculo, como um raio de luz. É pois certo que o nosso reino se descobriu enfim nos limites de um náufrago de mãos vazias e um tugúrio por construir desde o nada. Na terra desabitada, no universo desabitado, o último sol de ocaso prolonga a nossa sombra de estátuas finais que meditam. Um ciclo novo de vida se inicia agora desde o nada absoluto, onde, do mundo antigo, permanece apenas o rasto do espanto, do alarme que não finda. Porque se há uma continuidade na conquista, se os muros que sonhamos erguer para a nossa nova morada não são feitos com as pedras enegrecidas pela pobre candeia que outrora nos iluminou, se às ilusões seculares as reconhecermos como tais e esperamos que, a virem outras, elas sejam as sombras de um sol novo – é absolutamente certo que a surpresa da morte dos deuses não é o aviso da sua ressurreição, como a dor de um pai que nos morreu não é o sinal do seu regresso... Assim, que ninguém se espante do nosso espanto, nem que ninguém sonhe escravizar a nossa melancolia no seu rebanho de escravos: sobre o campo dos mortos, as searas não dão pão para os mortos, mas para os vivos. Sabemos que o céu estava vazio ao terminarmos a sua escalada. Sabemo-lo porque vimos não da luz que vem das coisas, mas da força iluminadora que irrompe de nós próprios e define a nossa presença. Que ninguém nos demonstre o nosso erro nem a nossa verdade: mais forte que toda a demonstração é a evidência feita carne e ossos e sangue e nervos, é esta plenitude sem margem de sermos. A luz que iluminou a presença dos outros, dos que nos precederam, eles a consumiram para si próprios, nesse seu modo de saberem que estavam vivos. A luz que ilumina o estarmos sendo é intransmissível como o sentirmo-nos a viver. Que ninguém nos demonstre a nossa verdade ou erro: não se demonstra o ser pedra uma pedra, o ser estrela uma estrela. Mas precisamente por isso, que ninguém nos demonstre que é incoerente e sobretudo insincero, reconhecer a evidência da morte dos deuses e estremecer na angústia de um mundo despovoado, de um universo reduzido à incrível escala humana. Como se a irredutível verdade da morte de alguém, que conhecemos, exigisse a coerência de uns olhos enxutos: mais forte que a certeza da inutilidade da dor é a absoluta presença da dor. Na ilha deserta, a aflição do abandono não reconduz o mundo que se perdeu: é o irremediável sinal de um recomeço, é o anúncio da vida de todo o homem para recriar o mundo. (Vergílio Ferreira, Carta ao futuro)
sexta-feira, agosto 13, 2010
"Adeus eterno!"
"[...] Escutei estas palavras repetidas: 'Adeus eterno!' E ainda várias vezes: "Adeus eterno!"
E então eu despertava na minha agitação, gritando: "Não quero mais dormir!"
Hoje cheguei a temer a aproximação do sonho, se me deve trazer visões tão dolorosas, cheias de uma vida tão intensa, como as que me perseguiam o cérebro cheio de fantasmas. [...]
Considerando que minha vida era mais necessária a outros do que a mim, cheguei a inquietar-me realmente, e detive-me a tempo, mas com um esforço que está a acima de qualquer descrição. Fizesse o que fizesse, parecia como se diz em termos militares, "a morte me saía à frente." Renunciar ao ópio não era de modo algum libertar-me das angústias que eram "mortais" na correcta acepção do termo; mas, por outro lado, morrer em consequência de espantos nervosos, morrer de febre cerebral ou de loucura, eis as alternativas que se me antojavam. Felizmente, ainda me restava bastante firmeza de carácter para escolher deliberadamente o partido que me imporia mais sofrimentos, mas que me mostrava ao longe a esperança de me salvar definitivamente.
Esta possibilidade realizou-se; pude escapar ao ópio. O desfecho desta nova crise nas minhas experiências achas-se descrito com bastante exactidão nas linhas seguintes, que meus amigos leitores encontraram na primeira edição destas Confissões. Se estas linhas ali se encontram, é que a crise de que falam não foi mais que um esforço provisório que aplainou o caminho para outras crises mais suportáveis, a que meu sistema constitucional se submeteu gradualmente. [...]
Lord Bacon supõe que é tão doloroso nascer como morrer. Parece provável: durante todo o tempo que consagrei ao diminuir da minha ração de ópio, sofri os tormentos de um homem que passa de um modo de existência a outro e que sente, ao mesmo tempo, ou alternadamente, as dores do nascimento e da morte. O final não foi a morte, e sim uma espécie de regeneração física; assim posso acrescentar que sempre, depois e de vez em quando, fui experimentando uma ressurreição juvenil das minhas faculdades.
Resta-me, todavia, uma herança o meu antigo estado: os meus sonos não são tranquilos. A mortal agitação e o transtorno da tempestade não se apaziguaram de todo; as legiões que acampavam no meu sonho puseram-se em marcha, mas não desapareceram inteiramente. O meu repouso é ainda incompleto, agitado; está como as portas do Paraíso, tal como as viram ao voltar-se os nossos primeiros pais; ainda está como no espantoso verso de Milton:
'Cheio de terríveis rostos e braços ameaçadores'."
(Thomas de Quincey, Confissões de um Comedor de Ópio")
[Este excerto é retirado de uma edição brasileira de Confessions of an English Opium-Eater. Recomendo, no entanto, a leitura do texto na sua língua original...]
E então eu despertava na minha agitação, gritando: "Não quero mais dormir!"
Hoje cheguei a temer a aproximação do sonho, se me deve trazer visões tão dolorosas, cheias de uma vida tão intensa, como as que me perseguiam o cérebro cheio de fantasmas. [...]
Considerando que minha vida era mais necessária a outros do que a mim, cheguei a inquietar-me realmente, e detive-me a tempo, mas com um esforço que está a acima de qualquer descrição. Fizesse o que fizesse, parecia como se diz em termos militares, "a morte me saía à frente." Renunciar ao ópio não era de modo algum libertar-me das angústias que eram "mortais" na correcta acepção do termo; mas, por outro lado, morrer em consequência de espantos nervosos, morrer de febre cerebral ou de loucura, eis as alternativas que se me antojavam. Felizmente, ainda me restava bastante firmeza de carácter para escolher deliberadamente o partido que me imporia mais sofrimentos, mas que me mostrava ao longe a esperança de me salvar definitivamente.
Esta possibilidade realizou-se; pude escapar ao ópio. O desfecho desta nova crise nas minhas experiências achas-se descrito com bastante exactidão nas linhas seguintes, que meus amigos leitores encontraram na primeira edição destas Confissões. Se estas linhas ali se encontram, é que a crise de que falam não foi mais que um esforço provisório que aplainou o caminho para outras crises mais suportáveis, a que meu sistema constitucional se submeteu gradualmente. [...]
Lord Bacon supõe que é tão doloroso nascer como morrer. Parece provável: durante todo o tempo que consagrei ao diminuir da minha ração de ópio, sofri os tormentos de um homem que passa de um modo de existência a outro e que sente, ao mesmo tempo, ou alternadamente, as dores do nascimento e da morte. O final não foi a morte, e sim uma espécie de regeneração física; assim posso acrescentar que sempre, depois e de vez em quando, fui experimentando uma ressurreição juvenil das minhas faculdades.
Resta-me, todavia, uma herança o meu antigo estado: os meus sonos não são tranquilos. A mortal agitação e o transtorno da tempestade não se apaziguaram de todo; as legiões que acampavam no meu sonho puseram-se em marcha, mas não desapareceram inteiramente. O meu repouso é ainda incompleto, agitado; está como as portas do Paraíso, tal como as viram ao voltar-se os nossos primeiros pais; ainda está como no espantoso verso de Milton:
'Cheio de terríveis rostos e braços ameaçadores'."
(Thomas de Quincey, Confissões de um Comedor de Ópio")
[Este excerto é retirado de uma edição brasileira de Confessions of an English Opium-Eater. Recomendo, no entanto, a leitura do texto na sua língua original...]
quinta-feira, agosto 05, 2010
"Tu és a terra..."
Tu és a terra em que pouso.
Macia, suave, terna, e dura o quanto baste
a que teus braços como tuas pernas
tenham de amor a força que me abraça.
És também pedra qual a terra às vezes
contra que nas arestas me lacero e firo,
mas de musgo coberta refrescando
as próprias chagas de existir contigo.
E sombra de árvores, e flores e frutos,
rendidos a meu gosto e meu sabor.
E uma água cristalina e murmurante
que me segreda só de amor no mundo.
És a terra em que pouso. Não paisagem,
não Madre Terra nem raptada ninfa
de bosques e montanhas. Terra humana
em que me pouso inteiro e para sempre.
(Jorge de Sena, Sobre esta praia...)
Macia, suave, terna, e dura o quanto baste
a que teus braços como tuas pernas
tenham de amor a força que me abraça.
És também pedra qual a terra às vezes
contra que nas arestas me lacero e firo,
mas de musgo coberta refrescando
as próprias chagas de existir contigo.
E sombra de árvores, e flores e frutos,
rendidos a meu gosto e meu sabor.
E uma água cristalina e murmurante
que me segreda só de amor no mundo.
És a terra em que pouso. Não paisagem,
não Madre Terra nem raptada ninfa
de bosques e montanhas. Terra humana
em que me pouso inteiro e para sempre.
(Jorge de Sena, Sobre esta praia...)
quarta-feira, agosto 04, 2010
...
Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.
A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte cómo eras entonces, cuando aún no existías.
De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.
Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo sólo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.
Tú estás aquí. Ah tú no huyes.
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.
Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.
Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.
Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.
Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.
(Pablo Neruda)

Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade, O Corpo)
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade, O Corpo)
terça-feira, agosto 03, 2010
...
"Eu ainda não me rendi a quantas ameaças e ataques tenho encontrado na vida. Eu não aceito a vida; eu não fujo medroso diante da vida. E a prova está nos esforços com que tento desprender-me. É que eu sinto ainda a mesma coragem, a mesma força, a mesma fé de outrora. Simplesmente sinto-as mais serenas, mais disciplinadas, mais reflectidas. Poder-se-ia acusar uma semente de não germinar, só porque a semearam sobre uma rocha estéril? Creio que não. Não, amigo, eu não falhei ainda. Eu não caí ainda." (Manuel Laranjeira, Cartas)
...
"Eu creio que não faço senão morrer a vida, tanto esta minha existência se parece com viver a morte.
Não é porque eu não sinta dentro do meu ser explodir, como um ansioso fluxo da vida, um desejo de viver também integralmente a minha vida. Mas é um fluxo momentâneo apenas. Logo os braços me caiem na inércia de quem morre e o meu olhar perde-se nas planuras longínquas dum brumoso país de tédio, de desânimo, de dúvida.
Sinto-me semelhante a uma árvore agonizante, seca, despida no meio de uma floresta viva. Tão hirto, tão seco, tão sem ilusões, me sinto no meio de tudo isto a esbracejar de saúde, de alegria de viver." (Manuel Laranjeira, Cartas)
Não é porque eu não sinta dentro do meu ser explodir, como um ansioso fluxo da vida, um desejo de viver também integralmente a minha vida. Mas é um fluxo momentâneo apenas. Logo os braços me caiem na inércia de quem morre e o meu olhar perde-se nas planuras longínquas dum brumoso país de tédio, de desânimo, de dúvida.
Sinto-me semelhante a uma árvore agonizante, seca, despida no meio de uma floresta viva. Tão hirto, tão seco, tão sem ilusões, me sinto no meio de tudo isto a esbracejar de saúde, de alegria de viver." (Manuel Laranjeira, Cartas)
...
"Sinto a desolação horrível, trágica de quem já não pode iludir-se com nada e encontra em quanto existe a infinita miséria. E sinto a verdade daquelas palavras que às vezes digo como uma síntese do meu estado de espírito: sofro da horrível desgraça do Homem que olha para a vida e sente que já não pode ser enganado..." (Manuel Laranjeira, Diário Íntimo)
"A vida hoje foi para mim, como em tantos outros dias, igual, parda, ordinária... Nestas horas assim gris, sinto a sensação penosa de que a vida se me está gastando, esgotando, imbecilmente... sem eu viver. E sinto esta ideia de pesar que hei-de morrer sem ter sabido viver a vida... Afinal o mal da nossa vida é não saber vivê-la... ou não poder." (ibid)
"A vida hoje foi para mim, como em tantos outros dias, igual, parda, ordinária... Nestas horas assim gris, sinto a sensação penosa de que a vida se me está gastando, esgotando, imbecilmente... sem eu viver. E sinto esta ideia de pesar que hei-de morrer sem ter sabido viver a vida... Afinal o mal da nossa vida é não saber vivê-la... ou não poder." (ibid)
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"Afinal, amigo, eu também nasci místico; e, quando se nasce místico, o remédio é satisfazer a sede de ideal. Nos místicos da vida o ideal chama-se virtude; nos místicos da arte chama-se beleza. Virtude e beleza, na essência, são a mesma coisa. A virtude é a ânsia de compor a vida como uma obra de arte; a beleza a ânsia de compor uma obra de arte como a vida." (Manuel Laranjeira, Cartas)
segunda-feira, agosto 02, 2010
...
"Tem razão: a paz - sobretudo a paz interior - é uma mentira para nós... e creio até que para todos os homens. De resto, se os homens soubessem que, quando a paz entra no espírito, a morte não está longe, talvez a não desejassem tanto. A vida é dolorosa e a verdade é amarga. Mas que importa? Façamos como os místicos, que, de tanto abraçarem o sofrimento, chegaram ao culto da dor. Eu por mim já me habituei de tal modo ao sabor venenoso da verdade, que ela para mim hoje constitui um tóxico indispensável. Quanto à paz... eu até me envergonhava de ser mais cobarde do que aquele meu lendário antepassado que a perdeu e perdeu o paraíso a troco daquele fruto venenoso e bom."
(Manuel Laranjeira, Cartas)
(Manuel Laranjeira, Cartas)
sexta-feira, julho 30, 2010
...
"Nunca percorri estrada que não fosse a de egoísmo, bem andada e com cinismo, mas cheguei agora ao fim, não amo os outros por eles mas por mim." (Agostinho da Silva)
...
"Há sempre alguma loucura no amor, mas há também sempre alguma razão na loucura." (Friedrich Nietzsche)
Amanhecer em Estremoz
Uma a uma a noite abria
à luz matinal das rolas
as minúsculas portas da alegria
(Eugénio de Andrade, Alentejo)
à luz matinal das rolas
as minúsculas portas da alegria
(Eugénio de Andrade, Alentejo)
quarta-feira, julho 28, 2010
...
"O amor é a dialéctica do ódio, o seu contrário especular. O amor é, com intensidades várias, a maravilha imperativa do irracional. É inegociável, tal como a (condenada) demanda de Deus entre os Seus enfermos. Tremer, no mais fundo âmago do nosso espírito, nervos e ossos, à vista, à voz, ao mais pequeno to que do ser amado; imaginar, maquinar, mentir despudoradamente para conseguir alcançar, estar perto do homem ou mulher amados; transformar a nossa existência (pessoal, pública, psicológica e material) num instante imprevisível por via e consequência do amor; suportar dor e depressões inomináveis devido à ausência do amado ou à debilitação do amor; identificar o divino com a emanação do amor, como o faz o platonismo, que é o mesmo que dizer o modelo ocidental da transcendência - é desfrutar do sacramento mais inexplicável e banal da vida humana. É, dentro do potencial de cada um, tocar a maturidade do espírito. Fazer equivaler este universo da experiência ao libidinoso, como o faz Freud, explicá-lo em termos de vantagens biogenéticas e procriadoras, são reduções quase desprezíveis. O amor pode ser o elo involuntário, culminando na autodestruição, entre indivíduos nitidamente inadequados um para o outro. A sexualidade pode ser incidental, transitória ou completamente ausente. O mais feio, mais desgraçado, mais malvado entre nós pode ser o objecto de um Eros desinteressado e apaixonado. O desejo de morrer pelo amado ou pela amiga - l'amie, como diz o francês de modo tão exacto e luminoso -, as lúcidas insanidades do ciúme, são contraprodutivas no termos de qualquer racionalização biológica (darwiniana) ou social. A famosa máxima de Pascal segundo a qual o coração tem razões que a razão desconhece acaba por privilegiar a racionalidade. Não são as 'razões' que enchem o coração. São necessidades de uma origem completamente diferente. Para além da razão, para além do bem e do mal, para além da sexualidade que, mesmo no auge do êxtase, é um acto perfeitamente menor e efémero. Esperei uma noite inteira debaixo de chuva torrencial para ter um vislumbre da amada a dobrar a esquina. Se calhar nem sequer era ela. Deus tenha piedade daqueles que nunca conheceram a alucinação de luz que preenche as trevas durante uma dessas vigílias." (George Steiner, Errata: Revisões de Uma Vida)
...
"Eu procuro o mais possível ser como o gato, o gato bem manso, de maneira que a vida venha, me pegue pelo cachaço e me leve onde isso for conveniente para a vida." (Agostinho da Silva)
...
"Voluntary dependence is the wonderful form of existence, and how could that be possible without love?" (Goethe)
terça-feira, julho 27, 2010
Há Momentos
Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.
(Clarice Lispector)
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.
(Clarice Lispector)
O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
(Mário Quintana)
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
(Mário Quintana)
...
Por vezes, em breves instantes, sinto-me tocar o sentido da vida, quando sinto que a vida não existe para ter sentido, mas antes para ser vivida...
quinta-feira, julho 22, 2010
...
"Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas: cada qual tem o seu mundo de coisas! E como podemos entender-nos, senhor, se, nas palavras que digo, ponho o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as ouve lhes dá, inevitavelmente, o sentido e o valor que elas têm para si, no mundo que traz consigo?" (Luigi Pirandello, Seis personagens à procura de um autor)
quarta-feira, julho 21, 2010
...
"Despi-me.
Mas como não tinha sono, não consegui adormecer. Fiquei deitado um bocado com os olhos fixos no escuro, naquela espessa massa escura que não tinha fundo nem cujas dimensões era possível apreender. O meu entendimento não conseguia entender. Era uma escuridão sem igual e eu sentia a sua presença exercer pressão sobre mim. Fechei os olhos, comecei a cantarolar meio alto só para mim e atirei-me uma vez e outra para cima da tarimba para me distrair, mas não me valeu de nada. A escuridão apoderou-se dos meus pensamentos e não me deixou em paz um só instante. Imagine-se que eu próprio me dissolvia na escuridão, que me fundia com ela! Ergui-me na cama e agitei os braços.
O meu estado nervoso dominava-me então por completo, por mais que tentasse contrariá-lo, não ajudava. Ali estava eu sentado, presa das mais estranhas fantasias, a mandar-me calar a mim próprio, a cantarolar canções de embalar, a transpirar pelo esforço de tentar encontrar tranquilidade. Fixei os olhos na escuridão; nunca na vida havia visto uma escuridão assim. Não havia quaisquer dúvidas de que ali me encontrava totalmente imerso numa espécie de escuridão especial, um elemento desesperado ao qual jamais alguém dera atenção antes. Ocupavam-me os pensamentos mais ridículos e tudo me fazia medo. [...]
Meu Deus, como estava escuro! E voltei a pensar no porto, nos navios, nos monstros negros que estavam ao largo, à minha espera. Queriam sugar-me para si, manter-me preso no seu seio e levar-me a navegar por mares e terras, através de reinos negros que nunca ninguém vira. Tive a sensação de encontrar-me a bordo, ser atraído para o mar, andar a pairar entre as nuvens, e afundar-me, afundar-me... Soltei um grito de angústia rouco e segurei-me com força à tarimba. Que viagem mais perigosa tinha feito, a zunir pelo espaço como uma pequena bola. Como me senti salvo, quando bati com a mão contra a tarimba dura! Morrer é assim, disse a mim próprio, agora vais morrer! Fiquei curtos instantes a pensar que ia morrer. Então levantei-me da tarimba e perguntei severamente:
- Quem disse que eu ia morrer? Se fui eu que inventei a palavra, estão estou no meu pleno direito de decidir o que ela há-de significar..."
(Knut Hamsun, Fome)
Mas como não tinha sono, não consegui adormecer. Fiquei deitado um bocado com os olhos fixos no escuro, naquela espessa massa escura que não tinha fundo nem cujas dimensões era possível apreender. O meu entendimento não conseguia entender. Era uma escuridão sem igual e eu sentia a sua presença exercer pressão sobre mim. Fechei os olhos, comecei a cantarolar meio alto só para mim e atirei-me uma vez e outra para cima da tarimba para me distrair, mas não me valeu de nada. A escuridão apoderou-se dos meus pensamentos e não me deixou em paz um só instante. Imagine-se que eu próprio me dissolvia na escuridão, que me fundia com ela! Ergui-me na cama e agitei os braços.
O meu estado nervoso dominava-me então por completo, por mais que tentasse contrariá-lo, não ajudava. Ali estava eu sentado, presa das mais estranhas fantasias, a mandar-me calar a mim próprio, a cantarolar canções de embalar, a transpirar pelo esforço de tentar encontrar tranquilidade. Fixei os olhos na escuridão; nunca na vida havia visto uma escuridão assim. Não havia quaisquer dúvidas de que ali me encontrava totalmente imerso numa espécie de escuridão especial, um elemento desesperado ao qual jamais alguém dera atenção antes. Ocupavam-me os pensamentos mais ridículos e tudo me fazia medo. [...]
Meu Deus, como estava escuro! E voltei a pensar no porto, nos navios, nos monstros negros que estavam ao largo, à minha espera. Queriam sugar-me para si, manter-me preso no seu seio e levar-me a navegar por mares e terras, através de reinos negros que nunca ninguém vira. Tive a sensação de encontrar-me a bordo, ser atraído para o mar, andar a pairar entre as nuvens, e afundar-me, afundar-me... Soltei um grito de angústia rouco e segurei-me com força à tarimba. Que viagem mais perigosa tinha feito, a zunir pelo espaço como uma pequena bola. Como me senti salvo, quando bati com a mão contra a tarimba dura! Morrer é assim, disse a mim próprio, agora vais morrer! Fiquei curtos instantes a pensar que ia morrer. Então levantei-me da tarimba e perguntei severamente:
- Quem disse que eu ia morrer? Se fui eu que inventei a palavra, estão estou no meu pleno direito de decidir o que ela há-de significar..."
(Knut Hamsun, Fome)
...
"17. And I gave my heart to getting knowledge of wisdom, and of the ways of the foolish. And I saw that this again was desire of wind. 18. Because in much wisdom is much grief, and incrase of knowledge is increase of sorrow." (Ecclesiastes, put into basic english by Ma Than É, Burma)
sexta-feira, julho 16, 2010
...
"Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself, I am large, I contain multitudes." (Walt Whitman)
quinta-feira, julho 15, 2010
...
"Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir mão." (Henry David Thoreau)
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