segunda-feira, fevereiro 22, 2021
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Proponho que se organize um encontro de colunistas especialistas na gestão de pandemias, em que cada um apresente a sua visão sobre como a atual pandemia deve ser gerida. Dado a conhecer o argumentário de cada um, deve então realizar-se uma competição entre todos, para definir o colunista vencedor e o respetivo modelo de gestão a adotar. As eliminatórias de “Pedra, papel ou tesoura” deverão ser disputadas à melhor de três. Em caso de empate, vence o colunista com a maior rede de seguidores no Facebook.
segunda-feira, janeiro 18, 2021
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Escutado agora, junto ao ecoponto:
- Estou a pensar ligar, diz aqui que são sérios...
- Se sentem necessidade de dizer que são sérios, é porque são uns aldrabões.
- Estou a pensar ligar, diz aqui que são sérios...
- Se sentem necessidade de dizer que são sérios, é porque são uns aldrabões.
domingo, dezembro 06, 2020
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Há teorias da conspiração que o tempo trata de demonstrar terem fundamento e serem verdadeiras. A maioria são apenas delírios de mentes perturbadas, mais ou menos ancoradas no real. Enquanto eterno aprendiz de “artesão da verdade”, procuro guiar-me por evidências estabelecidas, e recuso, sempre que disso tenho consciência, ou sempre que disso sou capaz, todo e qualquer “salto” ou crença infundada. Sei que basta “crer para ver”, como escreveu Vergílio Ferreira. Procuro defender-me, refletindo.
Foi-me, por isso, muito difícil, não tendo forma de comprovar as informações a que tive acesso, tomar a decisão sobre se deveria ou não partilhar o que soube de um amigo próximo que trabalha longe, no Japão, num laboratório dedicado à inovação farmacológica, operando em parceria com uma empresa controlada pela Fundação Bill e Melinda Gates. Faço-o porque a gravidade do relato assim o exige, sublinhando a importância de cada um fazer as suas próprias investigações, e tirar as suas próprias conclusões.
Deixo-vos o essencial do que me foi dito, sem entrar nos detalhes mais sórdidos, porque mais inconcebíveis:
- o plano de eliminar parte da população mundial é real;
- a Covid-19 não passa de uma gripe comum, sendo relativamente inofensiva;
- a vacina não tem como objetivo proteger do vírus SARS-CoV-2, nem prevenir a Covid-19;
- as histórias acerca do nanochip para controlar a população mundial, e acerca da alteração do DNA, são completamente falsas, fazendo parte de um enredo fabricado para suscitar a dúvida quanto à segurança da vacina, junto de parte da população;
- a vacinação será apresentada como facultativa;
- parte da população recusará ser vacinada, defendendo o seus direitos e as suas liberdades;
- uma nova doença surgirá no final de 2021, provocada por um novo agente patogénico, obviamente fabricado em laboratório, e que se dirá ter saltado para o homem a partir de um animal doméstico;
- haverá uma nova pandemia à escala mundial;
- OMS emitirá informações contraditórias e erróneas, que contribuirão para a rápida disseminação do novo vírus;
- apenas as pessoas supostamente vacinadas contra a Covid-19 sobreviverão;
- todos os conspiracionistas e negacionistas da Covid-19 morrerão vítimas da nova doença.
Foi-me, por isso, muito difícil, não tendo forma de comprovar as informações a que tive acesso, tomar a decisão sobre se deveria ou não partilhar o que soube de um amigo próximo que trabalha longe, no Japão, num laboratório dedicado à inovação farmacológica, operando em parceria com uma empresa controlada pela Fundação Bill e Melinda Gates. Faço-o porque a gravidade do relato assim o exige, sublinhando a importância de cada um fazer as suas próprias investigações, e tirar as suas próprias conclusões.
Deixo-vos o essencial do que me foi dito, sem entrar nos detalhes mais sórdidos, porque mais inconcebíveis:
- o plano de eliminar parte da população mundial é real;
- a Covid-19 não passa de uma gripe comum, sendo relativamente inofensiva;
- a vacina não tem como objetivo proteger do vírus SARS-CoV-2, nem prevenir a Covid-19;
- as histórias acerca do nanochip para controlar a população mundial, e acerca da alteração do DNA, são completamente falsas, fazendo parte de um enredo fabricado para suscitar a dúvida quanto à segurança da vacina, junto de parte da população;
- a vacinação será apresentada como facultativa;
- parte da população recusará ser vacinada, defendendo o seus direitos e as suas liberdades;
- uma nova doença surgirá no final de 2021, provocada por um novo agente patogénico, obviamente fabricado em laboratório, e que se dirá ter saltado para o homem a partir de um animal doméstico;
- haverá uma nova pandemia à escala mundial;
- OMS emitirá informações contraditórias e erróneas, que contribuirão para a rápida disseminação do novo vírus;
- apenas as pessoas supostamente vacinadas contra a Covid-19 sobreviverão;
- todos os conspiracionistas e negacionistas da Covid-19 morrerão vítimas da nova doença.
sábado, abril 18, 2020
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“Gostaria muito que as crianças do pré-escolar pudessem voltar a conviver, porque é importante que convivam sem estarem confinadas no seu espaço familiar”, revelou o primeiro-ministro, referindo-se ao desejo de reabrir as creches em Maio, antes de mais uma valente baforada no shilom incandescente.
“É bem sabida a elevada capacidade que os mais pequenos têm de respeitar o distanciamento social, bem como todas as regras de etiqueta respiratória e de higiene”, continuou, fechando as mãos sobre o cachimbo e enchendo profundamente o peito com a fumaça proveniente da combustão daquela planta asiática.
“Além disso, as evidências demonstram que o vírus é incapaz de atravessar a barreira da fralda”, concluiu, antes de expulsar o ar dos pulmões e de se deixar cair para trás, para dentro do mundo dos sonhos.
“É bem sabida a elevada capacidade que os mais pequenos têm de respeitar o distanciamento social, bem como todas as regras de etiqueta respiratória e de higiene”, continuou, fechando as mãos sobre o cachimbo e enchendo profundamente o peito com a fumaça proveniente da combustão daquela planta asiática.
“Além disso, as evidências demonstram que o vírus é incapaz de atravessar a barreira da fralda”, concluiu, antes de expulsar o ar dos pulmões e de se deixar cair para trás, para dentro do mundo dos sonhos.
quinta-feira, abril 16, 2020
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“Não havia (e não há) nada mais agradável de se ver do que uma bela mulher em movimento.”
(Rubem Fonseca, José)
(Rubem Fonseca, José)
quarta-feira, novembro 06, 2019
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Foi com grande orgulho que apresentei hoje o meu novo projeto no Web Summit: uma start-up dedicada à criação e gestão de uma nova rede, uma rede antissocial. O conceito é relativamente simples, mas bastante inovador. O utilizador pode escrever textos ou fazer upload de imagens e vídeos; depois, tem apenas uma opção: “Não Partilhar”; os conteúdos são então publicados num mural a que apenas o titular da conta tem acesso.
quinta-feira, outubro 17, 2019
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Há mães que sabem melhor que ninguém o que é realmente importante para os seus filhos. E o que é realmente importante para os seus filhos é por vezes tão imensamente importante que chega a ser mais importante que os seus próprios filhos.
domingo, agosto 25, 2019
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Agora mesmo, no café da praia:
- Não se pode contar com ele...
- É verdade: só lhe interessa aquilo que lhe interessa...
- Não se pode contar com ele...
- É verdade: só lhe interessa aquilo que lhe interessa...
domingo, janeiro 06, 2019
segunda-feira, setembro 10, 2018
Parentalidade negativa
Muito interessante, a entrevista a Minus P. Hood, um dos fundadores da “parentalidade negativa”:
- O que é a parentalidade negativa?
- A ideia passa por antecipar a formação, e potenciar o crescimento, do vazio fundamental da criança, ajudando-a a atingir precocemente a consciência da falta de sentido que sustenta a sua vida, da inequívoca indiferença do cosmos com que se confronta no seu quotidiano.
- Com que objectivo?
- No fundo, o objectivo é o de que a criança viva a primeira grande crise existencial nos primeiros anos de vida. Queremos crianças lúcidas, conscientes da sua impotência enquanto seres humanos, capazes de suportar nos ombros o seu sofrimento e o do mundo. A genuína construção começa depois da grande desilusão.
- Essa crise existencial não pode levar a que uma criança queira, por exemplo, comprar um descapotável demasiado cedo?
- O meu filho tinha três anos e chegou-me a casa com uma tatuagem. Aos quatro disse que ia viajar e a última vez que soube dele foi através de um postal com carimbo da Mongólia. Faz cinco anos no mês que vem. No fundo, é educar para a autonomia...
- O que é a parentalidade negativa?
- A ideia passa por antecipar a formação, e potenciar o crescimento, do vazio fundamental da criança, ajudando-a a atingir precocemente a consciência da falta de sentido que sustenta a sua vida, da inequívoca indiferença do cosmos com que se confronta no seu quotidiano.
- Com que objectivo?
- No fundo, o objectivo é o de que a criança viva a primeira grande crise existencial nos primeiros anos de vida. Queremos crianças lúcidas, conscientes da sua impotência enquanto seres humanos, capazes de suportar nos ombros o seu sofrimento e o do mundo. A genuína construção começa depois da grande desilusão.
- Essa crise existencial não pode levar a que uma criança queira, por exemplo, comprar um descapotável demasiado cedo?
- O meu filho tinha três anos e chegou-me a casa com uma tatuagem. Aos quatro disse que ia viajar e a última vez que soube dele foi através de um postal com carimbo da Mongólia. Faz cinco anos no mês que vem. No fundo, é educar para a autonomia...
Mindfulness
Depois de ler superficialmente alguns artigos e entrevistas, decidi reunir neste post todas as vantagens que encontro em Mindfulness, essa coisa que se pratica. Passo então a enumerar:
sexta-feira, julho 27, 2018
sexta-feira, maio 25, 2018
quinta-feira, fevereiro 22, 2018
sexta-feira, fevereiro 09, 2018
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Oiço a argumentação de um médico contra a eutanásia e quase consigo escutar, em fundo, o leve pranto dos poucos neurónios de que dispõe, pedindo a ajuda de alguém que os liberte do sofrimento...
quarta-feira, dezembro 20, 2017
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Ainda estás na fila para pedir, com gente à tua frente, mas já tens alguém a guardar a mesa, ignorando aqueles que, de tabuleiro na mão, já só procuram sentar-se? Calma, não te centres já no facto de seres desprezível. Agarra-te, isso sim, à consciência de que há algo, vê tu bem!, em que ainda podes ser melhor. Feliz Natal, crápula...
quinta-feira, dezembro 07, 2017
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O aparador nórdico conferia ao espaço uma personalidade forte, assegurava um tipo com mais de três assoalhadas.
segunda-feira, novembro 06, 2017
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O ganapo vê desenhos animados. “Ainda não houveram vítimas”, anuncia a jornalista da série de ficção, no preciso momento em que faz cair a primeira. No tempo dos Tiranossauros, já o homem assassinava a gramática..
sexta-feira, outubro 20, 2017
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Libertei-me, por fim, da terrível obrigação de acelerar o passo quando, vendo-me vir, te pões todo generoso a segurar a porta para eu passar, esperando por mim e pelo indispensável retorno da minha gratidão. A partir de hoje serás tu o escravo, condenado a esperar por não mais do que a cadência vazia e imperturbada da minha indiferença...
domingo, outubro 01, 2017
quarta-feira, julho 05, 2017
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Há pouco, no café da esquina:
- Isso é tudo mentira, tudo fabricado pela máquina de propaganda norte-americana, meu. Não te deixes enganar...
- A sério? Onde é que viste isso?
- Na Russian TV.
- Isso é tudo mentira, tudo fabricado pela máquina de propaganda norte-americana, meu. Não te deixes enganar...
- A sério? Onde é que viste isso?
- Na Russian TV.
sexta-feira, junho 23, 2017
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Há pouco, dois tipos tombados sobre o balcão do café:
- Não, ela diz que somos só amigos...
- Então já só falta serem também inimigos...
- Inimigos?
- Sim, se quiseres ter uma relação inteira, como eu. Até amanhã, pá...
- Já vais? Bebe mais uma, pago eu...
- Não posso, tenho de ir, que já não consigo ouvir a minha. Quer que eu arrume não sei quê lá em casa. Anda a chatear-me com isso há seis meses. Ah, o amor, &£$#-%€...
- Não, ela diz que somos só amigos...
- Então já só falta serem também inimigos...
- Inimigos?
- Sim, se quiseres ter uma relação inteira, como eu. Até amanhã, pá...
- Já vais? Bebe mais uma, pago eu...
- Não posso, tenho de ir, que já não consigo ouvir a minha. Quer que eu arrume não sei quê lá em casa. Anda a chatear-me com isso há seis meses. Ah, o amor, &£$#-%€...
terça-feira, maio 16, 2017
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"JÁ NÃO POSSO COM A HISTERIA EM TORNO DE ASSUNTO DETERMINADO", afirmava histericamente sujeito indeterminado. "É QUE NÃO ME INTERESSA PARA NADA", concluía, interessado em demonstrar desinteresse.
domingo, maio 07, 2017
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"Não alimente os animais", lê-se no aviso. Ao meu lado, um animal atira amendoins aos macacos. Já os macacos, respeitando o aviso, não lhe atiram nada...
segunda-feira, março 27, 2017
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Gemidos e queixumes interrompem a noite, e eu corro para o teu quarto. Não chegas a abrir os olhos... Estás quente. Afastaste a manta com que te havia coberto receando que tivesses frio. Afinal, tiveste calor. Não volto a tapar-te... Sabendo-me ajoelhado junto a ti, procuras o meu pescoço com a tua mão, braço todo estendido, em busca do consolo que encontras em ficar a beliscar-mo... Não deixo. Agarro-te a mão e fico assim, no escuro, a ver-te dormir, a minha mão a segurar a tua...
Fecho os olhos por um instante e perco o quando: subitamente, já não é a minha mão que envolve a tua mão de menino, mas é a tua mão de homem que envolve a minha mão de velho, agora rugosa, descarnada, ossuda e macilenta... E nesta visão passageira da noite que pode vir, vivo o espanto de descobrir que o amor que sinto por aquele cuja pequena mão envolvia, é o amor que sinto por aquele cuja mão agora me envolve...
Fecho os olhos por um instante e perco o quando: subitamente, já não é a minha mão que envolve a tua mão de menino, mas é a tua mão de homem que envolve a minha mão de velho, agora rugosa, descarnada, ossuda e macilenta... E nesta visão passageira da noite que pode vir, vivo o espanto de descobrir que o amor que sinto por aquele cuja pequena mão envolvia, é o amor que sinto por aquele cuja mão agora me envolve...
sexta-feira, março 17, 2017
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- Estou, sim?, é só para avisar que não vou poder ir trabalhar de manhã. Estou a acabar de ler um livro...
- Claro, eu compreendo. Lê com calma...
- Claro, eu compreendo. Lê com calma...
quarta-feira, fevereiro 22, 2017
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"Chega em março ao Porto a 'Women Summit' e levanta o estandarte da igualdade de género", diz o Expresso.
Fui saber mais: tem um painel de 18 oradoras. Todas mulheres.... ❤
Fui saber mais: tem um painel de 18 oradoras. Todas mulheres.... ❤
terça-feira, fevereiro 07, 2017
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"He may look like an idiot, and talk like an idiot, but don't let that fool you: he really is an idiot."
(Groucho Marx)
(Groucho Marx)
quinta-feira, janeiro 26, 2017
quinta-feira, janeiro 19, 2017
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Linha amarela, casal depois dos quarenta:
- Porque sorris?
- Porque compreendo, finalmente, que não tenho de sorrir...
- Porque sorris?
- Porque compreendo, finalmente, que não tenho de sorrir...
segunda-feira, janeiro 09, 2017
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Linha amarela, dois jovens debatem a existência de Deus até à frustração:
- A sério, não acredito que não acredites...
- Tem um pouco de fé...
- A sério, não acredito que não acredites...
- Tem um pouco de fé...
quinta-feira, dezembro 15, 2016
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Pizzaria, três putos minúsculos, mesa do lado:
- Não acredito no Pai Natal.
- Não acredito no Natal.
- Não acredito.
- Não acredito no Pai Natal.
- Não acredito no Natal.
- Não acredito.
sexta-feira, novembro 25, 2016
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Interpelava constantemente os seus contemporâneos, criticando-lhes o facto de não atentarem ao silêncio, de se distraírem com o espectáculo multiforme da vida. Na verdade, passava a vida distraído, atento aos seus contemporâneos. "Um dia, a gente há-de viver no presente", murmurava, ansiando o futuro...
terça-feira, outubro 18, 2016
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No jardim, passando por mim:
- Vamos todos morrer, filho...
- Então porque vai aquele senhor a correr?
- Vamos todos morrer, filho...
- Então porque vai aquele senhor a correr?
segunda-feira, setembro 26, 2016
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Há pessoas que precisam de ajuda. Se sentires que a tua missão, nesta vida, é ajudar essas pessoas, é provável que precises de ajuda. Infelizmente, não te posso ajudar.
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Passava a vida a dizer mal delas, a apontar-lhes todos os defeitos. Defeitos que conhecia bem, como só se conhece os de quem se ama...
quinta-feira, setembro 08, 2016
quarta-feira, setembro 07, 2016
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"Um ser bidimensional, sem profundidade", concluía, olhos postos nos dela. Olhos brilhantes, como espelhos, nos quais se via reflectido.
terça-feira, agosto 30, 2016
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Tasco da esquina, mesa junto ao balcão, dois tipos meio enfrascados:
- E pokémons, já caçaste algum?
- Eu? Achas-me com cara de andar atrás do que não existe? Deixei-me disso na infância, depois dos gambuzinos... E tu?
- Eu? Só muito mais tarde... Passei a adolescência toda à procura da mulher perfeita...
- E pokémons, já caçaste algum?
- Eu? Achas-me com cara de andar atrás do que não existe? Deixei-me disso na infância, depois dos gambuzinos... E tu?
- Eu? Só muito mais tarde... Passei a adolescência toda à procura da mulher perfeita...
segunda-feira, agosto 22, 2016
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"A sua arrogância era reservada, denunciando um exigente juízo sobre aquelas que considerava serem as suas limitações." (George Steiner, Errata: Revisões de Uma Vida)
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(Mercearia de bairro, centro de Lisboa, sábado passado, progenitor aproxima-se, visivelmente agitado, empurrando carrinho de bebé)
- Boa tarde, peço desculpa, rebentou-se-me o saco das compras, está tudo espalhado ali no meio da estrada, não tenho forma de levar. Não tem por aí um saco de plástico que me possa dispensar?
- Tenho: dez cêntimos...
- Boa tarde, peço desculpa, rebentou-se-me o saco das compras, está tudo espalhado ali no meio da estrada, não tenho forma de levar. Não tem por aí um saco de plástico que me possa dispensar?
- Tenho: dez cêntimos...
sexta-feira, agosto 19, 2016
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"Society grows great when old men plant trees whose shade they know they shall never sit in." (Greek proverb)
quinta-feira, agosto 11, 2016
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Eu estava com pressa e não queria chegar atrasado. Ela estava com pressa e não queria chegar atrasada. Eu estava do lado de dentro. Ela estava do lado de fora. Eu achava que não ia dar. Ela achava que podia forçar. Eu achava que não devia esperar que o condutor do metro viesse desbloquear as alavancas de emergência, accionadas quando ela ficou presa, entre portas, metade dentro, metade fora. Ela achava não sei o quê. Todos achavam que era uma vergonha, que ele era uma besta, que ela estava aflita, que levava um miúdo pela mão, e o homem ainda se põe a refilar?, não há direito... Eu estava com pressa mas vou chegar atrasado. Ela estava com pressa mas vai para o ca%$£¥@...
quarta-feira, julho 27, 2016
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"O que eu gostaria de fazer era de utilizar o tempo que aí vem agora para falar de algumas coisas que me vieram à mente. A maior parte das vezes estamos com tanta pressa que nunca temos grande oportunidade de falar. O resultado é uma espécie de infindável quotidiano superficial, uma monotonia que leva uma pessoa a perguntar-se, anos mais arde, para onde foi todo esse tempo, e a lamentar que todo ele tenha passado. Agora que dispomos realmente de algum tempo, e sabemo-lo, gostaria de usá-lo para falar com alguma profundidade de coisas que parecem importantes." (Robert M. Pirsing, Zen e a arte da manutenção de motocicletas)
quarta-feira, junho 08, 2016
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Restaurante Nova Peixaria, Centro Comercial do Campo Pequeno:
- São 7 euros, senhor. Pode dizer-me o seu nome?
- O meu nome?
- Sim, senhor...
- (Pausa) Italo...
- Como?
- Italo Calvino.
- Obrigado, senhor. Chegue-se à frente com o tabuleiro...
- São 7 euros, senhor. Pode dizer-me o seu nome?
- O meu nome?
- Sim, senhor...
- (Pausa) Italo...
- Como?
- Italo Calvino.
- Obrigado, senhor. Chegue-se à frente com o tabuleiro...
sexta-feira, maio 20, 2016
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"O fundamentalismo, esse ímpeto cego de simplificação e dos contornos infantis da disciplina imposta, está em alta. [...] A mim sempre me faltou vocação e coragem para entrar na política. Em termos aristotélicos, essa abstenção é uma imbecilidade, uma vez que dá aos bandidos, corruptos e medíocres todos os incentivos e oportunidades para tomarem o poder. A minha política resume-se a tentar apoiar qualquer ordem social que consiga reduzir, ainda que marginalmente, a soma de ódio e dor na circunstância humana. E que ofereça espaço de crescimento para a privacidade e para a excelência. Considero-me um anarquista platónico o que, bem sei, não é uma posição muito bem vista." (George Steiner, Errata: Revisões de Uma Vida)
segunda-feira, maio 02, 2016
segunda-feira, abril 18, 2016
domingo, abril 17, 2016
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"O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou." (Vergílio Ferreira, Escrever)
quinta-feira, abril 14, 2016
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"The world is a hellish place, and bad writing is destroying the quality of our suffering." (Tom Waits)
quinta-feira, abril 07, 2016
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"[...] e foi sempre na mira dos olhos dela que comecei a comer o tomate, salgando pouco a pouco o que ia me restando na mão, fazendo um empenho simulado na mordida pra mostrar meus dentes fortes como os dentes de um cavalo, sabendo que seus olhos não desgrudavam da minha boca, e sabendo que por baixo do silêncio ela se contorcia de impaciência, e sabendo acima de tudo que mais eu lhe apetecia quanto mais indiferente eu lhe parecesse, eu só sei que quando acabei de comer o tomate eu a deixei ali na cozinha e fui pegar o rádio que estava na estante lá da sala, e sem voltar pra cozinha a gente se encontrou de novo no corredor, e sem dizer uma palavra entramos quase juntos na penumbra do quarto." (Raduan Nassar, Um copo de cólera)
domingo, março 13, 2016
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"Nós somos animais de linguagem, e é este atributo que, mais do que qualquer outro, faz com que o nosso estado efémero seja suportável e profícuo. A evolução no discurso humano (possivelmente tardia), dos conjuntivos, dos optativos, dos condicionais contrafactuais e das formas verbais que exprimem o futuro (nem todas as línguas têm tempos), definiu e salvaguardou a nossa humanidade. É por sermos capazes de contar histórias, sejam elas fictícias ou matemático-cosmológicas, sobre um universo criado há biliões de anos; é por sermos capazes de, como já referi, discutir e conceber a manhã de segunda-feira depois da nossa cremação; é por os nossos «se» («Se eu ganhasse a lotaria», «Se Schubert tivesse atingido a maturidade», «Se encontrarem uma vacina contra a sida») serem capazes de, a seu bel-prazer, negarem, reconstruírem e alterarem o passado, o presente e o futuro, delineando de outro modo os determinantes da realidade pragmática; é por isto que a realidade continua a valer a pena. A esperança é a gramática." (George Steiner, Errata: Revisões de Uma Vida)
sábado, março 12, 2016
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Brandolini's law: "The amount of energy needed to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it."
sábado, fevereiro 27, 2016
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"Não há nada que alimente maior ódio nas nossas consciências do que a percepção, sugerida por outrem, de que não estamos à altura [...] Não há nada de mais insuportável do que lembrarem-nos constantemente, perpetuamente, aquilo que devíamos ser e que, evidentemente, não somos." (George Steiner, Errata: Revisões de Uma Vida)
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
quinta-feira, fevereiro 04, 2016
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"É curioso. Não creio ter já muita vida espiritual. No meu interior, tudo parece claro, sereno, vazio. São as vozes dos pássaros, é a luz avermelhada contra essa parede de órgãos barrocos, é o sabor amargo, forte e puro do café sem açúcar. Mas nem uma amargura, recordação ou inquietude. Estou suspenso num giroscópio. Estou vazio, límpido e claro.
Talvez, por fim, tenha conseguido. Talvez, por narrar, me tenha libertado."
(Lars Gustafsson, A Morte de um Apicultor)
quinta-feira, janeiro 28, 2016
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- Irrita-me essa gente que passa a vida a pôr-se em bicos dos pés...
- Não te irrites, Zé...
- Nem vergonha têm, não percebem sequer que há malta que os topa logo, de cada vez que se esticam todos...
- A maioria não topa, Zé, louva, aplaude, elogia. Nem eles próprios se topam...
- Irritam-me, se tivessem consciência de que o fazem porque se sentem pequenos, e que é isso que revelam...
- Se tivessem essa consciência já seriam um pouco maiores, Zé. Não te irrites com isso...
- Não te irrites, Zé...
- Nem vergonha têm, não percebem sequer que há malta que os topa logo, de cada vez que se esticam todos...
- A maioria não topa, Zé, louva, aplaude, elogia. Nem eles próprios se topam...
- Irritam-me, se tivessem consciência de que o fazem porque se sentem pequenos, e que é isso que revelam...
- Se tivessem essa consciência já seriam um pouco maiores, Zé. Não te irrites com isso...
domingo, janeiro 24, 2016
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Exercido o direito de voto, sou violentamente invadido por uma excitação familiar, aquela que advém da consciência de que o País nunca mais será o mesmo. Ainda trémulo, momentaneamente abalado pela visão inequívoca de um futuro melhor, cruzo-me no corredor com o hipopótamo Felisberto, que, sorumbático como sempre, aguarda impaciente a sua vez....
quarta-feira, janeiro 06, 2016
O SISTEMA
(Centro de Saúde, Lisboa)
- Vai ter de aguardar, estamos sem sistema.
- Eu tive o cuidado de marcar para agora precisamente porque não podia mais tarde. Não é possível...?
- Vai ter de aguardar, não podemos fazer nada: se não picarmos aqui como é que lá dentro sabem que o utente já está aqui à espera?
- ...
- Vai ter de aguardar, estamos sem sistema.
- Eu tive o cuidado de marcar para agora precisamente porque não podia mais tarde. Não é possível...?
- Vai ter de aguardar, não podemos fazer nada: se não picarmos aqui como é que lá dentro sabem que o utente já está aqui à espera?
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quarta-feira, dezembro 02, 2015
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Eu tenho um amigo que é radical. E tenho outro que é moderado. O meu amigo radical julga-se moderado. E acusa constantemente o meu amigo moderado de ser radical.
sexta-feira, novembro 13, 2015
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"[...] a alegria de abraçá-lo, de lhe falar, de bebermos juntos. Arrastou-me para uma espécie de boîte local, o Ferro-Velho, que é curioso porque diferente (recomendo-lhes que o visitem). Vá de ceia, com cabrito assado e muito regada. Vá de bailarico: Vergílio Ferreira dançando o ié-ié. Cantando baladas coimbrãs, um fadinho rigoroso. Tocando violão. Incendiando a mesa com anedotas picantes. Rindo-se a escâncaras e fazendo rir os mais. Saltando para um banco ao dar da meia-noite, como é o ritual. Descontraído. Todo anti-angústias. Por vezes isolando-se comigo numa palestra mais atenta. Doutrinando-me. Apanhando algumas alfinetadas cá da minha lavra. Animando a solidão em que me encontrara. Deitando à socapa olhares lúbricos a uma admiradora desconhecida [...]
Em suma: encontro original, «mas a vida está cheia do seu dom original e só espera de nós um pouco de atenção - ou não bem de atenção: um pouco de humildade, de uma íntima nudez». Se merece relato, nesta croniqueta amena, a clandestina sortida de um escritor que nos (insistentemente) aparecia confinado num mundo de pura amargura é porque vejo moralidade nisso. É para, de propósito, mais uma vez vos fazer recordar que no Escritor, tal como ele pode querer e consegue impressionar através da palavra, coabita um homem. Um corpo que não abdica de uma alegria breve."
(Luiz Pacheco, O meu fim-de-ano com Vergílio Ferreira no Ferro-Velho, farejando a «Carta ao Futuro», 'Notícia', Luanda, 10.Fev.1968)
Em suma: encontro original, «mas a vida está cheia do seu dom original e só espera de nós um pouco de atenção - ou não bem de atenção: um pouco de humildade, de uma íntima nudez». Se merece relato, nesta croniqueta amena, a clandestina sortida de um escritor que nos (insistentemente) aparecia confinado num mundo de pura amargura é porque vejo moralidade nisso. É para, de propósito, mais uma vez vos fazer recordar que no Escritor, tal como ele pode querer e consegue impressionar através da palavra, coabita um homem. Um corpo que não abdica de uma alegria breve."
(Luiz Pacheco, O meu fim-de-ano com Vergílio Ferreira no Ferro-Velho, farejando a «Carta ao Futuro», 'Notícia', Luanda, 10.Fev.1968)
quinta-feira, novembro 12, 2015
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Esplanada do café, ao meu lado:
- Amigo, desculpe, não me arranja umas moedas... (analisa timidamente a receptividade do seu interlocutor, este impassível)... ou me compra qualquer coisa para comer?
- Arranjo-lhe umas moedas, se precisa. Não sou seu pai. Não quero saber em que vai gastar o dinheiro. É adulto, faz o que entender.
- Obrigado por falar assim. Não é fácil ter de pedir na rua, aos 54 anos...
- Imagino... Não tem de quê. Tome lá, é o que tenho...
- Amigo, desculpe, não me arranja umas moedas... (analisa timidamente a receptividade do seu interlocutor, este impassível)... ou me compra qualquer coisa para comer?
- Arranjo-lhe umas moedas, se precisa. Não sou seu pai. Não quero saber em que vai gastar o dinheiro. É adulto, faz o que entender.
- Obrigado por falar assim. Não é fácil ter de pedir na rua, aos 54 anos...
- Imagino... Não tem de quê. Tome lá, é o que tenho...
quinta-feira, novembro 05, 2015
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"Com o correr dos anos, observei que a beleza, tal como a felicidade, é frequente. Não se passa um dia em que não estejamos, um instante, no paraíso."
(Jorge Luis Borges, Os Conjurados)
(Jorge Luis Borges, Os Conjurados)
quarta-feira, novembro 04, 2015
A SOMA
Diante da cal de uma parede que nada
nos impede de imaginar infinita
sentou-se um homem que premedita
traçar com rigorosa pincelada
na branca parede o mundo inteiro:
portas, balanças, sedimentos, jacintos,
anjos, bibliotecas, labirintos,
âncoras, Uxmal, o infinito, o zero.
Povoa de formas a parede. A sorte,
que em curiosos dons não é avara,
permite-lhe dar fim à sua porfia.
No preciso instante da morte
descobre que essa vasta algaravia
de linhas é a imagem da sua cara.
(Jorge Luis Borges, Os Conjurados)
nos impede de imaginar infinita
sentou-se um homem que premedita
traçar com rigorosa pincelada
na branca parede o mundo inteiro:
portas, balanças, sedimentos, jacintos,
anjos, bibliotecas, labirintos,
âncoras, Uxmal, o infinito, o zero.
Povoa de formas a parede. A sorte,
que em curiosos dons não é avara,
permite-lhe dar fim à sua porfia.
No preciso instante da morte
descobre que essa vasta algaravia
de linhas é a imagem da sua cara.
(Jorge Luis Borges, Os Conjurados)
sábado, outubro 31, 2015
...
- Mestre, desculpe-me, tenho estado a pensar: porque é que eu acredito naquilo em que acredito?
- Talvez precises de acreditar, gafanhoto. Talvez precises...
- Mestre, mas porque é que eu preciso de acreditar?
...
- Gafanhoto, repara no homem que se equilibra no topo daquela escada...
- Refere-se ao que se encontra a reparar a cobertura do templo, mestre?
- Sim, gafanhoto, esse mesmo. Aquela escada é a sua ferramenta de trabalho há mais de vinte anos, labor do qual depende o sustento da sua numerosa família. Vivendo inevitavelmente no limite das suas economias, não tem, nem terá nunca, dinheiro para comprar uma nova. Aquela terá de servir, mesmo estando já oca, âmago minuciosamente devorado por um incansável exército de insectos xilófagos.
- Mas é perigoso, mestre. Põe em risco a sua vida. Porque sobe então ele, se pode cair lá de cima a qualquer momento?
- ...
- Talvez precises de acreditar, gafanhoto. Talvez precises...
- Mestre, mas porque é que eu preciso de acreditar?
...
- Gafanhoto, repara no homem que se equilibra no topo daquela escada...
- Refere-se ao que se encontra a reparar a cobertura do templo, mestre?
- Sim, gafanhoto, esse mesmo. Aquela escada é a sua ferramenta de trabalho há mais de vinte anos, labor do qual depende o sustento da sua numerosa família. Vivendo inevitavelmente no limite das suas economias, não tem, nem terá nunca, dinheiro para comprar uma nova. Aquela terá de servir, mesmo estando já oca, âmago minuciosamente devorado por um incansável exército de insectos xilófagos.
- Mas é perigoso, mestre. Põe em risco a sua vida. Porque sobe então ele, se pode cair lá de cima a qualquer momento?
- ...
segunda-feira, julho 13, 2015
#mariacapaz
Dona Gertrudes, proprietária do café aqui da rua, cuida há anos de uma cadelinha rafeira muito simpática, que baptizou de Maria, e que tem o hábito de vadiar livremente pelo bairro e redondezas. Quando se lhe dá a sede ou a fome, é vê-la correr desconjuntadamente em direcção ao café da dona adoptiva. Três altos degraus a separam do interior do estabelecimento, onde dois pratos a aguardam, sempre, com água e ração, respectivamente. Ora, o problema é que Maria só tem três patas, vítima que foi de um atropelamento - ainda cachorra e já abandonada - frente ao tasco daquela que (veja-se a sorte a nascer do azar) viria a ser sua dona. Não é incomum dar com ela a debater-se, entre latidos e gemidos, para conseguir escalar aquela montanha em forma de escadaria. Habitual também é ver um freguês, assistindo desconfortável ao esforço da cadela pela primeira vez, levantar-se para ajudar. "Deixe estar que ela é capaz, senhor. Não se incomode que a Maria é capaz", atira dona Gertrudes de trás do balcão, invariavelmente...
sábado, julho 11, 2015
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Aquele momento em que subitamente te cruzas com João César das Neves numa livraria e em que ficas sem saber o que fazer: se um jab ou se um uppercut.
sexta-feira, julho 10, 2015
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O vídeo em que Guy Verhofstadt se dirige a Tsipras foi amplamente divulgado. Alguns cronistas da nossa praça não resistiram a dar destaque enviesado ao episódio. Nas suas prosas, descrevem um Tsipras constrangido, desconfortável, comprometido, esmagado até, perante a argumentação do agitado belga. Insinuam que o grego não teve outra hipótese se não a de se remeter a um revelador silêncio, não tendo o que responder a tão iluminada criatura. Não sei se é fundamentalismo, pura limitação, se subitamente lhes pára o cérebro, ficando incapazes de analisar com objectividade a situação, projectando no silencioso grego aquilo que desejam ardentemente que ele esteja a sentir, tal é a excitação que sobrevém (Tsipras estava, obviamente, e como manda o protocolo, a aguardar a sua vez de intervir - o vídeo do momento em que o faz está disponível); ou se é algo muito pior, já do domínio da abjecção, sobretudo quando se trata de alguém inteligente: a deliberada desonestidade intelectual. Eu teria vergonha...
quarta-feira, julho 08, 2015
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"The cradle rocks above an abyss, and common sense tells us that our existence is but a brief crack of light between two eternities of darkness. Although the two are identical twins, man, as a rule, views the prenatal abyss with more calm than the one he is headed for (at some forty-five hundred heartbeats an hour). I know, however, of a young chronophobiac who experienced something like panic when looking for the first time at homemade movies that had been taken a few weeks before his birth. He saw a world that was practically unchanged — the same house, the same people — and then realized that he did not exist there at all and that nobody mourned his absence. He caught a glimpse of his mother waving from an upstairs window, and that unfamiliar gesture disturbed him, as if it were some mysterious farewell. But what particularly frightened him was the sight of a brand-new baby carriage standing there on the porch; even that was empty, as if, in the reverse order of events, his very bones had disintegrated."
(Vladimir Nabokov, Speak, Memory: An Autobiography Revisited)
(Vladimir Nabokov, Speak, Memory: An Autobiography Revisited)
terça-feira, julho 07, 2015
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Há pouco, estive a ler uma história infantil muito bonita, que todos os pais deviam ler a seus filhos. Era sobre três meninos: Helmut, Georgios e José. Helmut, maior e mais forte, passava a vida a maltratar Georgios e José, que muito iam sofrendo com os abusos do brigão. Lamentando-se um ao outro, iam sonhando com um futuro em que, juntos, fariam frente ao brutamontes. Até que um dia, depois de mais um empurrão, e cansado de tanta humilhação, Georgios se ergue e se revolta, fazendo frente a Helmut. "Não, mais não. Chega!." José, presenciando a cena, rapidamente se demarca de Georgios. Repudiando-o veementemente pela sua afronta, faz saber a Helmut que, depois da sova merecida que deverá dar a Georgios, gostaria também muito de levar a sua.
quarta-feira, junho 03, 2015
Louro, o "jornalista"
Gostava de dedicar o seguinte microconto à autora das reportagens sobre exorcismos e possessões demoníacas publicadas no jornal 'i' no passado sábado:
Louro, o "jornalista"
Na papelaria da zona onde habito,
há um papagaio que repete o que lhe é dito.
Louro, o "jornalista"
Na papelaria da zona onde habito,
há um papagaio que repete o que lhe é dito.
sábado, maio 30, 2015
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Boris: Nothingness. Non-existence. Black emptiness.
Sonja: What did you say?
Boris: Oh, I was just planning my future.
(Woody Allen, Life and Death)
Sonja: What did you say?
Boris: Oh, I was just planning my future.
(Woody Allen, Life and Death)
quinta-feira, maio 28, 2015
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"Pois se existe um pecado contra a vida, talvez não seja tanto o de desesperar com ela, mas o de esperar uma outra vida, furtando-se assim à implacável grandeza desta."
(Albert Camus, Núpcias)
(Albert Camus, Núpcias)
quarta-feira, maio 27, 2015
você é a melhor coisa
amor,
você é a melhor coisa que já me aconteceu
de longe você é a melhor coisa que deus me deu
e isso pode te dar uma ideia
[ainda que vaga]
da grande merda que tem sido a minha vida
(Geruza Zelnys, Esse livro não é pra você)
você é a melhor coisa que já me aconteceu
de longe você é a melhor coisa que deus me deu
e isso pode te dar uma ideia
[ainda que vaga]
da grande merda que tem sido a minha vida
(Geruza Zelnys, Esse livro não é pra você)
quinta-feira, maio 21, 2015
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No restaurante, ao meu lado:
- Mãe, não me apetece mais...
- Se não comeres tudo chamo o subcomissário Filipe Silva.
- Mãe, não me apetece mais...
- Se não comeres tudo chamo o subcomissário Filipe Silva.
quarta-feira, maio 20, 2015
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Carente de orientação espiritual, decidi inteirar-me da oferta de guias disponíveis, e, só assim de rajada, dei de caras com a taróloga e astróloga Maria Helena, animando as manhãs da SIC com a sua varinha mágica, com a Alexandra Solnado, que vai publicando no Facebook aquilo que Jesus lhe confidencia directamente, e com o Pe. Sousa Lara, grande exorcista que vem alertando para o avanço das forças diabólicas, enquanto afugenta demónios nas traseiras do Santuário de Lamego.
Necessitado que estava de consolo para este pobre espírito, em vez de escolher um dos três, decidi adoptá-los a todos. Se posso seguir um trio de iluminados, porque hei-de contentar-me com apenas um? Assim fiz, e de imediato comecei a agir de acordo com os seus ensinamentos. Mas a verdade é que, à medida que ia aprofundando os meus conhecimentos acerca daquilo que professam, foram chegando os problemas.
Ora, a taróloga e astróloga Maria Helena, além de oferecer amuletos em barda, dá consultas de tarô, reiki, astrologia, cura cármica, quiromancia e limpeza energética. Como se isso não bastasse, fala constantemente em Jesus Cristo, na Virgem e nos santos e apóstolos, oferecendo orações para os mais variados propósitos- o que é excelente, porque embora trabalhe com ferramentas mais esotéricas, mantém a ligação a essa forma eclesiástica de acesso ao divino. Algo que me parece dar-lhe força, dada a evidente riqueza de competências, e acrescentar-lhe credibilidade, por não renegar uma certa tradição.
O problema é que o Pe. Sousa Lara (repito: padre), responsável por distribuir a Palavra, avisou recentemente que as pessoas recorrem em massa a videntes, bruxos, tarô, terreiros, astrologia, reiki e ioga, sem o saberem, estão a abrir portas do mundo espiritual à entrada do demónio. Até usam imagens de Cristo, acusa o sacerdote. Um católico não deve, nem pode, recorrer a qualquer forma de adivinhação. A Bíblia condena essas práticas em várias passagens e qualquer adivinhação tem por detrás uma ligação ao demónio, alerta...
Pois desconfio que a senhora Maria Helena faça parte das personagens visadas pelo sacerdote nas suas palavras. Assim sendo, depositei então as minhas esperanças na Alexandra, com quem Jesus comunica directamente...
Diga-se que não ajudou grande coisa. Ora, se Jesus até a trata por "cabrita", o que me parece extremamente intimista, porque razão coloca Alexandra na sua página de Facebook as palavras que Ele lhe diz acompanhadas por imagens de pessoas em posições de ioga? Porque é que Ele não a avisa, se aquilo se trata afinal de disciplina demoníaca? E se, como afirma o Pe. Sousa Lara, essas actividades esotéricas contribuem para o aumento das possessões demoníacas, como se explica que Jesus tenha escolhido a Alexandra para comunicar connosco, uma pessoa que faz regressões a vidas passadas, cursos de astrologia evolutiva, limpezas espirituais e massagens de luz?
Enquanto vou reflectindo acerca destas questões, bebo uma mini, que se me não acaba com as dúvidas, mata pelo menos a sede...
Necessitado que estava de consolo para este pobre espírito, em vez de escolher um dos três, decidi adoptá-los a todos. Se posso seguir um trio de iluminados, porque hei-de contentar-me com apenas um? Assim fiz, e de imediato comecei a agir de acordo com os seus ensinamentos. Mas a verdade é que, à medida que ia aprofundando os meus conhecimentos acerca daquilo que professam, foram chegando os problemas.
Ora, a taróloga e astróloga Maria Helena, além de oferecer amuletos em barda, dá consultas de tarô, reiki, astrologia, cura cármica, quiromancia e limpeza energética. Como se isso não bastasse, fala constantemente em Jesus Cristo, na Virgem e nos santos e apóstolos, oferecendo orações para os mais variados propósitos- o que é excelente, porque embora trabalhe com ferramentas mais esotéricas, mantém a ligação a essa forma eclesiástica de acesso ao divino. Algo que me parece dar-lhe força, dada a evidente riqueza de competências, e acrescentar-lhe credibilidade, por não renegar uma certa tradição.
O problema é que o Pe. Sousa Lara (repito: padre), responsável por distribuir a Palavra, avisou recentemente que as pessoas recorrem em massa a videntes, bruxos, tarô, terreiros, astrologia, reiki e ioga, sem o saberem, estão a abrir portas do mundo espiritual à entrada do demónio. Até usam imagens de Cristo, acusa o sacerdote. Um católico não deve, nem pode, recorrer a qualquer forma de adivinhação. A Bíblia condena essas práticas em várias passagens e qualquer adivinhação tem por detrás uma ligação ao demónio, alerta...
Pois desconfio que a senhora Maria Helena faça parte das personagens visadas pelo sacerdote nas suas palavras. Assim sendo, depositei então as minhas esperanças na Alexandra, com quem Jesus comunica directamente...
Diga-se que não ajudou grande coisa. Ora, se Jesus até a trata por "cabrita", o que me parece extremamente intimista, porque razão coloca Alexandra na sua página de Facebook as palavras que Ele lhe diz acompanhadas por imagens de pessoas em posições de ioga? Porque é que Ele não a avisa, se aquilo se trata afinal de disciplina demoníaca? E se, como afirma o Pe. Sousa Lara, essas actividades esotéricas contribuem para o aumento das possessões demoníacas, como se explica que Jesus tenha escolhido a Alexandra para comunicar connosco, uma pessoa que faz regressões a vidas passadas, cursos de astrologia evolutiva, limpezas espirituais e massagens de luz?
Enquanto vou reflectindo acerca destas questões, bebo uma mini, que se me não acaba com as dúvidas, mata pelo menos a sede...
quinta-feira, abril 30, 2015
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Uma jovem lê 1984, de George Orwell. Ao seu lado, uma outra, pouco mais velha, joga Candy Crush. A humanidade inteira viaja na linha azul do metropolitano...
terça-feira, abril 14, 2015
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"QUALQUER MANEIRA DE COMEÇAR É UMA BOA MANEIRA DE COMEÇAR. (De um manual arcaico de contadores de histórias.)
Tenho cinquenta e oito anos, um clássico da literatura à minha esquerda, sobre a mesa, fumo uma cigarrilha, estou forrado de roupão, de tranquilidade - e do silêncio um pouco embaciado pelo fumo, raspado lá fora por pneus que rangem. O som dos taipais corridos de repente, uma buzina estridente e ilegal, e a voz, feita de arranques e de paragens, do meu irmão, com movimentes de mãos e surpresas na cara, como fazia o Mickey Rooney, isso foi optem: quando este livro já andava no ar, como pássaro de papel, no espaço escolhido e geométrico de uma casa instalada na solidão da noite. Sinto-me só e decidido a apresentar, na travessia dos anos, as poucas artes fundamentais do meu papel em palcos do embaraço, do desembaraço, do alvoroço e do medo. Aceite o leitor: há privilégios habitualmente pequenos e duráveis, no reino dos olhos quietos e das horas de espanto, da música, da prata que mora nas salinas, ou que cintila em mares surpreendentes, nas árvores outonais, com folhas que voam na direcção do Inverno, ficando naturalmente pelo caminho, o frio e a lareira dos antepassados, parados numa gravura de parede, os dedos nos cabelos, a palavra no ouvido, a água pesada da mágoa do mundo, depois a dos teus olhos - inocente.
(Duas horas da manhã. As palavras procuram-se. A Dulce dorme lá dentro. Sossegadamente, espero.)
Nos últimos tempos, a minha relação com os outros (e com o mundo) é alterada amiúde pelas pausas em que me coloco - blocos de navegação onde, à deriva, a solidão trabalha. Pontos de apoio, ou de resguardo, quilhas do barco onde vou - podem ser objectos, lugares, um livro, uma conversa, a carta da minha filha que estremece nas minhas mãos, quando chega, ou um terraço de localização indefinida, onde gira eternamente a roda de uma velha bicicleta à luz da estrelas."
(Dinis Machado, Reduto quase final)
Tenho cinquenta e oito anos, um clássico da literatura à minha esquerda, sobre a mesa, fumo uma cigarrilha, estou forrado de roupão, de tranquilidade - e do silêncio um pouco embaciado pelo fumo, raspado lá fora por pneus que rangem. O som dos taipais corridos de repente, uma buzina estridente e ilegal, e a voz, feita de arranques e de paragens, do meu irmão, com movimentes de mãos e surpresas na cara, como fazia o Mickey Rooney, isso foi optem: quando este livro já andava no ar, como pássaro de papel, no espaço escolhido e geométrico de uma casa instalada na solidão da noite. Sinto-me só e decidido a apresentar, na travessia dos anos, as poucas artes fundamentais do meu papel em palcos do embaraço, do desembaraço, do alvoroço e do medo. Aceite o leitor: há privilégios habitualmente pequenos e duráveis, no reino dos olhos quietos e das horas de espanto, da música, da prata que mora nas salinas, ou que cintila em mares surpreendentes, nas árvores outonais, com folhas que voam na direcção do Inverno, ficando naturalmente pelo caminho, o frio e a lareira dos antepassados, parados numa gravura de parede, os dedos nos cabelos, a palavra no ouvido, a água pesada da mágoa do mundo, depois a dos teus olhos - inocente.
(Duas horas da manhã. As palavras procuram-se. A Dulce dorme lá dentro. Sossegadamente, espero.)
Nos últimos tempos, a minha relação com os outros (e com o mundo) é alterada amiúde pelas pausas em que me coloco - blocos de navegação onde, à deriva, a solidão trabalha. Pontos de apoio, ou de resguardo, quilhas do barco onde vou - podem ser objectos, lugares, um livro, uma conversa, a carta da minha filha que estremece nas minhas mãos, quando chega, ou um terraço de localização indefinida, onde gira eternamente a roda de uma velha bicicleta à luz da estrelas."
(Dinis Machado, Reduto quase final)
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"Escrevo porque não tenho porte de arma de fogo. Escrevo porque não ganhei um autorama no natal de 1992. Escrevo porque o Silvio Santos não leu as cartas que mandei para o programa Porta da Esperança. Já criei centenas de definições para literatura e descobri que escrever é apenas uma forma de domesticar o animal que mora no zoológico interno. Fazer carinho no bicho raivoso que rosna dentro da gente. Uma necessidade. Uma doença sem nome. E que solidão é o Posto Ipiranga para abastecimento do tanque lírico. Que solidão é o tempo para ideias surgirem como temporais que destelham casas. Não tenho horário para escrever. Sou um eterno combatente do tédio. Estou sempre estancando o vazio ruminando ideias. Sempre escrevendo no parquinho do cérebro. Qualquer mentira escutada na rua é motivo para confabular poemas, contos e roteiros. Impossível não pensar em fazer literatura num mundo que só te oferece mentiras. A saída é sempre criar mentiras com asas. Nunca fui de ter crises criativas, os socos que a vida nos dá na cara é sempre inspiração. Literatura é cão que se alimenta da ração das tragédias alheias. Bem aventurado aquele que desconta as decepções da vida escrevendo versos. Dia desses atravessei o porto de Manaus e vi crianças brincando numa canoa furada no Rio Negro. Uma hora a canoa sumiu nas águas e pensei: “escrever é apenas uma forma de naufragar lentamente. Literatura é naufrágio e o barco é você mesmo”. As crianças choraram e eu fui para o bar cheio de lindezas para um conto. O escritor é um náufrago pedindo socorro. O lance é seguir em frente colecionando catástrofes e transformando em poesia."
(Diego Moraes)
(Diego Moraes)
segunda-feira, abril 13, 2015
sexta-feira, março 27, 2015
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"Os homens e as sociedades definem-se tanto ou mais pelo que calam, que pelo que dizem."
(Jorge de Sena, O Tempo e O Modo, Junho de 1963)
(Jorge de Sena, O Tempo e O Modo, Junho de 1963)
terça-feira, março 03, 2015
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"The point of marriage is not to create a quick commonality by tearing down all boundaries; on the contrary, a good marriage is one in which each partner appoints the other to be the guardian of his solitude, and thus they show each other the greatest possible trust. A merging of two people is an impossibility, and where it seems to exist, it is a hemming-in, a mutual consent that robs one party or both parties of their fullest freedom and development. But once the realization is accepted that even between the closest people infinite distances exist, a marvelous living side-by-side can grow up for them, if they succeed in loving the expanse between them, which gives them the possibility of always seeing each other as a whole and before an immense sky."
(Rainer Maria Rilke, Letters to a Young Poet)
(Rainer Maria Rilke, Letters to a Young Poet)
segunda-feira, março 02, 2015
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"I judge the maturity of the human being by the refuse to confess. To be a grownup is not to share certain things with others."
(George Steiner)
(George Steiner)
sexta-feira, fevereiro 20, 2015
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"Por vezes, à beira-mar, no perpétuo movimento das águas e no eterno fugir do vento, sinto o desafio que a eternidade me lança."
(Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer)
(Stig Dagerman, A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer)
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É esgotante, a luta que um tipo tem de travar contra o corrector automático para conseguir escrever o quer. Fifa-se... Fofa-se...
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"They are continually asking Art to be popular, to please their want of taste, to flatter their absurd vanity, to tell them what they have been told before, to show them what they ought to be tired of seeing, to amuse them when they feel heavy after eating too much, and to distract their thoughts when they are wearied of their own stupidity. Now Art should never try to be popular. The public should try to make itself artistic."
(Oscar Wilde, The Soul of Man under Socialism)
(Oscar Wilde, The Soul of Man under Socialism)
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“When we realize that words can destroy something good, wonderful, and dear, and that by keeping silent we can avoid causing the least damage or harm, it’s easy to stay silent.”
(Robert Walser, Masquerade and Other Stories)
(Robert Walser, Masquerade and Other Stories)
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Manhã cedo, entre sonhos: abro os olhos e vejo, aos pés do meu beliche, um tipo sentado no chão, pernas cruzadas, costas direitas, aparentando meditar...
A cena passou-se há mais de 15 anos, numa pousada da juventude em Itália, julgo que em Florença, mas disso já não estou certo...
Segurei a custo as sobrancelhas até que terminasse o ritual, simulei uma vitalidade inexistente, e perguntei-lhe o que havia estado a fazer sentado no chão àquela hora - e sobretudo porquê...
Recordo o sorriso que me devolveu... Levantar-se cedo para meditar - explicou-me benevolentemente, já não sei em que idioma - ajudava-o a resolver os seus problemas, e a encontrar o equilíbrio. Encenou uma pequena vénia, desejou-me um bom dia, e partiu resolvido...
Permaneci deitado na obscuridade, língua encortiçada pela noite de excessos, mastigando a inquietação decorrente da proposta que me havia sido apresentada. Felizmente, e apesar da escassez conjuntural de sinapses, não demorei muito a concluir que o processo não poderia nunca ser aplicado à minha pessoa. Ora, se me levantasse cedo para meditar e resolver os meus problemas, deixaria de ser preciso meditar, já que o meu principal problema era, à época, a incapacidade de me levantar cedo. E se deixasse de ser preciso meditar, porque me haveria de levantar cedo?...
Apaziguado pela impossibilidade lógica de enveredar por esse penoso caminho da disciplina matinal, recordo-me por último de ter ajeitado a almofada antes de regressar à procura paciente do meu equilíbrio, mas na horizontal...
A cena passou-se há mais de 15 anos, numa pousada da juventude em Itália, julgo que em Florença, mas disso já não estou certo...
Segurei a custo as sobrancelhas até que terminasse o ritual, simulei uma vitalidade inexistente, e perguntei-lhe o que havia estado a fazer sentado no chão àquela hora - e sobretudo porquê...
Recordo o sorriso que me devolveu... Levantar-se cedo para meditar - explicou-me benevolentemente, já não sei em que idioma - ajudava-o a resolver os seus problemas, e a encontrar o equilíbrio. Encenou uma pequena vénia, desejou-me um bom dia, e partiu resolvido...
Permaneci deitado na obscuridade, língua encortiçada pela noite de excessos, mastigando a inquietação decorrente da proposta que me havia sido apresentada. Felizmente, e apesar da escassez conjuntural de sinapses, não demorei muito a concluir que o processo não poderia nunca ser aplicado à minha pessoa. Ora, se me levantasse cedo para meditar e resolver os meus problemas, deixaria de ser preciso meditar, já que o meu principal problema era, à época, a incapacidade de me levantar cedo. E se deixasse de ser preciso meditar, porque me haveria de levantar cedo?...
Apaziguado pela impossibilidade lógica de enveredar por esse penoso caminho da disciplina matinal, recordo-me por último de ter ajeitado a almofada antes de regressar à procura paciente do meu equilíbrio, mas na horizontal...
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[...] I wish this paper would go on forever and never run out and I could just keep talking to you. Just know I’m with you. Every stream, every lake, every field and river. In the woods and in the hills, in all the places you showed me. I love you."
(Peter Kassig)
(Peter Kassig)
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“In the course of my work with the most violent men in maximum-security settings, not a day goes by that I do not hear reports – often confirmed by independent sources – of how these men were victimized during childhood. Physical violence, neglect, abandonment, rejection, sexual exploitation and violation occurred on a scale so extreme, so bizarre, and so frequent that one cannot fail to see that the men who occupy the extreme end of the continuum of violent behavior in adulthood occupied an equally extreme end of the continuum of violent child abuse earlier in life.”
(James Gilligan, M.D., Violence, 1996, Random House / Vintage Books, p. 45)
(James Gilligan, M.D., Violence, 1996, Random House / Vintage Books, p. 45)
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"Zen question: If a man speaks in a forest but no woman hears him, is he still wrong?"
(Maura O'Connell)
(Maura O'Connell)
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"Antes de ser operado da primeira vez (foi uma operação muito comprida, de bastantes horas, porque tiraram o intestino e também o apêndice, a vesícula, aquilo já tinha apanhado várias coisas, bexiga e por aí fora), eu estava na sala para entrar, na maca, à espera da anestesia final e, de repente, sinto que me estão a dar a mão. Era o cirurgião. Não imagina como foi importante para mim. Ele ficou de mão dada comigo até adormecer. E, então, pensei: «Bolas, a função da literatura é esta: estar ali com uma mão apertada na nossa.»"
(António Lobo Antunes em entrevista à edição de Dezembro de 2014 da revista Ler)
(António Lobo Antunes em entrevista à edição de Dezembro de 2014 da revista Ler)
...
"Do seu longínquo reino cor-de-rosa,
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.
À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia. [...]"
(Pois claro, Fernando...)
Voando pela noite silenciosa,
A fada das crianças vem, luzindo.
Papoulas a coroam, e, cobrindo
Seu corpo todo, a tornam misteriosa.
À criança que dorme chega leve,
E, pondo-lhe na fronte a mão de neve,
Os seus cabelos de ouro acaricia —
E sonhos lindos, como ninguém teve,
A sentir a criança principia. [...]"
(Pois claro, Fernando...)
...
"In the head of the interrogated prisoner, a haze begins to form. His spirit is wearied to death, his legs are unsteady, and he has one sole desire: to sleep... Anyone who has experienced this desire knows that not even hunger and thirst are comparable with it."
(Menachem Begin, White nights: the story of a prisoner in Russia)
(Menachem Begin, White nights: the story of a prisoner in Russia)
...
"He seems altogether exempt from the ambition of making a book, and conveys his information briefly and plainly, with the air of a man who writes, not because he wants to say something, but because he has something to say." (The London Quarterly Review, Volume 23)
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